Impunidade alimenta o racismo

POR GERSON NOGUEIRA

O mundo do futebol vai ter que se mobilizar para deter a escalada de ataques racistas a um jogador. Trata-se de Vinícius Jr., que, como na música “Geni”, de Chico Buarque, virou alvo de pedradas, insultos e até ameaças de morte na Espanha, onde empresta seu talento e alegria a um campeonato morno, desprovido de grandes encantos.

Desde que o futebol voltou à normalidade, depois da pandemia de covid-19, Vinícius tem sido frequentemente alvejado pelas hordas de torcedores, sob a complacência das entidades (liga e confederação) que regulam o esporte na Espanha e dos clubes participantes do certame nacional.

No começo, eram gestos depreciativos nas arquibancadas. Os abusos se repetiam e eram relativizados. Como sempre ocorre em situações que envolvem ódio e discriminação, a impunidade se tornou combustível para ofensas cada vez mais pesadas e intolerantes, dentro e fora dos estádios.

Na mídia, houve até quem se voltasse contra as danças de Vinícius na comemoração de gols, como se isso fosse uma provocação aos demais jogadores. Alegação absolutamente sem sentido. O atacante do Real Madrid dança para festejar seus gols, apenas isso. Reage como um brasileiro autêntico, que curte dança e música.

As críticas fizeram com que o movimento racista ganhasse ainda mais força nas arquibancadas com reflexos na disputa em campo. Vinícius passou a tomar pancada sempre que parte para o drible, sob a complacência criminosa dos árbitros espanhóis.

Os lances truculentos são frequentes contra o brasileiro. Açulados pelas torcidas, os adversários sentem-se encorajados a agir assim. Até um brasileiro acertou Vinícius com pontapé sem bola no jogo de duas semanas atrás. Depois, pediu desculpas ao clube e à torcida, mas ignorou a vítima.  

Imagens de uma partida recente contra o Mallorca atestam a perseguição covarde. Um torcedor aparece gritando para o brasileiro: “Macaco… é um p… macaco”. No campeonato de 2022, no mesmo estádio Son Moix, em Mallorca, Vinícius teve que ouvir gritos de “vá colher bananas”.

Sem recursos técnicos para deter as arrancadas de Vinícius, pernas de pau se valem da alegação – sem fundamento – de que os dribles do brasileiro teriam a intenção de ridicularizá-los. Fico a imaginar o que fariam com Mané Garrincha, se o Anjo Torto ressuscitasse de repente.

Além de um boneco enforcado, exposto às proximidades do centro de treinamentos do Real, há alguns dias, os inimigos de Vinícius se empenham em criar hinos de cunho racista, em tom cada vez mais ameaçador.

No sábado, a história se repetiu. Hostilidades foram registradas durante a vitória do Real sobre o Osasuna, por 2 a 0. O goleiro Courtois disse à TV que um canto ofensivo foi dirigido ao brasileiro: “Morra, Vinicius”, além de xingamentos até no minuto de silêncio antes do jogo.

“Ele [Vini Jr] foi chamado de ‘filho da p…’ no minuto de silêncio e também cantaram ‘morra, Vinicius’. Ver pais com seus filhos fazendo isso é lamentável. É hora de parar de olhar ao Vini e olhar para as pessoas”, disse Courtois. A pressão, porém, não afetou o desempenho do atacante, que foi um dos melhores do Real na partida.

A questão é que, a cada nova rodada, Vinícius é achincalhado. Não há como suportar tanta ofensa. A intolerável onda neonazista só será contida com a criminalização dos culpados. Até agora, LaLiga e o próprio Real se limitaram a soltar notas de repúdio. É pouco. Com fascistas é preciso ser firme. 

Fifa e CBF estão a dever um posicionamento mais claro e determinado. O crime não pode ficar impune. Por outro lado, esperar solidariedade e engajamento é perda de tempo. Alienados, sem personalidade para se manifestar, os astros nacionais irão permanecer calados, deixando Vinícius à mercê da ira dos insanos.

Japiim decepciona e é eliminado em casa pelo Ariquemes

Foi uma ducha de água fria no entusiasmo do torcedor castanhalense. O time paraense estreou na Copa Verde, ontem à tarde, dentro de casa, e foi derrotado pelo Real Ariquemes, de Rondônia, por 3 a 2. Os visitantes foram donos absolutos do confronto, marcando três vezes, com Léo Mineiro, e perdendo várias chances para ampliar.

O Castanhal reagiu no final, encostou no marcador e teve um pênalti em seu favor, mas Jonathan desperdiçou, batendo à direita da trave. A pífia atuação do Japiim é reveladora da fragilidade técnica dos times paraenses neste começo de temporada.

O Campeonato Paraense expõe equipes que apelam sempre para a correria, os chutões a esmo e o rodízio de faltas como recurso nos jogos. O Real Ariquemes mostrou que, com um mínimo de organização, é possível superar um time do bloco intermediário do Parazão.

Apesar de surpreendente, o resultado deve servir de alerta para os demais clubes paraenses envolvidos em torneios regionais e nacionais. Com a inscrição “Socorro, salvem o futebol de Rondônia” estampada na camisa, o Real denunciou a precariedade do futebol rondoniense.

Sem patrocinador, o time veio com apenas cinco jogadores no banco de reservas. Fez um jogo de superação e levou a melhor. Agora, parte para o segundo desafio: enfrentar o Paysandu, quarta-feira, na Curuzu.

Um azulino ilustre rasga a folhinha

A coluna é dedicada a meu mano Edilson, azulino de coração e botafoguense discreto, no berço hoje. Lá de seu refúgio em Tucuruí, ele acompanha tudo sobre o Leão, com olhos sempre críticos. Meus votos de felicidade e muita saúde.

(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 20)

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