Precisamos falar do Botafogo

POR GERSON NOGUEIRA

Caso vença o Goiás, hoje, pela 6ª rodada do Campeonato Brasileiro da Série A, o Botafogo consolida a campanha 100% e a liderança invicta. Mais ainda: bate o recorde de vitórias consecutivas na competição. Nenhum outro clube conseguiu ir além de cinco vitórias seguidas.

É uma façanha respeitável, como tem sido a própria trajetória do Botafogo no campeonato. Sob descrença geral, até da própria torcida, normalmente ressabiada, o time saiu de uma participação pífia no Campeonato Carioca para um comportamento impecável no Brasileiro.

Pode-se botar isso na conta da velha máxima de que há coisas que só acontecem ao Botafogo. Nesta situação específica, o sentido da frase é positivo. Nem precisa dizer quanto tempo fazia que o Glorioso não brindava a torcida com notícias tão boas.

A liderança não vinha desde o Brasileiro de 1995, do time de Túlio Maravilha e Donizete Pantera, aquele do título brasileiro. Aliás, é uma boa lembrança. Embala os sonhos mais grandiosos da nação alvinegra.

Esperar que o time de Luís Castro preserve a mentalidade vitoriosa e siga altaneiro rumo à conquista, superando adversários mais poderosos, não deixa de ser um exercício de otimismo. É preciso ter os pés no chão, mas com aquele sentimento silencioso de que é possível chegar lá.

Quase todo botafoguense olha para boas trajetórias do Botafogo com um quê de ceticismo. Decepções antigas e recentes forjaram um estado de espírito centrado na incredulidade. Mesmo quando tudo está indo bem, as dúvidas vêm e vão, como blindagem natural contra a euforia.

Desta vez, não é muito diferente. O time era cotado para permanecer no bloco intermediário, em condições de brigar por uma vaga na Sul-Americana ou, com muita sorte, um lugar na Libertadores.

Só que os jogos foram acontecendo e o Botafogo desandou a bater em todo mundo. São Paulo, Bahia, Flamengo, Atlético-MG e Corinthians. Dois deles – Fla e Galo – apontados como legítimos aspirantes ao título.  

Falta muita coisa (33 jogos, ao todo), a competição pode e vai sofrer muitas reviravoltas, mas é importante que o Botafogo esteja fazendo bonito e restituindo orgulho ao seu torcedor. É visível a cada jogo a evolução técnica, turbinado pela confiança que vem junto com as vitórias.

A performance coletiva faz brotar a qualidade individual, o que destaca alguns jogadores – Tiquinho, Eduardo, Marçal e Tchê Tchê. Lembra, repito, assim meio de longe, aquele grupo campeão de 1995 comandado por Paulo Autuori, mas  é melhor não ficar falando nisso.

Leão tenta se reerguer dentro do Brasileiro

Parte da torcida anda desconfiada com a caminhada do Remo na Série C. O desempenho nos primeiros jogos deixou muitas dúvidas quanto ao potencial da equipe treinada por Marcelo Cabo. Do ar confiante que pairava sobre o Baenão até o confronto com o Cametá, pela semifinal do Parazão, pouco restou após as derrotas para São Bernardo e Botafogo-PB.

O tropeço em casa, na segunda rodada, deixou um gosto mais amargo. Ficou a sensação de que o time não está conseguindo jogar conforme a cartilha da competição, que exige foco, entrega e muita transpiração.

Os comandados de Marcelo Cabo jogam como quem não tem pressa, acreditando que o jogo será ganho sem esforço. Como os demais times, mesmo os mais limitados, estão empenhados em pontuar, as coisas ficam difíceis para equipes que não têm atitude vencedora.

A semana foi utilizada para treinar e rever estratégias, mas, acima de tudo, para adotar nova postura. Neste domingo, contra o reforçado Amazonas, o Remo terá a oportunidade de mostrar que de fato está mudado.

O confronto é desafiador. Os amazonenses vêm como franco-atiradores, sabendo que podem tirar partido do desespero azulino por uma vitória. Ao abraçar uma estratégia ofensiva, o Remo se expõe aos contra-ataques.

A situação mais confortável é impor o jogo e sufocar desde o início, não permitindo ao visitante se sentir confortável. O problema é que o Remo não atua assim. Mesmo quando fez suas melhores apresentações, o time jogou de forma cadenciada e trocando passes até achar espaço na defesa adversária.

Caso queira ter sucesso na Série C, terá que modificar essas características. Com a torcida presente, empurrando o time e cobrando gols, será quase impossível manter o estilo pouco agressivo. É aí que se concentra a esperança de uma vitória reabilitadora.

Bola na Torre

Guilherme Guerreiro comanda o programa, a partir das 22h30, na RBATV, com participação de Giuseppe Tommaso e deste escriba baionense. Em debate, a Série C, a Copa Verde e as finais do Parazão. A edição é de Lourdes Cezar.

Papão decide o 3º lugar impactado pelo vexame

Uma goleada de 5 a 0 não é fácil de esquecer, nem simples de superar. O PSC, derrotado fragorosamente pelo Ypiranga-RS, na quinta-feira, nem teve muito tempo para descansar. Chegou na sexta-feira à noite e viajou sábado para Cametá, a fim de jogar neste domingo.

Sete jogadores que têm atuado na Série C não foram inscritos e estão fora da decisão do 3º lugar do Parazão. De qualquer maneira, o técnico Marquinhos Santos tem Geovani, PH e João Vieira para o meio; no ataque, pode escalar Mário Sérgio, Vinícius Leite e Luís Phelipe.

Mesmo traumatizado, o time terá pela frente um Cametá desfigurado. Cinco jogadores, incluindo o artilheiro Pilar, deixaram o clube. No aspecto técnico, o PSC tem mais elenco e time. A dúvida é se o emocional está em ordem para iniciar bem a disputa, que vale vaga na Copa do Brasil.  

(Coluna publicada na edição do Bola deste domingo, 14)

Rock na madrugada – Titãs, “Igreja”

Música forte, que resistiu ao tempo, mas que virou uma espécie de rock “maldito” da discografia da banda. Quando ficou pronta, com seus versos anticlericais, ninguém topou cantar. Autor da canção, Nando Reis assumiu a responsabilidade nas gravações do álbum “Cabeça Dinossauro” (1986) e cantou nos shows. No livro “A Vida até parece uma festa: a história completa dos Titãs”, os autores Hérica Marmo e Luiz André Alzer revelam que, apesar do perfil democrático do grupo, “Igreja” causou desconforto na hora da habitual votação sobre quais músicas entrariam ou seriam vetadas do disco.

“A música entrou no disco porque eles acharam que tinha tudo a ver com o conceito do disco. Essa questão do Arnaldo Antunes é porque ele dizia que não se sentia à vontade para dizer ‘Eu não gosto de Cristo’ da mesma maneira que não se sentia à vontade para dizer ‘Eu gosto de Cristo’. Ele achava que era um assunto desconfortável, mas ele aceitou que a banda gravasse”, contam os biógrafos oficiais da banda.

Por se sentir desconfortável, Arnaldo saía do palco quando a música era tocada. Alguns críticos dizem que ele passou a não deixar o palco depois que o Caetano Veloso cantou o hit com os Titãs em um especial da Rede Globo. Os próprios companheiros diziam, sacaneando, que depois do aval de Caetano, Arnaldo mudou de ideia. Para ele, porém, a explicação é outra: contou que já andava cansado de ser chamado de carola e que o protesto não fazia mais sentido.

Composta como um brado de liberdade e rebeldia, “Igreja” foi escrita como resposta a um artigo em que Roberto Carlos defendia a censura ao filme “Je Vous Salue, Marie”, de Jean-Luc Godard. Foi a última faixa aprovada para “Cabeça Dinossauro” e irrompe com grande destaque no setlist da atual turnê de reencontro dos Titãs, cantada por Nando, com Arnaldo, Branco Melo, Paulo Miklos nos vocais de apoio.