POR GERSON NOGUEIRA

Quase 22.090 pessoas pagaram ingressos para ver o Re-Pa que reabriu, em evento-teste, o novo estádio Jornalista Edgar Proença, no domingo (26). Havia expectativa e ansiedade em torno de um jogo que não acontecia desde o ano passado. Era a primeira partida das semifinais da Copa Verde e, ao final, o Remo sairia vencedor por 1 a 0.
Caso houvesse uma estatística específica sobre o tempo de bola em jogo, principalmente no segundo tempo, seria possível atestar que o espectador recebeu bem menos do que lhe foi prometido ao comprar as entradas, caras para o padrão local, para o clássico.
O primeiro tempo teve muita movimentação, troca de ataques e intensidade em campo. Já os 45 minutos finais foram marcados por cinco expulsões de atletas – três do PSC, dois do Remo – e inúmeras interrupções. No fim das contas, o torcedor teve que se contentar com pouco mais de 20 minutos de bola rolando.
Situações como essa são frequentemente relativizadas, apontadas como parte da tradição do clássico-raiz. Pode ser para alguns, mas há um público consumidor de atrações esportivas que já não aceita receber pela metade (às vezes até menos) do que paga.
Sim, os especialistas do marketing e das relações de consumo envolvendo o futebol já não definem as modernas arenas esportivas como local de reunião de torcedores. O mundo mudou e as definições também. O correto agora é chamar: consumidores de espetáculo.
No futebol europeu, sempre à frente do nosso, o cliente é tratado com fidalguia e deferências especiais. Oferecem conforto e instalações modernas. Os preços são compatíveis com a experiência única de vivenciar uma tarde ou noite de futebol no Santiago Bernabéu, no Camp Nou, em Old Trafford ou no San Siro.
Os consumidores pagam porque, além da infraestrutura, têm absoluta certeza de que o futebol será de altíssimo nível. Daí, para surpresa de ninguém, as estatísticas feitas no Velho Continente apontam um crescente interesse dos jovens pelo futebol como fonte de entretenimento e lazer.
No Brasil, os últimos levantamentos do Ibope Repucom expõem uma realidade totalmente inversa. Os jovens já não têm no futebol sua maior fonte de interesse. Preferem a imensa variedade de lazer que a vida moderna proporciona, muitas vezes sem precisar sair de casa.
Há um detalhe, porém, que remete ao início deste comentário. Além dos problemas que os estádios historicamente apresentam, o torcedor se frustra com a violência explícita vista tanto no entorno das praças esportivas quanto dentro do gramado de jogo, como a esgrima de socos e bofetadas no Re-Pa da Copa Verde. Violência afasta público – e gera prejuízo.
As mudanças geracionais impõem um olhar cada vez mais diferente em relação ao futebol. Se antes a valentia e a capacidade de sair no braço eram fonte de orgulho para muitos, hoje essas demonstrações de agressividade pegam mal, geram rejeição imediata.
No caso paraense, há um aspecto que torna mais incongruente a situação. O Estado acaba de ganhar um estádio modernizado, digno das mais aparelhadas arenas do mundo, destinado a um público que aos poucos vai se acostumando a desfrutar de comodidades que antes eram sonho distante.
É preciso, portanto, que atletas, técnicos e dirigentes – imprensa também – estejam aptos a desfrutar deste novo tempo, à altura dos equipamentos que o novo Mangueirão oferece, e conscientes de que a torcida do futuro precisa ser cultivada/cativada desde agora. (Foto: reprodução da Papão TV)
Direto do blog campeão
“Eterno Palmeirinho. Escrevi tanto sobre ele sábado, que o próprio Palmério ligou lá do céu: – Já deu, né, Silber?”. Paulo Silber
“A Copa Verde foi formatada para ser um clone da Copa do Nordeste, mas virou uma prima pobre. Os seus idealizadores não levaram em conta que o NE é uma região cujo povo, em vários sentidos, tem um sentimento de unidade, inclusive no futebol, ao contrário do povo daqui da Região Norte. No NE, há ainda mais clubes tradicionais do que no Norte. Para complicar, na Copa Verde, para tentarem dar vigor à competição, incluíram clubes do Centro-Oeste, onde os mais tradicionais pouco se interessam em participar, e o Espírito Santo, cujos clubes não têm nenhuma expressão nacional. O resultado disso tudo é o que vemos, não precisando explicar. A Copa do Nordeste é um sucesso de público e de finanças e, por isso, sempre interessou aos canais de TV, que mostram os jogos ano a ano. Quem não foi ao Mangueirão teve que se contentar a assistir aos dois Re-Pa pela internet, em canais dos clubes, com imagens cheias de falhas e transmissão amadora e tendenciosa, como era de se esperar”. Miguel Silva
Programa de apoio ao talento distingue 126 desportistas
Com a presença do governador Helder Barbalho, foi anunciada ontem no Teatro Estação Gasômetro a lista de atletas selecionados na última edição do programa Bolsa Talento, que assegura suporte a desportistas paraenses praticantes de modalidades amadoras. Ao mesmo tempo, foi lançado o edital do programa para 2023, com investimento de R$ 1,5 milhão. As bolsas têm duração de 12 meses.
O total de contemplados de 2022 com o Bolsa Talento são: 22 atletas na categoria nacional, com bolsa de R$ 1.125,63; 102 no âmbito estadual, no valor de R$ 750,42 e dois técnicos, com bolsa de R$ 900,49. Os finalistas foram submetidos a um processo de avaliação de documentos, prazos para recursos e comprovação das informações apresentadas pelas entidades.
O Bolsa Talento promove a inclusão social por meio da prática esportiva e foi criado pelo Governo do Pará como forma de estimular o desenvolvimento físico e psicológico dos atletas contemplados. Com o programa foi possível manter e aumentar o número de atletas que representam o Estado em competições regionais, nacionais e internacionais.
(Coluna publicada na edição do Bola desta quarta-feira, 05)