
POR GERSON NOGUEIRA
Morreu nesta segunda-feira, 26, o jornalista e publicitário Anselmo Gama. Estava em tratamento intensivo há alguns meses. Aos 73 anos, era um dos mais conhecidos e queridos nomes da imprensa e da publicidade do Pará, rara unanimidade de um segmento profissional onde a competitividade mais afasta do que aproxima as pessoas.
Começou como repórter de O Liberal nos anos 1970, onde foi chefe de reportagem durante muitos anos, quando a redação tinha Cláudio Sá Leal como editor-chefe. Nessa época, começamos a trabalhar juntos. Ele cuidava com esmero das pautas do dia em tempos desafiadores, ainda pré-internet.
Passou um curto período no jornal O Estado do Pará, de Avertano Rocha, e passou pela TV Cultura, sempre na chefia de reportagem. Anos depois, migrou para a publicidade e o marketing eleitoral, com grande sucesso.
Fundou a Agência Fax, junto com a esposa, a jornalista e publicitária Socorro Oliveira. Voltamos a trabalhar juntos, por cerca de oito anos. Sob sua orientação, produzi matérias para o caderno Negócios (de Mauro Bonna) aqui no DIÁRIO.
A notícia de sua morte, divulgada na manhã de ontem, deixou a comunidade jornalística paraense de luto, em estado de comoção, principalmente porque a maioria desconhecia a gravidade de seu estado de saúde nos últimos meses.
Através das redes sociais, antigos colegas e amigos expressaram seus sentimentos em relação a Anselmo, conhecido pelo temperamento afável e a generosidade. Costuma-se saudar quem morre destacando virtudes, às vezes com exagero, mas neste caso todas as menções ao caráter de Anselmo são inteiramente verdadeiras e justas.
Companheiro de todas as horas, ajudou muitos jornalistas em momentos de dificuldades. Fui um deles. Através de sua agência, deu emprego a muita gente. Sou testemunha desses gestos (sempre discretos) de bonomia e solidariedade.
O mais interessante na figura do Anselmo era a vocação para a alegria. Sempre pronto a um trocadilho espirituoso, rivalizava em verve com o também saudoso Joaquim Antunes. Não havia tema que não lhe inspirasse uma boa piada, principalmente na seara política.
Competente ao extremo, era dono de um texto afiado, embora poucas vezes se dispusesse a mostrar essa habilidade. Transitava do jornalismo para a propaganda com extremo profissionalismo.
Um dos últimos trabalhos que fizemos foi em 2018, na produtora DC3, por ocasião da campanha eleitoral do então candidato Jader Barbalho (MDB), reeleito senador naquela oportunidade. Uma equipe que contava também com o publicitário Zé Paulo, o jornalista Paulo Faustino e o cinegrafista Jacob Serruya.
Foi, como sempre, um prazer imenso dividir com ele e com os demais profissionais a edição/produção dos programas do senador, em meio a lembranças bem humoradas sobre personagens vivos (e ausentes).
Admirador de música popular brasileira desde os tempos de Santarém, onde nasceu e chegou a ser um diligente goleiro amador, Anselmo tinha nas viagens o principal foco de lazer. Conhecia vários países e era um expert em dicas sobre gastronomia e rotas internacionais.
Além desse hobby, cultivava um outro, ainda mais nobre. Era apaixonado pela convivência com os amigos, a quem sempre dedicava preciosas porções de atenção e carinho. Tenho orgulho de dizer que fui – como tantos – um desses privilegiados.