Por Heloísa Marta Nogueira Rodrigues
Meus avós maternos marcaram minha infância e minha vida. Eles possuíam uma casa bem grande com portas altas que algumas casas antigas possuem e nós (eu e minhas irmãs) passávamos o dia lá e à tarde voltávamos para nossa casa. Lá, existia uma sala linda, bem arejada, com os móveis todos feitos de cipó e pintados de azul e nas paredes, quadros de nossos antepassados e algumas “folhinhas” de mulheres em trajes sumários (que, diga-se de passagem, meu avô adorava!!!).
Existia um quintal enorme, com diferentes tipos de frutas, como cacau, por exemplo, que tínhamos de chupar as sementes e guardá-las para depois secá-las. Era tudo tão farto, comíamos galinha quase todos os dias e, para dar uma corzinha ao refogado, urucu. Os legumes eram todos da horta de minha avó.
Até hoje, ainda lembro do vovô Juca nos chamando para o jantar às seis da tarde e para dormir às setes e meia (é que às vezes dormíamos por lá) e levantávamos cedo, pois vovô encarregava-se disso.
Meu avô era um homem bonito, usava chapéu “Panamá” ao sair de casa e hoje eu descobri que ele parecia um galã de cinema dos anos 50, de tão charmoso que era. Vovô, na época delegado de polícia do nosso município, era muito temido na cidade, não costumava ingerir álcool (exceto seu licor de jenipapo em um pequeno cálice, antes do almoço como forma de abrir o apetite), não fumava e tinha uma amante, talvez tenha sido essa a sua fórmula de ter vivido tanto, pois morreu com cento e dois anos de idade.
Já minha avó Alice, era uma criatura aparentemente frágil, extremamente dedicada ao marido, religiosa, ao ponto de não perder uma missa e devota de vários santos, adorava criar galinhas, bordar e costurar nas horas vagas. Apesar de sua aparente fragilidade era a matriarca da família, todos se curvavam diante de suas vontades.
Por volta das três da tarde, tomávamos banho e bebíamos café bem forte com beiju ou farinha de tapioca, nessa ocasião mamãe vinha nos buscar para irmos pra casa, e no outro dia voltávamos, e tudo acontecia novamente.
Hoje, lembrando de como era tão diferente a minha vida, penso que eu era feliz e não sabia.
Marta é minha amada irmã, quinta filha de Benedita e José, a segunda das três mulheres.