POR GERSON NOGUEIRA

Andar de sapato alto nas areias marroquinas não foi uma boa ideia para o Flamengo de Vítor Pereira. A visível autossuficiência dos rubro-negros, que em alguns momentos andou beirando a arrogância, foi duramente punida ontem diante do Al Hilal na semifinal do Mundial de Clubes. E nem adianta arranjar desculpas com as marcações da arbitragem, como tentou fazer bizarramente o técnico português.
Os pênaltis que deram a vitória parcial ao Al Hilal no 1º tempo foram indiscutíveis. A expulsão de Gerson, que já tinha amarelo, também foi correta. Sem poder questionar as penalidades, a reclamação de Pereira se concentrou nos cartões amarelos.
Como se fosse algo assim inaceitável para o Flamengo receber advertências por simulação e deboche. Sim, todos sabem que no futebol brasileiro atitudes antidesportivas são toleradas e nunca têm maiores consequências, principalmente para jogadores rubro-negros.
O problema é que o árbitro romeno Istvan Kovacs não deu a mínima para os queixumes de Davi Luiz e Gabriel Barbosa, e tratou de conduzir o jogo conforme as regras. Na verdade, o Flamengo foi surpreendido pela disposição ofensiva do Al Hilal, tomou o gol muito cedo e ficou pilhado.
A partir daí, o propalado favoritismo virou pó. O técnico, ainda atordoado na entrevista pós-jogo, chegou a dizer que foi superior na primeira etapa, o que é uma afronta aos fatos. Em nenhum momento houve tal superioridade. O goleiro do Al Hilal não fez uma grande defesa, a não ser interceptando cruzamentos. O gol de Pedro, aos 20 minutos, veio em consequência do único bom ataque do Flamengo na etapa inicial.
Outros clubes nacionais classificados para o Mundial de Clubes já deram vexame antes. Internacional, Atlético-MG e Palmeiras também foram eliminados nas semifinais, mas o fiasco rubro-negro chama atenção pelo oba-oba que se criou nas últimas semanas, amplificado pelas notícias de que o Real teria desfalques sérios no torneio.
Um programa da Globo deu-se à pachorra de criar um personagem satírico para “secar” o Real. Deveriam lembrar que, antes de encarar o time de Ancelotti, era necessário passar pelo modesto Al Hilal, que representa um país apaixonado por futebol e que não fez feio na Copa do Qatar.
Quem esperava um passeio do Flamengo teve que assistir a proeza do Al Hilal, mais organizado e consciente de seu papel. Recuperava todas as bolas no meio-campo e buscava os lados, explorando as fragilidades do campeão da Libertadores – problemas citados aqui na coluna.

Além de pressionar com inteligência, evitando se expor, o Al Hilal armou um cinturão de marcação eficiente sobre Arrascaeta e Everton Ribeiro, ambos apagados em campo. Gabriel Barbosa mostrou pouca mobilidade.
O segundo gol, após pênalti de Gerson, foi determinante para o resultado, pois deixou o meio-campo desarticulado com a expulsão do volante. No 2º tempo, o Al Hilal teve tranquilidade para fazer o terceiro gol e só sofreu uma meia pressão nos minutos finais, quando Pedro diminuiu. Vitória tranquila e merecida do time saudita.
Tropeços brasileiros atestam superioridade europeia
Fala-se muito do desinteresse dos clubes europeus pelo Mundial de Clubes. Curiosamente, se isso for verdade, significa que os representantes do Velho Mundo seguem muito superiores aos sul-americanos. A última vitória brasileira ocorreu há dez anos, com o Corinthians. Desde então, os times da Europa parecem mais focados e determinados a vencer, não dando chance nem mesmo para times zebrados que infernizam a vida dos brasileiros.
Enquanto seis times da América do Sul (quatro brasileiros) caíram nas semifinais, nenhum europeu ficou pelo caminho. Sempre chegam à decisão, sem muita dificuldade, ignorando os azarões do Terceiro Mundo do futebol. Melhores times do continente nos últimos quatro anos, Flamengo e Palmeiras foram as vítimas mais recentes.
Pachequismo vira desolação após eliminação
A mídia do Sudeste parecia mais incomodada por ter que se justificar pela algazarra em torno do Flamengo, como se o título fosse fácil de alcançar. É fato que a cobertura patrioteira às vésperas do embarque exagerou nas tintas de otimismo. Incentivar o clima de alto astral é aceitável, mas vira problema quando o lado festivo colide com a realidade.
A transmissão ao vivo do trajeto da delegação, antes do embarque no Rio de Janeiro, levou uma hora e meia, com direito a análises detalhadas sobre o ônibus e os humores do torcedor que se postava ao longo do percurso. Algo inacreditável e que expôs a adulação exagerada.
Ontem à noite, depois do desastre, impressionava o ar contrafeito dos analistas, talvez pesarosos pelo excesso de entusiasmo na cobertura que antecedeu o Mundial. Pareciam mais desolados que os próprios jogadores do Flamengo. Que fique a lição. Equilíbrio é fundamental.
Edson Cimento: livro narra trajetória de um campeão
Vi Edson Cimento (ainda sem o apelido) em ação logo no começo da carreira, defendendo o extinto Sporting em um amistoso contra o selecionado de Baião, lá pelos idos dos anos 1970. Ele já era uma figura impressionante embaixo do gol, com saídas arrojadas e um grande senso de colocação.
É sobre sua carreira vitoriosa, forjada em sacrifício e superação, que versa o livro “Edson Cimento – o melhor goleiro do Brasil em 1977”, que será lançado hoje por Mauro Humberto Brandão em coquetel na sede do Clube do Remo, em Nazaré, às 18h30, com a presença do ex-goleiro. O evento terá show de Allex Ribeiro.
(Coluna publicada na edição do Bola desta quarta-feira, 08)