Papão vence no peito e na raça

POR GERSON NOGUEIRA

O Remo entrou em vantagem, ampliou essa condição ao fazer 1 a 0 e parecia destinado a controlar a partida no segundo tempo. Não contava, porém, com a determinação do PSC na busca pela vitória e a conquista da vaga. O futebol não perdoa hesitações e os azulinos, mesmo tendo criado as melhores situações de gol na partida, acabaram recuando em excesso, empurrado pelos bicolores. Quando não dava técnica, o Papão chegou na raça.

Como o Re-Pa é essencialmente um clássico-raiz. A história do jogo está aí mesmo para mostrar a quantidade de resultados que contrariaram a lógica. O PSC perdeu no domingo, mas não se apequenou. Mesmo com muitas baixas – incluindo as perdas de Genilson, Gabriel Davis e João Vieira – o técnico Márcio Fernandes conseguiu fazer muito mais com os jogadores que tinha à disposição.

A mexida na etapa final, com as entradas de Paulo Henrique, Fernando Gabriel e Roger, mudou por completo a fisionomia do PSC e o panorama do confronto. Revigorado fisicamente, o time se empenhou em alcançar o único resultado que lhe servia. Sempre lutando muito, conseguiu o empate, correu muitos riscos e encontrou equilíbrio para virar o marcador.

O lado emocional não pode ser subestimado em jogos tão equilibrados. A expressão dos jogadores logo depois do primeiro gol do PSC, marcado por Mário Sérgio, evidenciava o abatimento do time. Para complicar, Pablo Roberto, melhor jogador das semifinais, se lesionou e o técnico resolveu fazer uma troca conservadora. Colocou o volante Pingo para tentar fechar a passagem de Eltinho pelo lado esquerdo.

Com Pingo, juntando-se a Uchoa e Paulinho Curuá, o meio-campo remista passou a ter três volantes fechando o bloqueio à frente da zaga. Ocorre que esse trio de marcação não conseguiu conter os avanços do PSC, que não encaixava ataques qualificados, mas era sempre agudo e vertical.

Ronald entrou aberto pelo lado esquerdo, mas recebeu apenas três bolas com espaço para avançar. Ainda assim, conseguiu fazer com que o lado direito do PSC ficasse mais exposto. Talvez devesse ter entrado mais cedo, como havia ocorrido no primeiro clássico.

É interessante observar que jogos de intensa rivalidade como o Re-Pa podem ser influenciados seriamente por lances pontuais. Pablo Roberto teve grande oportunidade para fazer 2 a 0 logo após o gol de Muriqui. O próprio camisa 10 meteu na trave uma bola que daria tranquilidade ao Remo no segundo tempo.

Nada disso, porém, reduz o tamanho da vitória do Papão. Triunfo duplo, nos 90 minutos e na série de penalidades. Pode ter sido até uma formulação de jogo forçada pelas circunstâncias. Precisava vencer a qualquer custo para, pelo menos, provocar a disputa nos penais.

Com jogadores desacreditados e quase sempre criticados pela própria torcida, Márcio teve o mérito de montar um time com as peças que ninguém acreditava que seriam capazes. 

Teve a coragem de transformar o segundo tempo num cenário que interessava ao Papão. Brigando pela bola e atacando sempre. Deu certo. Grande noite bicolor. O Remo, ao contrário, se comportou como um boxeador sem a competência para liquidar a vantagem que tinha – na imagem de um velho leitor da coluna.

Cansaço remista e aposta nos reservas fizeram a diferença

Márcio Fernandes terminou o clássico comemorando e mandando mensagens aos seus críticos, reclamando também de parte da torcida. Segundo ele, são pessoas que vestem a camisa do PSC, mas torcem contra o clube. As difíceis semanas que enfrentou, com uma série de jogadores exilados no departamento médico, justificam a necessidade do desabafo.

Quanto ao jogo, ele acertou muito mais que errou. O trio que entrou na etapa final deu ao clássico uma outra dinâmica. Com o meio-campo finalmente dominando a cena, o PSC tirou o Remo da zona confortável que teve no domingo e no 1º tempo de ontem.

Além disso, Márcio soube fazer as trocas que haviam falhado no clássico de abertura das semifinais. O futebol não tem regras rígidas, depende muito de situações fortuitas. O cansaço físico do Remo na etapa final se acentuou com a correria dos bicolores.

Até recursos aparentemente temerários, como o recuo de Bruno Alves depois que o lateral Samuel saiu, não trouxeram prejuízos. É claro que estaríamos falando de outro desfecho se Muriqui fizesse aquele gol a três minutos do fim. Um detalhe que só não causou danos ao Papão pela intervenção precisa do goleiro Thiago Coelho, o melhor do time na decisão.

Mais do que sorte, Márcio foi mais feliz em comparação com o oponente Marcelo Cabo, que foi bem em três dos quatro tempos das semifinais, mas sucumbiu justamente no momento mais decisivo.

Corinthians, Fluminense e Fortaleza na rota paraense

A Copa do Brasil, cujas premiações constituem a menina dos olhos de todos os clubes brasileiros, reserva em sua terceira fase desafios de grande monta para os três representantes paraenses. Terão que desafiar a tradição e o melhor futebol de Fluminense, Corinthians e Fortaleza.

As chances de avançar existem, mas são bem reduzidas, é preciso reconhecer em função do desnível técnico. O Remo leva uma vantagem de ordem prática. Faz o primeiro jogo em casa, recebendo o Corinthians no novo estádio Jornalista Edgar Proença (Mangueirão).

Terá, pelo menos, a oportunidade de uma grande arrecadação, o que pode lhe garantir amealhar mais recursos dentro da competição, graças à força de sua torcida. Até o momento, faturou R$ 3.750.000,00 e pode acrescentar mais de R$ 1 milhão.

Ao PSC coube o Fluminense de Paulo Henrique Ganso como adversário. A primeira partida será no Rio de Janeiro, o que pode significar um esvaziamento de público na volta, caso o resultado não seja satisfatório para os bicolores.

Já o Águia pegou como oponente o Fortaleza, de Yago Pikachu. Adversário igualmente difícil, pois faz uma temporada repleta de vitórias, embora com alguns pequenos tropeços no cartel. O primeiro embate será na capital cearense. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 30)

7 comentários em “Papão vence no peito e na raça

  1. O time do Paysandu é muito ruim, limitado, sem preparo físico e técnico. Mas é um time de tradição, tem uma camisa que impõe respeito e uma torcida que joga junto.
    O atual elenco do Paysandu talvez seja o mais fraco dos últimos anos. Com honrosas excepções, como os esforçados Mario Sergio e Bruno Alves, tem debilidades em todas as posições.
    Mas, ganhar do time das galinhas azuis, eliminando eles da Copa Verde, mais uma vez, foi possível porque eles são um
    bando de covardes. Tiveram tudo para liquidar a disputa, no primeiro jogo, com “leve” ajuda do soprador de apitos e foram frouxos.
    O futebol não perdoa !

    1. Calma, amigo Marcão, não podemos perder a elegância. A empolgação com as vitórias normalmente nos tira o equilíbrio. É preciso, portanto, estar atento para evitar o insulto fácil, desprezando o fato de que estamos falando de irmãos quase siameses. Ambos têm torcidas imensas e apaixonadas. Ambos têm larga tradição e história, além de camisas pesadíssimas. E resultados como o de quarta-feira já sorriram (em circunstâncias parecidas) para os dois lados, várias outras vezes, sem significar que um lado é covarde e frouxo, enquanto o outro é heroico e destemido sempre. O bom do futebol é que as verdades de agora podem cair por terra amanhã. Por isso, humildade e respeito valem sempre. Abraços

  2. No futebol, depois que o jogo acaba, sempre há teorias pra vitórias e pra derrotas. Ontem o Remo jogou de salto alto contra o horroroso time mucurento e ainda revelou um quase-gol. O tal Muriqui, com o gol todo aberto, conseguiu mandar a bola no travessão com um cabeceio. No último minuto perdeu um gol daqueles que até a vovó faria. Nos penais, fez o mais difícil acertando a trave. Pra completar, um outro remista mandou às nuvens uma cobrança de pênalti. Como no futebol a imprevisibilidade é recorrente, e está aí pra comprovar isso mais uma vez a derrota do Remo, que estava com a faca e o queijo nas mãos, não será coisa de outro mundo se o time mucurento canseguir ganhar essa insignificante Copa Verde em cima do Goiás, time da primeira divisão. Mas fica o registro: em embates de rivais, até em jogo de damas meu time tem obrigação de jogar pra ganhar.

  3. Se a Copa Verde é tão inisgnificante assim, por que, então, o time azulino, participa?
    O que posso dizer é que o título garante ao vencedor uma boa quantia em dinheiro por entrar logo na fase do mata-mata.

  4. O Remo não participou da última. O ex-presidente do rival paraense e agora presidente da FPF fez de tudo para realizar uma edição mambembe, onde deixaram de participar clubes relevantes e assim tornar-se campeão no beiço. Aliás, esse torneio não interessa aos grandes do Centro-Oeste e até causa surpresa o Goiás estar participando dessa edição.

    Nenhum canal de TV relevante se interessou por esse torneio e agora sequer um se apresentou para mostrar os jogos.

    O campeão entrar na terceira fase da Copa do Brasil é um engana trouxa. O “agraciado” cumpre um bate e volta. Melhor participar desde a primeira fase da CB, pois pega timecos como adversários e, se não for muito incompetente, fatura um bom dinheiro como fez o Remo este ano.

    Os times que não levam o prêmio dado ao campeão saem no prejuízo com os custos de deslocamento, salário dos jogadores e outros mais a eles imputados.

  5. Se as Séries C e D, que em 2023 terão 84 clubes participantes de todos os Estados do Brasil, não interessam aos canais de TV, por que motivos a Copa Verde – que este ano teve 24 clubes, e em 2024 deverá ter o Remo antecipadamente desistente, despertaria atenção destes mesmos canais ???

  6. A Copa Verde foi formatada pra ser um clone da Copa do Nordeste, mas virou uma prima pobre. Os seus idealizadores não levaram em conta que o NE é uma região cujo povo, em vários sentidos, tem um sentimento de unidade, inclusive no futebol, ao contrário do povo daqui da Região Norte. No NE, há ainda mais clubes tradicionais do que no Norte. Pra complicar, na Copa Verde, pra tentarem dar vigor à competição, incluiram clubes do Centro-Oeste, onde os mais tradicionais pouco se interessam em participar, e o ES, cujos clubes não tem nenhuma expressão nacional. O resultado disso tudo é o que vemos, não precisando explicar.

    A Copa do Nordeste é um sucesso de público e de finanças e, por isso, sempre interessou aos canais de TV que mostram os jogos ano a ano.

    Quem não foi ao Mangueirão teve que se contentar a assistir aos dois RE-PA pela internet, em canais dos clubes, com imagens cheias de falhas e transmissão amadora e tendenciosa como era de se esperar.

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