Uma estreia marcada pelo caos

POR GERSON NOGUEIRA

Por obra e graça do caos gerencial que se instalou no futebol do clube, o PSC estreia hoje no Brasileiro da Série C ainda sem o comando do novo técnico, Marquinhos Santos, e cheio de dúvidas até sobre a escalação do time que enfrentará o Aparecidense, na Curuzu.

O cenário não poderia ser mais tumultuado. Para quem elegeu a Série C como competição prioritária do calendário, soa bizarro permitir que os erros de contratação e a demora na substituição de Márcio Fernandes atrapalhem o início da caminhada no Brasileiro.

Marquinhos Santos vai acompanhar o jogo, mas ainda não está envolvido com o trabalho de formatação do time, nem poderia. O auxiliar Wilton Bezerra é o interino. Muitos momentos do PSC na temporada permitiam entrever perrengues no caminho. Apesar disso, ninguém poderia imaginar que tudo iria estourar a quatro dias do início da Série C.

Quando um clube não vai bem no Campeonato Brasileiro surgem sempre as críticas ao rendimento do time e ao comportamento do técnico. Desta vez, pelo menos por enquanto, as responsabilidades são todas dos gestores. Não havia jeito de o planejamento dar certo com a verdadeira avalanche de contratações.

Há duas semanas, o PSC contava com 49 atletas no elenco, um inchaço inaceitável e contraproducente. Agora, após a saída do antigo técnico, o grupo tem 39 jogadores. Ainda é muito. Marquinhos Santos terá um trabalho insano para diminuir esse quantitativo e formar um time competitivo.

O mais provável é que a equipe que enfrenta a Aparecidense seja constituída pelo time que foi mais utilizado nas últimas partidas, nem sempre com sucesso. O meio-campo, que já não conta com o decano Ricardinho, deve contar com Giovani e Fernando Gabriel. Na frente, a dupla mais afinada, Mário Sérgio e Vinícius Leite.

Fogão surpreende e vence até o apito irresponsável

O jogo tinha tudo para ser mais um típico clássico Botafogo x Flamengo, com direito às costumeiras licenciosidades da arbitragem (o que inclui até o VAR). Desta vez, porém, algo saiu generosamente fora do script e a vitória sorriu para o Alvinegro de tantas glórias. Com méritos, diga-se.

Tiquinho Soares foi o grande artífice do triunfo que garantiu a liderança isolada da Série A. Quem diria que o time desacreditado de um mês atrás avançaria de maneira eficiente e firme rumo ao topo do Brasileiro.

É claro que é cedo ainda – apenas três rodadas -, mas fazia quase uma década que o Botafogo não exibia números tão alvissareiros. Não há dúvida, o time passou a jogar pragmaticamente, o que significa se adaptar às virtudes e defeitos dos adversários.

Foi assim que ganhou o clássico, e poderia ter vencido por diferença maior, caso não perdesse o espoleta Rafael logo no começo do 2º tempo. Perdeu também o técnico Luís Castro por excesso de faniquitos à beira do campo.

Nenhum desses contratempos impediu que o time resistisse à previsível pressão do Flamengo nos 20 minutos finais, reforçada pelos erros da arbitragem. Edina Alves vinha bem na partida, mas fraquejou terrivelmente na hora de expulsar um flamenguista.

Justiça seja feita, não é uma exclusividade da Edina. A imensa maioria dos árbitros brasileiros é subserviente e apita com um olho no lance e outro na cor da camisa. Fato histórico e indesmentível, principalmente quando o Flamengo está em cena.

A cena foi de óbvia aplicação do cartão vermelho. O rubro-negro Tiago Maia soltou um pontapé sem bola nas canelas do lateral botafoguense e a auxiliar, nervosa com a necessidade de reportar a truculência à árbitra central, não fez nada, nem disse coisa com coisa.

Edina, então, deixou a coisa seguir e Tiago Maia só tomou um amarelo envergonhado porque o VAR recomendou revisão – quando faz isso é porque há a possibilidade de um vermelho.

Nem essa indecente omissão comprometeu a vitória dos aguerridos botafoguenses. Tiquinho Soares, Tchê Tchê, Marçal e Eduardo tiveram desempenho assombroso. Lucas Perri fechou o gol, de novo. Sim, o Fogão está na briga, como há muito tempo não acontecia.

Caso Wallace: COB põe ordem na casa e pune a CBV

Enfim, alguém põe ordem na bagunça em que se transformou o vôlei brasileiro, depois que o jogador Wallace postou na internet uma pesquisa ameaçando o presidente Lula. O Conselho de Ética do Comitê Olímpico do Brasil (COB) reagiu ontem à inacreditável permissão dada pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) para que atleta jogasse a final da Superliga, no último domingo, em flagrante e abusivo desrespeito à suspensão aplicada pelo Comitê no mês passado.

O Comitê do COB suspendeu a CBV por seis meses como confederação filiada, recomendando ainda que o Banco do Brasil e o Ministério do Esporte cortem repasses pelo mesmo período. A decisão é assinada pelo conselheiro relator Ney Bello, também desembargador do TRF1. Que sirva de exemplo e lição.

O próprio Wallace, típico fanfarrão bolsonarista, também teve a pena ampliada. Inicialmente, o gancho era de 90 dias para clubes e de um ano para a seleção. Agora ele fica suspenso por cinco anos nos dois cenários, o que em tese significa fim de carreira, visto que tem hoje 35 anos.

Ações de cunho fascista têm que ser rechaçadas no âmbito das instituições. É a única forma de varrer toda e qualquer forma de ameaça à democracia. A história mostra que o fascismo deve ser combatido com firmeza, sempre. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta quarta-feira, 03)

Rock na madrugada – Titãs, “Jesus não tem dentes no país dos banguelas”

Composição de Nando Reis e Marcelo Fromer para o disco do mesmo nome, lançado em 1987. Letra de forte conteúdo crítico para um rock que não estourou à época do lançamento, mas que sempre cresce nas apresentações ao vivo do grupo. Com a turnê “Encontro” percorrendo o país, com todos os sete integrantes (Fromer morreu em 2001), os Titãs tocam em Belém no dia 12 de maio.

Titãs alteram letra para incluir Bolsonaro entre os maiores tiranos da história

Os Titãs nunca decepcionam. Incluíram Bolsonaro na letra da música “Nome aos Bois”, que critica tiranos sanguinários e figuras reacionárias, como Hitler, Mussolini, Pinochet, Idi Amim e Médici. Na turnê “Encontro”, que marca o retorno da formação original dos Titãs após 30 anos, a banda atualizou a letra de 1987, acrescentando o nome de Bolsonaro na lista de figuras execráveis da história da humanidade.

A música crítica as figuras que estiveram ao lado do nazi-fascismo na história mundial. Durante o show realizado em Belo Horizonte, no sábado (29), Nando Reis assumiu os vocais e fez a citação do miliciano genocida. Os Titãs consideram a mexida na letra como “uma atualização necessária para os tempos atuais”.

Todos os aplausos aos Titãs. Merecida “homenagem” ao pior presidente da República que o Brasil já teve.

Por que o MST assusta tanto?

Por Frei Betto

   O MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), que vi nascer e ao qual permaneço vinculado, é o mais popular, combativo e democrático movimento popular do Brasil. Congrega, hoje, cerca de 500 mil famílias assentadas e 100 mil acampadas. Luta por um direito elementar, jamais efetivado no Brasil, um país de dimensões continentais e onde há muita gente sem-terra e muita terra sem gente – a reforma agrária.

   É, no mínimo, uma vergonha constatar que no século XXI os únicos países que não fizeram reforma agrária na América Latina foram Brasil, Argentina e Uruguai. O modelo de propriedade da terra que ainda perdura em nosso país é o das capitanias hereditárias. E a relação de muitos proprietários de terras com seus empregados pouco difere dos tempos de escravidão.

   Nascido em 1984 e prestes a completar 40 anos em 202, o MST sabe, desde seus primórdios, que governo é omo feijão, só funciona na panela de pressão... Ainda que tenha contribuído decisivamente para eleger Lula presidente, o MST jamais se deixou cooptar pelo governo. Mantém a sua autonomia e sabe muito bem que a relação de governo com movimentos sociais não pode ser de “correia de transmissão” e, sim, de representação das bases sociais junto às instâncias governamentais. Muitos políticos enchem a boca com a palavra “democracia”, mas temem que passe de mera retórica para ser, de fato, um governo cujo principal protagonista é o povo organizado.

   O MST se destaca também pelo cuidado que dedica à formação política de seus militantes, o que muitos movimentos e partidos de esquerda negligenciam. Os sem-terra mantêm, inclusive, um espaço próprio para o trabalho pedagógico, a Escola Florestan Fernandes, em Guararema (SP). E em todos os eventos que promove, o movimento valoriza a “mística”, ou seja, atividades lúdicas (cantos, hinos, painéis etc.) e símbolos (fotos, artesanato etc.) de caráter emulador. 

   O MST segue rigorosamente os ditames da Constituição Cidadã de 1988. A Carta defende o uso social da terra, que deve respeitar o meio ambiente e ser produtiva. E exige algo ainda em compasso de espera e imprescindível se o Brasil quiser alcançar o desenvolvimento sustentável e abandonar sua submissão aos ditames das nações metropolitanas, que nos impõem a mera condição de exportadores de produtos primários, hoje elegantemente chamados de “commodities” ...

   Ocupação não é invasão. Jamais o MST ocupa terras produtivas. Hoje, o movimento é o maior produtor de arroz orgânico na América Latina e defende a Reforma Agrária Agroecológica, capaz de facilitar o acesso à terra como direito humano; produzir alimento saudável e sustentável para toda a sociedade brasileira; oferecer ao mercado  alimentos salubres e livres de agrotóxicos; valorizar o papel da mulher trabalhadora do campo; expandir o número de cooperativas de agroecologia; e ampliar a soberania e a biodiversidade alimentares no combate à fome e à insegurança alimentar. 

   A campanha do “Abril Vermelho” não usa o adjetivo como evocação da cor preferida dos símbolos comunistas (e, também, das vestes solenes dos cardeais), como querem interpretar os detratores do MST. É, sim, a cor do sangue dos 19 sem-terra cruelmente assassinados pela Polícia Militar em Eldorado dos Carajás, no sul do Pará, a 17 de abril de 1996. Sete vítimas foram mortas por foices e facões, e os demais por tiros à queima-roupa. 

   Cerca de 100 mil famílias aguardam assentamento no Brasil. E é no mínimo um desserviço o agronegócio promover o desmatamento de nossas florestas para expandir a fronteira agrícola, usufruir de isenção fiscal na exportação de seus produtos e concentrar sua produção em apenas cinco mercadorias: soja, milho, trigo, arroz e carne, controladas por grandes empresas transnacionais. 

   A fome cresce no mundo. Já são quase 1 bilhão de pessoas afetadas. E isso não resulta da falta de alimentos. O planeta produz o suficiente para alimentar 12 bilhões de bocas. Resulta da falta de justiça. No sistema capitalista, o faminto morre na calçada à porta do supermercado. Porque o alimento tem valor de troca e não de uso. Ora, enquanto a produção alimentar não seguir os padrões agroecológicos e a terra e a água, recursos naturais limitados, não forem considerados patrimônios da humanidade, a desigualdade tende a se agravar e, com ela, toda sorte de conflitos. Paz rima com pão.

   O MST assusta tanto porque luta para que o Brasil, uma das nações mais ricas do mundo, e que figura entre as cindo maiores produtoras de alimentos, deixe de ser um país periférico, colonizado, marcado por abissal desigualdade social. 

   Tomara que, um dia, nunca mais se torne realidade os versos cantados por João Cabral de Melo Neto em “Funeral de um lavrador”: “Não é cova grande / É cova medida / É a terra que querias / Ver dividida”. 

Frei Betto é escritor, autor de “O marxismo ainda é útil?” (Cortez), entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org)

Google abre fogo contra PL das Fake News e pode ser enquadrado por práticas abusivas

Transcrito do Meio

As big techs vêm se posicionando abertamente contra o PL 2630, que regula as redes sociais, e, nos últimos dias, o Google intensificou a estratégia de oposição. “O PL das fake news pode piorar sua internet.” Essa frase aparecia logo abaixo do espaço de digitação para quem abria o buscador ontem. E essa é apenas uma das várias frentes adotadas pela gigante da internet para atrapalhar a votação prevista para hoje. O NetLab, da UFRJ, afirmou com base em um levantamento que o Google privilegia links de oposição à nova legislação e anúncios da própria empresa contra o PL para quem faz buscas sobre o tema.

“O que nos parece é que o Google ponderou os resultados de busca de tal forma a aumentar a relevância de sua própria voz em sua plataforma”, diz Marie Santini, coordenadora do NetLab. “Isso pode configurar abuso de poder econômico às vésperas da votação.” Importante ressaltar que o Google nega esta manipulação no resultado das buscas. Na última semana, youtubers receberam e-mails da plataforma de vídeo, que pertence ao Google, afirmando que o projeto afeta o “modelo de compartilhamento de receita” e que perderão dinheiro se o PL for aprovado.

Além disso, quem abriu a interface de gerenciamento de canal deu de cara com um destaque – “Impacto negativo para criadores — Lei das Fake News” —, direcionando para texto em que o YouTube afirma que, se a lei for aprovada, a gigante será incentivada “a remover conteúdo de forma agressiva por medo de serem responsabilizados”. As táticas são semelhantes às utilizadas no ano passado, quando o requerimento de urgência para votação do PL 2630 foi votado e derrotado. (Folha)

O Google e a Meta — dona de Facebook, Instagram e WhatsApp — foram notificados ontem pelo Ministério Público Federal de São Paulo. O despacho, que cita o estudo do NetLab, diz que a atuação das big techs “parece estar fora do âmbito de condutas que sujeitos alvo de propostas de regulação podem adotar em um debate democrático”. “Podem estar violando direitos fundamentais à informação, à transparência nas relações de consumo e ao exercício da cidadania de seus usuários, ao, em tese, atuarem de forma opaca para impulsionarem, na esfera pública digital, conteúdos de seus interesses.” (CNN Brasil)

O secretário Nacional do Consumidor, Wadih Damous, afirmou ontem ao Painel, da Folha, que a pasta emitirá hoje uma medida cautelar para proibir o Google de fazer propaganda contra o PL das Fake News. Para ele, a prática burla os termos de uso da própria empresa. No Twitter, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse que a pasta vai apurar a possível ocorrência de práticas abusivas. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que pedirá a abertura de inquérito no Conselho Administrativo de Defesa Econômica, “por possível infração contra a ordem econômica por abuso de posição dominante”. Já o relator do projeto, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), acusou as big techs de “ação suja” contra o projeto. (Folha e Agência Brasil)

Enquanto isso… O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), cogita adiar a votação em plenário, marcada para hoje, do PL das Fake News. Os parlamentares do Republicanos, vistos como fiel da balança, não se comoveram com as concessões no texto, o que fez crescer o temor de uma derrota de Lira e do governo. Entre outras mudanças, o relator Orlando Silva desistiu de criar um órgão fiscalizador das redes sociais e acrescentou um excludente de liberdade religiosa que permite a igrejas publicar conteúdo considerado ofensivo. (Folha)