Base serve para baixar média de idade

POR GERSON NOGUEIRA

Faz tempo que a oportunidade tão sonhada para atletas das divisões de base dos grandes da capital se limita a constar da relação oficial de jogadores, divulgada em janeiro, para a disputa do Campeonato Estadual. É o que ocorre em todas as temporadas, sem exceção.

Na verdade, o ritual começa com a chegada dos técnicos, invariavelmente preocupados em garantir que gostam de trabalhar com revelações do próprio clube. Em seguida, prometem dar espaço para a utilização dos meninos no elenco profissional.

Isso tudo dura mais ou menos um mês, até o momento da estreia no campeonato, quando fica novamente configurada a velha prática de deixar os moleques em terceiro ou quarto plano. Não é o caso de se pretender que a garotada seja priorizada ou tenha direito natural à titularidade.

O problema é que não há chance mais propícia para testar jogadores da base do que o estadual. Entre todas as competições previstas para a temporada – Parazão, Copa Verde, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro da Série C – nenhuma oferece mais flexibilidade que o torneio regional.

É quando, em alguns jogos, em tese mais fáceis, os técnicos podem se dar ao luxo de fazer experiências, observar atletas com cuidado e sem preocupação com os riscos de uma derrota. Depois do Parazão fica praticamente impossível dar nova oportunidade aos inexperientes valores formados no próprio clube.

Nos últimos anos, o PSC teve poucas revelações da base utilizadas no Parazão. Em 2022, o volante Yure chegou a atuar seguidamente em partidas da fase inicial do campeonato, mas foi sacado quando começaram as fases decisivas. Em consequência disso, no Campeonato Brasileiro, foi completamente esquecido.

O técnico Márcio Fernandes preferiu até improvisações desastrosas com o zagueiro Bruno Leonardo a escalar Yure novamente. Apesar das críticas à má performance do zagueiro, ele seguiu atuando, enquanto o volante pertencente ao clube era deixado de lado.

Para esta temporada, a base aparece novamente contemplada na lista oficial de jogadores para a disputa do Parazão. Estão lá o goleiro Claudio Vítor, o zagueiro Lucas Marreiros, o lateral Juan Pitbull, os meias Rikelton e Eric e o atacante Roger. Dos seis, chances maiores para Pitbull e para Roger, que apareceu (bem) no amistoso contra o São Francisco, domingo.

Por enquanto, a única vantagem da inclusão dos garotos no elenco é a utilização deles para baixar a média de idade dos atletas. Graças aos seis da base, o elenco tem média acima de 27 anos. Sem eles, a média iria bater na casa dos 30 devido à presença de vários jogadores na faixa acima de 33. Já é, convenhamos, uma bela contribuição.

Mineiros dificultam, mas Verdão confirma favoritismo

O Palmeiras, como era mais ou menos previsto, faturou outra vez a Copa São Paulo de Juniores. Venceu, na final, o time do América-MG por 2 a 1, um placar que retrata bem o equilíbrio da batalha em campo. Sob certo aspecto, o bem treinado time palmeirense foi surpreendido pela aplicação dos meninos do time mineiro.

Por pouco, os mineiros não conseguiram a façanha de desbancar o Verdão em plena capital paulista. Foi um jogo de velocidade, com esquemas abertos e sem preocupações defensivas maiores, o que é tranquilizador em tempos de sistemas medrosos e fechados.

Sem nenhuma estrela do nível de Endrick, revelação do ano passado que já foi negociado com o Real Madrid, o Palmeiras precisou lançar mão do entrosamento da equipe para suplantar os americanos. Ainda assim, o gol da vitória nasceu no último minuto dos acréscimos.

Zebras obrigam mídia a ginásticas para defender gigantes

Os campeonatos estaduais estão em pleno desenvolvimento, há pelo menos três semanas, com alguns resultados que confirmam a natureza imprevisível da disputa. Sim, os certames regionais são os que mais possibilitam o surgimento de resultados inesperados. Times emergentes conseguem, com algum esforço, até se igualar aos clubes que mantêm elencos milionários.

Nada que abale o favoritismo de Palmeiras, Corinthians e São Paulo no Paulistão ou de Flamengo e Fluminense no Carioca. O lado divertido da coisa é que ao longo desta fase inicial, sujeita a ajustes nas equipes, os grandes correm riscos de tombos vexatórios.  

Outra chance de diversão está nas explicações mirabolantes que os canais esportivos da TV buscam para justificar (ou atenuar) resultados ruins dos favoritos. O Corinthians, nas mãos do iniciante Fernando Lázaro, anda tropeçando direto, o que inferniza a vida da mídia esportiva, sempre pressurosa em passar pano para o esquadrão de Itaquera.

O mesmo se aplica às considerações feitas ao Flamengo, de elenco milionário e verbas sempre robustas, cujos tropeços são sempre atribuídos à prioridade que o português Vítor Pereira precisa dar ao Mundial de Clubes, ignorando a ampla variedade de opções no elenco do clube.

Surge sempre um comentário condescendente a fim de não desgostar as massas – principalmente aquelas que influem na audiência. E os absurdos não cessam. O clássico entre Palmeiras e São Paulo, domingo, horroroso sob todos os aspectos, repercutiu até ontem nos canais fechados, como se tivesse a importância de uma final de Copa do Mundo.

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 26)

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