
O texto abaixo, transcrito do Facebook, é do jornalista Fabrício Rocha em homenagem ao querido amigo Luizão Costa, produtor musical dos melhores que o Pará já teve, e que partiu neste fim de semana. Queria tributar D. King, mas Fabrício faz isso de forma deliciosa, relatando aspectos da personalidade firme e combativa do nosso herói.
“Luizão Costa, o D. King, saiu dos bastidores para virar estrela!
Estivemos juntos na mesma sala de produção da Rádio Cultura do Pará nos últimos 16 anos. Eram tardes e noites muito animadas de boas histórias sobre música, produção, bastidores, tragédias pessoais, Alencar e o Lapinha, gargalhadas… so much drama.
Ele realmente sabia se fazer notar em qualquer lugar. A voz grave e forte enchia o ambiente e parecia que ele estava brigando com alguém, até quando atendia o telefone. Pensando bem, ele realmente estava brigando com alguém hehehe. Uma personalidade extremamente forte, genioso, polêmico, duro nas críticas, fiel e generoso.
D. King contava muitas vezes sobre as histórias de quando era técnico de som, mas o que poucos lembram foi sua rápida incursão como músico, era percussionista. Dadadá Castro lembrava de um show dele com o grupo do Guilherme Coutinho, na saudosa maloca, em que ele caiu com a tumbadora por cima de uma mesa, num episódio tragicômico.
Para bem de todos, Luizão seguiu como técnico. É primo do Engenheiro de Som Odorico . Falava da carreta-palco da mítica banda “Sol do meio dia” pelas ruas de Belém. Também no Teatro da Paz, ainda na decada de 70, era o responsável pela sonorização do palco sagrado em tempos áureos, incluindo projeto Pixinguinha.
Na década de 80, iniciou a carreira de empresário de artistas e produtor de shows. Mesmo empresário, ele dizia-se simpático ao partido comunista, por causa de Rui Barata. É dessa época que veio o apelido de Luizão D. King. Esteve ao lado de Nilson Chaves por muito anos, mas foi com a banda Fruta Quente explosão, na década de 90, com uma rotina frenética de shows, negociação com gravadoras, Olê-Olá, viagens pelo Brasil e exterior. O que fez pedir demissão da Rádio em 1998 para ficar apenas com a empresa, um dos grandes erros da vida dele. Mas deu o seu melhor.

Paralelo a essa vida frenética, Luizão trabalhava na Rádio Cultura do Pará. Ele havia pedido transferência do Teatro da Paz, em 1985, na época a Radio tinha vinculação com a Secult. Foi trabalhar como discotecario-programador no meio daquela montanha de vinis. (Na foto acima, Luizão, à esquerda, com Fabrício Rocha)
Chegou a fazer produção até de programa de Brega, na época em que Ismaelino Pinto era coordenador de produção. D. King achava que estava sendo punido, mas disse que foi divertido, mas realmente não era a onda dele. Anos depois, polêmico como era, chegou a participar de uma programa de debates na TV Cultura, comandado pelo Marcos Urupá, para criticar o gênero. Ele era duro na queda.
Trabalhou por muito anos na Rádio Cultura nos programas de Jazz e instrumental, essa era uma de suas maiores paixões. Como bom paraense, gostava muito de latinidade e produziu o programa “Alma Latina” com todos os gêneros caribenhos. Mas, na minha opinião, sua grande obra na Rádio foi o programa “Bossa Nova, Novas Bossas” , de 2007 a 2010. Com faixas raras, outras clássicas, cantadas em português e outras línguas, além de variantes da bossa com batidas eletrônicas. Um espetáculo produzido e apresentado por ele.
É difícil não vincular a trajetória de Luizão na cena de Belém com alguns artistas e bandas como Boca Livre, João Bosco, Milton Nascimento, Key Lira, Guinga, Zeca Baleiro, pelos quais tinha um carinho enorme a ponto de trazê-los inúmeras vezes para fazer seus espetáculos. A cada show, a produção da Rádio vivia todas as emoções, junto com ele, de cada detalhe da produção. O telefone não parava , xingava, brigava, passava mal, mas entregava o espetáculo.
Diziam que um dos grandes problemas do Luizão era a impulsividade. Eu via isso como uma virtude. Uma pessoa verdadeira e autêntica. No inicio de 2011, quando Jatene (PSDB) já havia vencido a Ana Júlia (PT) nas eleições, Ney Messias havia sido nomeado secretário de Comunicação, estava com o coração ferido porque a gestão anterior tinha feito a exoneração a bem do serviço público.
Ney pegou o Grellha, cinegrafista que tinha soltado fogos na fundação para comemorar a derrota dos tucanos em 2006, e foi registrar como estava recebendo a estrutura da fundação dos petistas. Eles pararam para uma breve reunião na nossa sala de produção, local que sempre foi o coração da Funtelpa até então.
Ao final da reunião, Luizão D. King pede a palavra e faz uma pergunta que vai cobrar seu preço para o resto da vida dele e que até hoje penso muito sobre toda a situação:
-“Ney, por que tu renovaste o contrato da Funtelpa com a TV Liberal no último dia da tua gestão??”.
O mundo paralisou naquele momento. Na primeira reunião com o novo secretário de comunicação, Luizão falou do maior telhado de vidro da gestão tucana, em que as antenas da Tv Cultura (pública) eram usadas pela TV Liberal (privada) e a Funtelpa ainda pagava 400 mil por mês a titulo de licenciamento da programação da Globo.
Ney Messias, com toda certeza, não estava esperando, tomou um fôlego e respondeu:
-” Luizão, você tem que saber o que significa a palavra LEALDADE. Fui e sou leal.”

Meus amigos, tem que ter muita coragem para fazer esse tipo de pergunta numa terra coronelista como é o Pará. Luizão entra para a história da produção cultural e da radiodifusão pública paraense como um ser humano Valente, gigante e profissional competente. Viveu intesamente cada minuto.
Meu grande companheiro, Luizão, descanse em paz. Que cada bossa e música instrumental de hoje sejam em sua homenagem.
Um forte abraço!”