
Por Leandro Stein, no Trivela
Pelé se eternizou além dos lances. Também se colocou acima dos números. Não se resume apenas à fama. É a aura que torna Pelé tão grandioso ao futebol. Porque, afinal, o camisa 10 lendário deixou de ser um simples humano há décadas. O craque é, na verdade, uma entidade – e por isso às vezes a gente perde de vista o que foi, ou diminua o homem falível. Não há sinônimo maior de futebol do que Pelé. E, por isso mesmo, o que carrega consigo acaba sendo muito mais sublime. É literatura, prosa de uma conquista ou poesia de um lance. É pintura, pincelada em seus gols. É música, resumida pela voz empolgada dos narradores que tiveram a honra de transmitir suas façanhas. Arte no estado mais puro e, ao mesmo tempo, mitológico. Pois o que importa, toque de exagero em uma realidade já superlativa, é o encantamento que todo mundo aguarda como clímax diante da bola.
Entre aqueles que melhor resumiram Pelé, está Nelson Rodrigues. E a pena privilegiada do cronista teve ares proféticos em 8 de março de 1958, a três meses do garoto de 17 anos eclodir na Copa do Mundo. Um reles America x Santos tornou-se caminho à coroação, possibilitada pelas palavras impressas na coluna do carioca na Manchete Esportiva. Classe em campo e no papel, que ajudam a sustentar essa aura do Rei.
A realeza de Pelé, por Nelson Rodrigues

(Manchete Esportiva, 8 de março de 1958)