Sobre crises e oportunidades

POR GERSON NOGUEIRA

O PSC vinha capengando, com resultados ruins e desempenho pior ainda. Por um triz não foi eliminado da Copa Verde pelo limitado Princesa do Solimões, após uma partida horrível na Curuzu. As semifinais com o Remo pareciam destinadas a coroar o momento de crise técnica do time, mas, surpreendentemente, abriu as portas da redenção.

Nada melhor do que o clássico maior para colocar as coisas em pratos limpos, definindo o que é fato do que é simples fumaça. Márcio Fernandes e seus comandados mostraram no clássico decisivo que era possível transformar limão em limonada.

Não foi tarefa simples, talvez não tenha sido algo elaborado, mas resultou em algo extremamente positivo para a caminhada do Papão neste começo de temporada. O time desacreditado de duas semanas atrás passou a ser cultuado, desde anteontem, como um grupo digno de confiança.

Nem sempre é possível avaliar se um resultado positivo hoje terá desdobramentos positivos e estáveis no futuro. Pode ter sido um acontecimento fortuito, daqueles que ocorrem uma vez na vida, mas é inegável que os efeitos positivos irão repercutir nas próximas batalhas, com potencial para turbinar a campanha no Parazão.

Em meio a isso, o papel do técnico Márcio Fernandes ganha um importante reposicionamento dentro do clube. Questionado por grande parte da torcida pela campanha irregular no campeonato estadual, sofria também com a cornetagem interna. Não é segredo que haviam rusgas no relacionamento com alguns de seus superiores.

Depois de tropeços seguidos diante de São Francisco e Independente, circularam boatos de que o treinador estava ameaçado de demissão. Isso explica a tensão que rondava o banco de reservas do Papão a cada jogo, com reclamações exageradas e até descabidas contra a arbitragem.

Como é comum no futebol profissional, é provável que aqueles 45 minutos de futebol intenso e guerreiro façam com que Márcio ganhe meses de tranquilidade à frente do elenco do PSC, garantindo a continuidade do trabalho até o Campeonato Brasileiro da Série C.

Experiente e respeitado profissionalmente, Márcio sofreu com as seguidas lesões no plantel – chegou a ficar sem seis titulares em alguns jogos do Parazão. O trabalho não fluía e algumas peças de reposição não funcionavam quando escaladas.

Na quarta-feira à noite, como por encanto, fez-se a mágica do êxito inesperado. Fernando Gabriel, que não conseguia atuar por problemas de condicionamento, tornou-se um dos heróis da noite, marcando o golaço que garantiu a virada e provocou a série de pênaltis.

Paulo Henrique, Roger e Eltinho também tiveram atuação destacada e contribuíram para a reversão das expectativas. É legítimo esperar que, a partir de agora, o Papão seja um time inteiramente mudado – para melhor. (Foto: John Wesley/Ascom PSC)

Direto do blog campeão

“Não me empolgo nem um pouquinho com esta vitória, é coisa de clássico. Este time é bem pior do que o do ano passado. Os únicos jogadores que se salvam são: Thiago Coelho, Genilson, João das Couves, Fernando Gabriel, Ricardinho, Bruno Alves e Mário Sérgio são os que se salvam neste time. O resto pode passar a régua”. Aldo Valente

“O Remo tem que passar por uma mudança de mentalidade. E a primeira coisa a fazer é incutir na consciência da torcida de que precisa dessa mudança, que não basta ganhar um clássico aleatório. Isso é obrigação. Aí começam a fazer festa por conta disso. Na verdade, a obrigação deveria ser ganhar títulos”. Stan Fialho

Leão contabiliza os danos do vexame e anuncia reforço

O Remo não perdeu apenas a chance, considerada quase certa, de disputar mais uma final de Copa Verde. Ficou sem a possibilidade de faturar em torno de R$ 500 mil com a renda do jogo decisivo no Mangueirão, além de, em caso de conquista do título, conquistar o direito de entrar na terceira fase da Copa do Brasil 2024, com bônus de R$ 2,1 milhões.

A derrota no clássico pôs por terra a imagem de time aprumado, competitivo e que mantinha a impressionante marca de 12 vitórias em 13 jogos disputados. Os méritos dessa caminhada não se apagam, mas passam a sofrer questionamentos por parte do torcedor remista.

Marcelo Cabo, aplaudido por todos até a quarta-feira, também tem seu trabalho colocado em xeque. As substituições durante os dois jogos sofreram críticas e trincam o prestígio que ele havia amealhado até então.

Defenestrado da Copa Verde, o Remo segue vivo em duas outras competições, a Copa do Brasil e o Parazão. Aliás, o estadual virou questão prioritária no clube. Se o bicampeonato era importante na pauta de metas, agora é obrigação.

Fontes da diretoria sinalizam que a frustrante participação na Copa Verde deve alterar a política de relacionamento com o elenco, até então tratado com extrema proximidade, atenção e até gentilezas.

Ninguém no clube admite publicamente, mas a derrota vexatória na semifinal não foi assimilada pela diretoria. Ficou a impressão de que o time subestimou a capacidade de reação do adversário, pecado normalmente fatal em disputas entre os velhos rivais.

A primeira providência prática, depois de uma reunião ontem entre a diretoria e a comissão técnica, foi o anúncio de mais um reforço para o meio-de-campo: o meia Álvaro (ex-Confiança e Ferroviária-SP). Bom jogador, ele vem pode ter papel importante na temporada. A contratação, porém, tem pinta de anúncio típico de pós-derrota.  

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 31)

2 comentários em “Sobre crises e oportunidades

  1. Nada como melhor do que vencer um clássico decisivo.
    Mas, assim como um corticóide, que pode mascarar uma doença mais grave, vejo assim as consequências desta vitória muito honrosa.Todo mundo sabe das fragilidades e a falta de conjunto do time Bicolor, tem muita coisa para melhorar, inclusive com novas contratações.
    Não temos padrão de jogo definido e no primeiro tempo foi um bumba meu boi não aproveitado pelo rival, o que foi fatal, pois o clássico não perdoa.
    Estou feliz com a vitória inesperada, mas com a prudência de sempre esperando por um time mais competitivo, com mais coerência entre seus setores e que dessa vez venha a tão sonhada subida para a série B.
    Por enquanto, ….

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