
Dia: 21 de fevereiro de 2023
Os motivos que levaram a Justiça espanhola a manter Daniel Alves preso

Os juízes da Audiência Provincial de Barcelona, na Espanha, anunciaram nesta terça-feira (21) que Daniel Alves permanecerá preso até o fim das investigações do caso de estupro do qual ele é acusado. O UOL teve acesso ao documento que respalda a decisão. Segundo o documento, a Sala analisou mais uma vez todos os depoimentos e assistiu várias vezes às imagens das câmeras de segurança da boate Sutton, onde teria acontecido o crime. Coube ao advogado do brasileiro, Cristóbal Martell, comunicá-lo sobre a decisão. Martell foi até a penitenciária de Brians 2, onde Daniel Alves está preso.
“Analisamos, ainda, o despacho expedido pelo juiz de instrução 15 de Barcelona e as alegações das partes em seus respectivos escritos [o recurso apresentado pela defesa de Daniel Alves e a oposição a ele, escrito pela advogada da denunciante, Ester García López]”, diz o documento da Justiça. Os magistrados afirmam que a audiência de 16 de fevereiro também foi indispensável para a decisão.
No documento, afirmam que escritos detalhados do Ministério Público Espanhol mostram que os indícios de criminalidade por Daniel Alves são “diversos” e “não partem apenas da declaração da denunciante, mas de outras testemunhas, presentes antes e depois da entrada de ambos no banheiro da boate”. As provas mostram que Daniel Alves entrou no banheiro depois da denunciante, cujo nome permanece preservado na divulgação do documento.
“Todas as testemunhas que prestaram depoimento -as amigas da mulher e os funcionários da casa noturna- corroboram em maior ou menor grau a afirmação da denunciante.”
Os magistrados acreditam que as diferentes versões apresentadas pelo jogador, entre as provas às quais eles tiveram acesso, são o menor dos problemas. “O senhor Alves exerce o direito de defesa, e pode escolher não confessar culpa. Não podemos dar conotação moral por exercer um direito fundamental”. A acusação diz que a defesa de Daniel Alves subestima a administração da justiça ao contar três versões diferentes para o mesmo caso. “As contradições fazem parte do direito dele, e são analisadas quanto à credibilidade, e não como prova de culpa.”
O documento vai contra o argumento do advogado de Daniel Alves, Cristóbal Martell, de que o fato de ele ter se apresentado voluntariamente eliminaria qualquer risco de fuga. Sua colaboração inicial não neutraliza o risco de fuga para que ele se imunize da maior parte da investigação e da conclusão do caso. Isso porque, agora, o senhor Alves tem conhecimento das tantas provas que existem contra ele e do tamanho do processo.”
RISCO DE FUGA
Ainda sobre o risco de fuga, os magistrados não concordam que as antigas raízes de Daniel Alves em Barcelona corroborem qualquer coisa. Afirmam que essas raízes foram firmadas entre 2008 e 2016, e que não são mantidas atualmente [Daniel morava no México, onde jogava pelo Pumas, e a maior parte da família dele está no Brasil].
“Sua profissão como jogador de futebol de elite o levou a residir em diferentes cidades e países desde que deixou o Barcelona em 2016, e isso faz com que o tempo que ele passa na cidade seja esporádico. O senhor Alves já declarou que vem a Barcelona apenas para passar férias”.
A dupla nacionalidade de Daniel Alves foi citada no documento, junto à Constituição Federal brasileira, que impede a extradição de cidadãos brasileiros. “Concordamos que a maioria dos países não entrega seus cidadãos. Mas, no presente caso, a capacidade econômica do investigado permite que ele antecipe as chances de sair do país e se mudar para o Brasil, sem que esteja presente no julgamento e sem a possibilidade de extradição em caso de condenação.”
“Nada impediria o senhor Alves de sair da Espanha por via aérea, marítima ou mesmo terrestre sem documentação e chegar ao seu país de origem e nacionalidade e lá permanecer sem passaporte. Ele sabe que não seria extraditado.”
Ainda de acordo com a decisão judicial, “não é possível minimizar o capital financeiro de Daniel Alves, típico de um jogador de futebol de elite”. O documento adicionou, então, as empresas dos quais o brasileiro é sócio. A defesa do jogador citou apenas empresas espanholas, mas o Ministério Público apresentou um relatório com 15 empresas mantidas por Daniel Alves no Brasil, todas constituídas entre 2019 e 2022.
Por fim, os juízes destacam a rapidez com que corre a investigação. “Devemos acrescentar a todos os argumentos que a fase de instrução está praticamente terminada e que tudo aconteceu em um mês [Daniel foi preso em 20 de janeiro]”. Temos valiosas declarações e até as análises de DNA, cujos resultados demoram, já estão disponíveis. Por isso é previsível (e desejável) que o processo seja concluído em um curto período de tempo. Desta forma, a prisão preventiva não atingiria o máximo permitido legalmente [dois anos de reclusão].”
DEFESA SE MANIFESTA
O advogado divulgou uma nota em que afirma que a decisão judicial de hoje (21) não torna seu cliente “menos inocente”. “Daniel Alves da Silva continua tão inocente quanto antes dessa resolução. A vontade de sair da Espanha e evitar o processo por parte dele é inexistente, e a decisão é exagerada. Usa como prova as declarações do boletim de ocorrência e não os elementos apresentados pela defesa”, diz o comunicado da defesa.
Para quem procura mensagens nas garrafas
Verdade verdadeira
Rock na madrugada – The Clash, “Should I Stay or Should I Go”
Clip tirado de uma apresentação arrasadora do Clash no Shea Stadium, em Nova York, 1982. Eles abriram o show do The Who. A banda inglesa, liderada por Joe Strummer (guitarra e voz), foi uma das mais bem sucedidas do movimento punk rock. Contemporânea do Sex Pistols, nasceu em 1976 e experimentou vários outros gêneros musicais, como reggae, ska, dub, funk, rap, surf e rockabilly. Os integrantes originais eram Strummer (John Graham Mellor), Mick Jones (guitarra), Paul Simonon e Nicky “Topper” Headon.
Naquele roteiro típico do rock, o grupo se esfacelou e foi extinto em 1986, em meio a drogas e tretas entre os músicos. Strummer seguiu na estrada e montou a banda The Mescaleros, ativa entre 1999 e 2002. Morreu de repente, em sua casa na Inglaterra, no dia 22 de dezembro de 2002. Tinha 50 anos e sofreu um ataque cardíaco, resultante de doença congênita que ele desconhecia.