Deu a lógica. como se diz em linguagem de futebol. Nesta quarta-feira (14), a França venceu Marrocos por 2 a 0, afastou a ameaça de zebra e se classificou para a final da Copa do Mundo. No próximo domingo (18), os franceses enfrentarão a Argentina num duelo de bicampeões Mundiais. Quem vencer, conquistará o terceiro título de Copas.
Embora o placar demonstre certa tranquilidade, a França sofreu com a seleção de Marrocos, mas o time de Didier Deschamps “soube sofrer”. No ataque, marcaram primeiro com Theo Hernandez, aos quatro minutos, depois com Kolo Muani, aos 34 da etapa final.
Para Marrocos, que fez história ao se tornar a primeira seleção africana a se classificar para uma semifinal de Copa, também ainda não acabou. No sábado, ao 12h, os marroquinos enfrentarão a Croácia na disputa de terceiro lugar.
“Quem me dera, ao menos uma vez, que o mais simples fosse visto como o mais importante” (Renato Russo, em “Indios”)
O croata Luka Modric e o brasileiro Rodrygo são colegas no Real Madrid, talvez o clube mais vitorioso do mundo.
Modric já está lá há dez anos, enquanto Rodrygo é recém-chegado.
Na incrível virada do time contra o Chelsea, na semifinal da Champions League, o jovem e talentoso brasileiro marcou um gol decisivo, com assistência perfeita do veterano colega. Os dois trocaram elogios entusiasmados nas entrevistas.
A vida de Luka Modric dará um bom filme, algum dia. Criança e adolescente criado em plena da guerra de independência de seu país, com direito a ver o avô assassinado na porta de sua casa quando tinha seis anos, ele foi refugiado e aprendeu a jogar bola em ruas cobertas de destroços.
Sem ser um artista da bola, seu futebol-operário custou a ser reconhecido, e mesmo quando chegou ao grande Real Madrid, em 2013, foi considerado por boa parte da mídia espanhola “a pior contratação do ano”.
Com muita luta, Modric conquistou o papel de coadjuvante de luxo de estrelas como Cristiano Ronaldo, Benzema e até do emergente Rodrygo. Baixinho, feio, Modric usa o mesmo penteado desde que começou a jogar e nunca protagonizou romances ou festas badaladas. Vive para a família (esposa e três filhos), que, obviamente, tem todo o conforto que o dinheiro ganho com talento e honestidade pode dar. É descrito pelo lateral brasileiro Marcelo, um dos muitos amigos que fez na carreira, como um cara “discreto e super gente boa”.
O futebol é um fator importante para a autoestima da pequena Croácia, com seus menos de quatro milhões de habitantes. E Modric, acostumado a servir de “escada” para seus colegas ilustres, teve que assumir o papel de capitão, líder e referência técnica do time.
Missão dada, missão cumprida. Modric lidera um time feito à sua imagem e semelhança; não tem brilhantismos individuais, mas é guerreiro, obediente e não desiste nunca. Com este futebol que nem sempre é agradável de assistir, Modric e sua tropa conseguiram um vice-campeonato em 2018 e estão, novamente, nas semifinais este ano.
Ontem, Rodrygo e Modric estavam em campos opostos. E os dois lances capitais do jogo mostraram os seus estilos; os parafinados dançarinos brasileiros fizeram um gol de pura arte, uma obra-prima, mas acharam que o jogo estava resolvido. E, numa jogada trabalhada de contra-ataque, os incansáveis croatas alcançaram o empate que já parecia impossível explorando a preguiça macunaímica de um time que demorou demais para recompor após perder a bola no ataque.
Nos pênaltis, tenho quase certeza de que o treinamento contínuo deve ser a chave do sucesso dos croatas. E Modric estava lá, capitão e soldado, quando necessário, para converter o seu. Com seriedade e firmeza.
Mas a cena de maior beleza estava reservada para o último ato da tragedia (para nós, é claro). No momento em que era justamente festejado, o coração do guerreiro croata falou mais alto e ele abandonou a festa, para consolar o menino Rodrygo, que viu seu mundo desabar quando errou a primeira cobrança brasileira. Um gesto de um vencedor humilde, que aprendeu na vida que “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã” (Renato Russo, de novo!). Não sei o que ele falou, nem em que idioma, mas tenho certeza de que a tradução seria algo do tipo “Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima, menino. Você tem bola prá isto”.
Pelo seu potencial técnico, Rodrygo tem condição de liderar a nova geração brasileira. Espero que nunca esqueça a lição que seu companheiro mais velho e calejado ensinou; o caminho do sucesso passa muito menos por dancinhas, lacração, dribles humilhantes e vida louca, do que por disciplina, trabalho, e, acima de tudo, humildade e respeito ao próximo.
Modric, o líder servidor, nos deu duas lições ontem; uma de bola e uma de vida.
“Perdi 3 eleições. Nas 3 eu voltei para casa, chorei e me preparei para ganhar a próxima. Um dia eu ganhei. Todas as vezes que eu perdi, eu respeitei quem ganhou. E telefonei para o vitorioso para cumprimentar a vitória. Até hoje o presidente sainte não reconheceu a derrota”.
Únicas campeãs do mundo sobreviventes na Copa do Mundo do Catar, Argentina e França travam, de lados opostos da tabela das semifinais, uma batalha de gerações: companheiros de PSG, os atacantes Messi e Mbappé brigam, jogo a jogo, pelo título do torneio e também por um histórico prêmio de melhor da Copa do Mundo. Os argentinos passaram pela Croácia nesta terça-feira, enquanto a França mede forças com Marrocos, nesta quarta.
Criada na Copa da Espanha, em 1982, a Bola de Ouro da Copa já foi parar nas mãos de Messi uma vez, em 2014. Naquela edição, o camisa 10 marcou quatro vezes pela Argentina, que foi até a final contra a Alemanha, mas acabou com o vice-campeonato. Nesta edição, já marcou quatro vezes e tem a chance de se tornar o mais velho e o único detentor de dois prêmios oficiais.
Aos 35 anos, o jogador pode ultrapassar Zidane, eleito melhor da Copa de 2006 aos 34 anos, quando foi vice-campeão com a França em seu último Mundial. Antes disso, o goleiro da vice-campeã Alemanha em 2002, Oliver Khan, era o detentor mais velho do título individual, por ter vencido com 33 anos, uma premiação até hoje muito contestada.
Artilheiro e autor de cinco gols pela França até aqui, Mbappé briga pelo primeiro prêmio da carreira. Aos 23 anos, ele só não superaria o brasileiro Ronaldo, eleito melhor da Copa de 1998 aos 21 anos. Naquela edição, o Brasil perdeu na final justamente para os franceses.
Numa cena inédita, torcedores e jogadores marroquinos comemoram a classificação para a semifinal da Copa do Mundo. Entre as inúmeras bandeiras de Marrocos hasteadas no Al Thumama Stadium, no Qatar, uma se destaca. Um triângulo vermelho com a ponta voltada à direita, cercado por listras horizontais preta, branca e verde formam a bandeira da Palestina. Mas não foi só na vitória contra Portugal por um a zero no último sábado, 10, que ela surgiu.
A bandeira da Palestina está presente nas arquibancadas do Qatar desde que começou a Copa do Mundo em novembro. Na capital Doha não só bandeiras, como faixas, braçadeiras e até o lenço preto e branco que ficou famoso por ser usado pelo líder palestino Yasser Arafat aparecem por todo lado.
Tanto torcedores quanto jogadores levantam a bandeira palestina de modo literal para mostrar que apoiam o que é chamado de “Questão Palestina”. O termo se refere à luta dos povos palestinos após a perda de seus territórios em função, principalmente, da criação do Estado de Israel em 1948. Hoje, os territórios palestinos são a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
A disputa por essas áreas faz com que o conflito entre Israel e Palestina seja um dos mais extensos e intensos no mundo. Já são milhares de mortos e, em sua maioria, palestinos. Para alguns pesquisadores, o conflito é considerado um massacre palestino feito por Israel uma vez que não há paralelo entre as duas forças militares.
“Depois de anos em que a sensação de que a questão palestina era menos importante entre os árabes, o povo [árabe] deixou claro que essa questão é central para toda a nação árabe”. Ahmad Tibi, membro árabe-israelense do Knesset à revista +972
Na última segunda-feira, 12, Israel admitiu que suas forças mataram uma adolescente palestina que estava no terraço de sua casa, alimentando seu gato, durante uma incursão na Cisjordânia. Só neste ano pelo menos 150 palestinos e 26 israelenses morreram na cidade disputada de Jerusalém e na Cisjordânia. E outros 49 palestinos morreram em agosto na Faixa de Gaza em três dias de operação militar israelense no território palestino.
A “Questão Palestina” é um tema que aparece no futebol de Marrocos não só durante a Copa do Mundo. Os Winners, torcida do Wydad Casablanca, um dos principais times do país, faz uso da imagem de um guerrilheiro palestino.
Mas as referências à Palestina não se concentraram entre os torcedores. Jogadores da seleção marroquina desfilam e posam em campo, a cada vitória do time, com bandeira. Assim como os palestinos, os marroquinos são, em sua grande maioria, de origem árabe e seguem a religião islâmica.
Assim, as vitórias da seleção de Marrocos também se tornam vitórias de todos os árabes islâmicos. Da mesma forma, pode-se interpretar que a seleção marroquina esteja passando uma imagem positiva do islamismo para o mundo.
Em 2020, o Marrocos assinou junto com os Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Sudão, um acordo com Israel em 2020 mediado pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Conhecidos como Acordos de Abraão, as declarações representam um novo capítulo na diplomacia entre Oriente Médio e Israel, mas que é vista pelos palestinos como uma traição, já que a posição da Liga Árabe era, anteriormente, pró-Palestina.
O próprio Qatar não tem relações formais com Israel. Já o Brasil reconhece a existência do Estado Palestino. A Palestina também é um membro da Fifa e disputa competições internacionais. Em jogos oficiais, a seleção de Marrocos enfrentou a Palestina em três ocasiões e saiu vitoriosa em todas. Foram 10 gols feitos e apenas um sofrido. As duas seleções se encontraram pela última vez na Copa das Nações Árabes, em 2021. Marrocos venceu por quatro a zero. (Com informações do UOL)