Os prejuízos para um país que por 4 anos negou a Ciência

Por Rudolfo Lago, no Congresso em Foco

De acordo com a CPI da Covid, foram 34 tentativas infrutíferas. O laboratório Pfizer, que desenvolveu junto com a Biontech uma das principais vacinas contra a covid-19, imaginava que o Brasil poderia ser um bom campo para o desenvolvimento da vacina e para conter a pandemia. Afinal, o Brasil é um dos maiores países do hemisfério Sul. Além disso, possuía uma eficiente organização vacinal, já testada e comprovada no combate a outras doenças.

O laboratório Pfizer só não contava com o fato de que, agora, o governo era comandado por um grupo que desprezava a ciência, que negava a importância do conhecimento científico e tecnológico. Que preferia acreditar, sabe-se por que razões, em panaceias não comprovadas, como o uso da cloroquina, um medicamento para malária. Num delírio crescente que fez com que, em determinado momento, o presidente Jair Bolsonaro chegasse a sair correndo pelos gramados do Palácio da Alvorada oferecendo caixas do comprimido para as emas.

“Em meio a um discurso oficial de negação da Ciência, o sistema federal de fomento da área de CT&I [Ciência, Tecnologia e Inovação] entrou em virtual colapso”, diagnostica o relatório da transição. “As instâncias de diálogo entre o governo federal e seus parceiros nas áreas de ciência, tecnologia e inovação foram desvirtuados ou esvaziados, substituídos pela imposição unilateral de prioridades e programas por meio de decretos ou portarias, em geral para tentar legitimar um quadro de retração de investimentos ou para atender interesses isolados de ocupantes de cargos na cadeia de comando do Ministério da área. Como resultado, houve grande pulverização de iniciativas e sobreposição de ações, com relevância e impacto limitados”.

Durante o governo Bolsonaro, o Ministério da Ciência e Tecnologia foi ocupado pelo tenente-coronel da Aeronáutica Marcos Pontes, primeiro e único brasileiro a viajar para o espaço como astronauta e agora senador eleito pelo PL de São Paulo.

O relatório da transição propõe a “necessidade de reorganização do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI)”. Em primeiro lugar, aponta o texto que será preciso “recompor e ampliar” o financiamento para o setor, “garantindo a liberação integral dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), cuja Secretaria Executiva é exercida pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP)”. Além disso, será preciso recuperar o próprio orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia e de suas unidades e agências, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“É fundamental remontar a estrutura organizativa do MCTI, tendo por objetivo a promoção do desenvolvimento científico e tecnológico nacional”, diz o texto. “É necessário, igualmente, recompor e revitalizar as instâncias de diálogo e participação da sociedade civil na construção das políticas públicas para a área, como o Conselho de Ciência e Tecnologia (CCT) e o Conselho Diretor do FNDCT, além de realizar nova Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação cuja última edição ocorreu em 2010”, aponta o relatório.

“No contexto de expansão acelerada da sociedade do conhecimento, a área de Ciência, Tecnologia e Inovação torna-se um pilar central para a reconstrução, a reindustrialização e o desenvolvimento econômico, social e ambiental do país”, considera o relatório da transição.

Terrorista teve contato com general e plano original previa um “banho de sangue”

Da Revista Fórum

George Washington de Oliveira Sousa, o homem de 54 anos acusado por tentativa de armar atos de terrorismo em Brasília contra a eleição e posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), deu seu depoimento à Polícia Civil do Distrito Federal na noite do último domingo (25). Nele, o bolsonarista afirma ter contatado um “importante general do Exército” e que, após desdobramento do plano original, poderia ocorrer um “banho de sangue”.

Washington foi preso no último sábado (24) por deixar uma bomba caseira em via pública próxima ao aeroporto de Brasília com a intenção de explodir um caminhão de combustível. O objetivo era o de impor o caos na capital federal, para que o Governo Federal pudesse decretar estado de sítio e, assim, facilitar um possível golpe ou manobra para que Jair Bolsonaro (PL) permanecesse no poder.

O plano, frustrado por uma denúncia anônima, envolvia a instalação de bombas em pelo menos dois lugares, uma delas em postes próximos à usina de subestação de energia em Taguatinga, cidade-satélite de Brasília, localizada dentro do Distrito Federal.

George Washington conta no depoimento que decidiu ir a Brasília em 12 de novembro, a fim de participar dos acampamentos estabelecidos diante do Quartel-General do Exército, após participar de protestos no Pará, onde vive, contrários aos resultados do segundo turno das eleições, realizado em 30 de outubro. Ele conta que levou consigo todo o seu arsenal, avaliado em R$ 160 mil em uma caminhonete Mitsubishi Triton.

“Desses itens, o único que eu não tinha licença para possuir eram as dinamites que eu comprei por R$ 600,00 de um homem do Pará que me trouxe os explosivos quando eu já estava em Brasília. Eu também não possuía a guia de transporte das armas e caso fosse parado pela polícia na estrada, a minha ideia era acionar o Pró Armas para justificar a minha participação em alguma competição de tiro”, declarou.

Ao chegar à capital federal, hospedou-se no Econotel e, em seguida, alugou dois apartamentos no Sudoeste da cidade através do site Airbnb. Ele conta que nos acampamentos suspeitou da presença de “petistas infiltrados” entre os ambulantes, que estariam vendendo água e comida intoxicada aos presentes.

“Em posse dessas informações, há 3 semanas eu entrei em contato com um importante general do Exército e reportei a ele tudo sobre os infiltrados petistas no acampamento e disse que em breve poderia haver um grande derramamento de sangue se nada fosse feito. No dia seguinte, os militares do exército expulsaram todos os ambulantes do acampamento”, declarou.

Em 12 de dezembro, quando o Cacique Tserere foi preso sob ordens do ministro Alexandre de Moraes, do STF, Washington alega que conversou diretamente com policiais militares e bombeiros que, responsáveis por conter eventuais manifestações, o teriam garantido que não iriam fazer nada em casa de vandalismo e destruição por parte dos bolsonaristas. A única condição é que não atacassem os policiais.

Bombas e fim da eletricidade

Após o episódio, ele conta que começou a elaborar um plano, junto com colegas do acampamento do QG para, em suas palavras, “provocar a intervenção das Forças Armadas e a decretação de um estado de sítio para impedir a instauração do comunismo no Brasil”.

Ele diz que em 22 de dezembro surgiu a ideia coletiva no acampamento de explodir bombas no estacionamento do aeroporto de madrugada para, em seguida fazer denúncias anônimas sobre a presença de outras bombas espalhadas no local. No dia seguinte (23), uma mulher desconhecida teria sugerido que a explosão ocorresse na usina de subestação de energia de Taguatinga a fim de deixar Brasília sem luz. O plano não teria dado certo pela falta de um carro que pudesse levar a bomba ao local.

“Ao contrário da mulher, um homem chamado Alan, que eu já tinha visto algumas vezes no acampamento, se mostrou mais disposto e se voluntariou para instalar a bomba nos postes de transmissão de energia que ficam próximos à subestação de Taguatinga, já que era mais fácil derrubar os postes do que explodir a subestação como foi pensado originalmente. Por volta 11h:30, um manifestante desconhecido que estava acampado no QG me entregou um controle remoto e 4 acionadores. Em posse dos dispositivos, eu fabriquei a bomba colocando uma banana de dinamite conectada a um acionador dentro de uma caixa de papelão que poderia ser disparada pelo controle remoto a 50 a 60 metros de distância”, relatou Washington.

Ele conclui dizendo que entregou a bomba para Alan a fim de que fosse instalada nos postes próximos à usina. George Washington afirmou que jamais concordou com a ideia de explodi-la no aeroporto.

Leia depoimento na íntegra

“Moro na cidade de Xinguá no estado do Pará e trabalho como gerente de posto de gasolina. Desde a eleição do Bolsonaro eu passei a apoiá-lo por acreditar que ele é um patriota e um homem honesto. E em outubro de 2021 eu tirei minhas licenças para adquirir armas (CR e CAC) e desde então gastei cerca de R$ 160 mil na compra de pistolas, revólveres, fuzis, carabinas e munições.

“O que me motivou a adquirir as armas foram as palavras do presidente Bolsonaro, que sempre enfatizava a importância do armamento civil, dizendo o seguinte: ‘Um povo armado jamais será escravizado’, e também a minha paixão por armas que tenho desde a juventude. 

“Após o 2º turno das eleições eu passei a participar de protestos no Pará e no dia 12/11/2022 eu vim a Brasília com a minha caminhonete Mitsubishi Triton levando comigo duas escopetas calibres 12; 2 revólveres calibre .357; 3 pistolas, sendo duas Glocks e uma CZ Shadow 2; 1 fuzil Springfield calibre .308; mais de 1.000 munições de diversos calibres e 5 bananas de dinamite (emulsão).

“Desses itens, o único que eu não tinha licença para possuir eram as dinamites que eu comprei por R$ 600,00 de um homem do Pará que me trouxe os explosivos quando eu já estava em Brasília. Eu também não possuía a guia de transporte das armas e caso fosse parado pela polícia na estrada, a minha ideia era acionar o Pró Armas para justificar a minha participação em alguma competição de tiro.

“A minha ida até Brasília tinha como propósito participar dos protestos que ocorriam em frente ao QG do Exército e aguardar o acionamento das forças armadas para pegar em armas e derrubar o comunismo. A minha ideia era repassar parte das minhas armas e munições a outros CACs que estavam acampados no QG do Exército assim que fosse autorizado pelas forças armadas.

“Assim que cheguei em Brasília eu fiquei hospedado no Econotel e depois aluguei 2 apartamentos no Sudoeste pelo Airbnb. Durante o período em que frequentei o acampamento montado em frente ao QG do Exército, eu percebi que havia vários petistas infiltrados entre os ambulantes que passaram a envenenar os alimentos vendidos aos bolsonaristas com a intenção de desmobilizar os manifestantes, além de provocar tumultos e desordem entre as pessoas.

“Em posse dessas informações, há 3 semanas eu entrei em contato com um importante general do Exército e reportei a ele tudo sobre os infiltrados petistas no acampamento e disse que em breve poderia haver um grande derramamento de sangue se nada fosse feito. No dia seguinte, os militares do exército expulsaram todos os ambulantes do acampamento.

“No dia 12/12/2022 houve o protesto contra a prisão do índio, onde eu conversei com os PMs e os Bombeiros responsáveis por conter os manifestantes que me disseram que não iriam coibir a destruição e o vandalismo desde que os envolvidos não agredissem os policiais. Ali ficou claro para mim que a PM e o Bombeiro estavam ao lado do presidente e que em breve seria decretada a intervenção as forças armadas.

“Porém, ultrapassados quase 1 mês, nada aconteceu e então eu resolvi elaborar um plano com os manifestantes do QG do Exército para provocar a intervenção das forças armadas e a decretação de estado de sítio para impedir a instauração do comunismo Brasil.

“No dia 22/12/2022, vários manifestantes do acampamento conversaram comigo e sugeriram que explodíssemos uma bomba no estacionamento do Aeroporto de Brasília durante a madrugada e em seguida fizéssemos denúncia anônima sobre a presença de outras duas bombas no interior da área de embarque.

“E no dia seguinte, (23/12/2022) uma mulher desconhecida sugeriu aos manifestantes do QG que fosse instalada uma bomba na subestação de energia em Taguatinga para provocar a falta de eletricidade e dar início ao caos que levaria a decretação do estado de sítio. 

“Eu fui ao local apontado pela mulher em Taguatinga em uma Ford Ranger branca de um dos manifestantes do acampamento, mas o plano não evoluiu porque ela não apresentou o carro para levar a bomba até a transmissora de energia.

“Ao contrário da mulher, um homem chamado Alan, que eu já tinha visto algumas vezes no acampamento, se mostrou mais disposto e se voluntariou para instalar a bomba nos postes de transmissão de energia que ficam próximos à subestação de Taguatinga, já que era mais fácil derrubar os postes do que explodir a subestação como foi pensado originalmente.

“Eu disse aos manifestantes que tinha a dinamite, mas que precisava da espoleta e do detonador para fabricar a bomba. No dia 23/12/2022, por volta 11h:30, um manifestante desconhecido que estava acampado no QG me entregou um controle remoto e 4 acionadores. Em posse dos dispositivos, eu fabriquei a bomba colocando uma banana de dinamite conectada a um acionador dentro de uma caixa de papelão que poderia ser disparada pelo controle remoto a 50 a 60 metros de distância.

“Eu entreguei o artefato ao Alan e insisti que ele instalasse em um poste de energia para interromper o fornecimento de eletricidade, porque eu não concordei com a ideia de explodi-la no estacionamento do aeroporto. Porém, no dia 23/12/2022 eu soube pela TV que a polícia tinha apreendido a bomba no aeroporto e que o Alan não tinha seguido o plano original.

“Ontem, dia 24/12/2022, eu observei durante a tarde uma movimentação de pessoas estranhas nas redondezas do prédio onde eu estava hospedado e desconfiei que fossem policiais. Então eu arrumei as malas e coloquei as armas na caminhonete para ir embora na manhã do dia 25/12/2022. No dia 24/12/2022, por volta das 19h:00, policiais civis me abordaram embaixo do prédio e confessei a posse das armas e dos explosivos.”

Enfim, um bom negócio

POR GERSON NOGUEIRA

Foi a mais vultosa transação feita pelo PSC em toda sua história. Conseguiu vender o atacante Marlon com o Gil Vicente, de Portugal, por algo em torno de 350 mil euros, quase R$ 2 milhões. Posicionando-se no mercado nos últimos anos como ponte para atacantes goleadores, o clube negociou pelo menos cinco atletas desde o início deste século, mas nenhum deles pelo valor obtido agora.

O primeiro foi o centroavante Lima, que caiu em desgraça junto à torcida pelo pênalti desperdiçado diante do Brasília na decisão da primeira Copa Verde. O clube obteve algum dinheiro com a saída do jogador, mas nada tão lucrativo como agora.

Depois disso, negociou Cassiano, Bergson e Nicolas, com resultados financeiros progressivamente melhores. Nicolas, cedido ao Goiás, garantiu quase R$ 1 milhão aos cofres bicolores. Uma situação que tem semelhança com a de Marlon. Nicolas chegou a Belém sem maiores credenciais, como um meia-atacante quase desconhecido.

Na Curuzu, transformou-se em goleador e ídolo da torcida por duas temporadas. A quantidade de gols marcados e a regularidade de suas atuações alavancaram a saída. Chegou a estar nos planos do Vasco, mas terminou negociado com o Goiás.

O anúncio da venda de Marlon é também uma confirmação do acerto do negócio que o clube fez há três anos com o modesto Porto, de Sergipe. À época, um contrato surpreendentemente longo (até 2024) gerou críticas. Marlon tinha se saído bem nos primeiros jogos com a camisa do PSC, mas depois disso experimentou um período de queda de rendimento.

Quase ninguém, há dois anos, acreditava que ele geraria algum lucro para o PSC. Parecia um caso perdido, fadado a prejuízo. A virada aconteceu no Brasileiro da Série C deste ano, quando ele virou protagonista – coincidência ou não, após a saída do ídolo Nicolas.

Marcou 10 gols no Brasileiro e ganhou destaque, embora tenha travado na reta final da competição, o que contribuiu para o fracasso do Papão na tentativa de conquistar o acesso à Série B. A recompensa viria com o interesse do Gil Vicente, clube português de pequeno porte, conhecido por ser porta de entrada para jogadores contratados no futebol brasileiro.

O jornal A Bola, de Lisboa, deu números à transação, apesar do mistério criado pela diretoria do PSC. O Gil Vicente comprou 50% dos direitos econômicos e 100% dos direitos federativos de Marlon. Ao PSC cabem ainda 30%, enquanto o Porto mantém 20%. Bom para todo mundo, principalmente para Marlon, que tem a chance de engatar uma carreira internacional.

Com uma passagem cheia de altos e baixos, o atacante jogou 90 partidas pelo PSC, fazendo 25 gols – 16 só na atual temporada.

Qatar não pretende deixar o assunto Copa esfriar

O governo do Qatar, satisfeitíssimo com os dividendos políticos da Copa para a imagem do país, fez chegar à imprensa internacional a notícia de que o quarto onde Lionel Messi dormiu durante sua permanência em Doha irá se tornar um museu em sua homenagem. Para quem estranhou o exagero da iniciativa, embora o camisa 10 argentino seja digno de todos os rapapés, é importante lembrar o esforço catariano para explorar ao máximo os efeitos midiáticos da competição.

Há uma óbvia pressa em não deixar o assunto morrer e Messi, como astro maior do futebol atual, é o nome a ser explorado. Dois dias depois do término da Copa, Doha amanheceu cheia de estandartes e cartazes homenageando a Argentina e seu principal jogador. Nas ruas, nos prédios e no aeroporto de Hamad, onde a todo instante painéis eletrônicos saudavam os campeões do mundo.

Passada a primeira semana pós-Copa, as autoridades catarianas devem ter percebido que o massivo noticiário sobre a competição desde novembro começou a perder espaço para outros temas. Tratou, então, de reavivar as coisas. O quarto de Messi não é lá uma senhora atração, mas, a essa altura, vale tudo para manter a chama acesa.

Não é só futebol. É, acima de tudo, marketing político, pois o Qatar anseia ocupar papel mais destacado no Oriente Médio. Não basta as montanhas de dinheiro que fazem do país proporcionalmente o mais rico do mundo. Eles querem mais, muito mais. A suntuosidade dos prédios, viadutos e algumas construções espalhafatosas são apenas um indício visível dessa megalomania da monarquia absolutista que reina no pequeno país.

Ao mesmo tempo, o culto em torno da figura de Messi certamente não se restringe ao gesto do governo catariano. A Fifa já arma suas garras para explorar o super craque argentino até virar suco. Os lucros que não conseguiu auferir, pelas razões óbvias, com o indomável Diego Maradona serão resgatados com a marca Messi. Diferente de Dieguito, que se posicionava como crítico implacável de Havelange & gang, La Pulga parece bem mais afeito a salamaleques oficiais. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta quarta-feira, 28)