Quem vai parar Kylian Mbappé?

POR GERSON NOGUEIRA

Por algum tempo, logo depois da Copa de 2018, era comum ouvir comentários de que Mbappé era apenas um velocista. Chegou a ser comparado com o Robinho dos primeiros tempos. Quanta injustiça. O jovem francês de 23 anos, campeão mundial na Rússia, evoluiu bastante desde então. Não apenas corre. Dribla em velocidade, lança e chuta muitíssimo bem.

Abri mão de acompanhar Inglaterra x Senegal e fui ao suntuoso estádio de Al Thumama apenas para ver Mbappé em ação neste domingo à tarde. Valeu a pena. No primeiro tempo, ele pouco foi acionado, mas fez duas boas arrancadas. Numa delas, deu dois riscas curtos no marcador e bateu forte. O goleiro espalmou para escanteio.

No final da primeira etapa, depois de uma blitz polonesa que Lloris e Varane impediram que virasse gol, eis que o talento marca presença. Em rápida troca de passes junto à área, Mbappé recebe e toca para Giroud finalizar na saída do goleiro. França 1 a 0.

Vem o segundo tempo e ainda falta o show solo de Mbappé. Não demorou muito. Numa saída rápida em contra-ataque, puxado por Griezmann, a bola chega a Dembélé e daí ao camisa 10, que dispara um chute quase no ângulo para ampliar o placar. França 2 a 0.

Confusa, a zaga polonesa não conseguia dar conta da marcação a Mbappé e Dembélé, os dois atacantes mais agudos do lado francês. Aos 45′, ele recebeu um passe perfeito junto à área, limpou o lance com um drible curto e acertou um tiro indefensável. França 3 a 0, quinto gol de Mbappé na Copa.

Ainda houve tempo para um prêmio de consolação para Lewandowski. De pênalti, ele marcou o gol de honra da Polônia, em dois tempos (na primeira cobrança, Lloris se adiantou).

O amadurecimento de Mbappé é o principal diferencial da França nesta Copa. Neste domingo ele estava particularmente focado, para alegria da torcida francesa e dos fãs de futebol no mundo inteiro. Jogou como o craque do time, assumindo responsabilidades e decidindo o jogo.

Em grande forma, parece ter se preparado especialmente para o Mundial. Sabe que, ao final da competição, o Prêmio Melhor do Mundo da Fifa será entregue a quem se destacar nos gramados do Qatar. Desde já, ele é o mais cotado para levantar esse troféu.

Mbappé é a maior arma francesa na busca do tricampeonato (ganhou em 1998 e 2018) e de uma marca que só Itália (1934 e 1938) e Brasil (1958 e 1962) possuem: dois títulos consecutivos. Do jeito que está jogando, os adversários terão muito trabalho para conseguir pará-lo.

Nada de novo sob o sol do Qatar

POR GERSON NOGUEIRA

É mais ou menos consenso aqui, em Doha, que o futebol está definitivamente nivelado e raros são os times que conseguem agir fora do script manjado de saída pelos lados, cruzamentos na área e tentativas de chegar à linha de fundo. Não que essa receita seja ruim. Pelo contrário: o futebol dos primórdios apostava nesses atalhos para buscar o gol.

Com o passar do tempo, teorias começaram a ser criadas no sentido de sofisticar e impor método a um jogo que sempre encantou pela simplicidade. Surgiram então os esquemas táticos, configurações para tentar explicar como uma equipe se distribui em campo.

Ao mesmo tempo, por óbvio, apareceram também os teóricos, sempre prontos a oferecer um discurso compatível com a prática dos times em campo. Nem sempre isso significou avanço prático no sentido de melhorar e tornar o futebol mais interessante.

A primeira grande mudança, ainda nos anos 1950, fez com que o jogo priorizasse as ações ofensivas, com escalações que incluíam dois médios no meio-campo e quatro ou cinco atacantes. O Brasil foi quem mais se beneficiou, pela extrema habilidade de seus dianteiros. Isso ficou patente nas duas Copas vencidas em sequência, 1958 e 1962.

Nos dias de hoje, sem muitos segredos sobre como cada time se comporta em campo, quase todos se copiam e fingem se reinventar dando voltas em torno do próprio rabo. Depois que Rinus Michels botou em prática o conceito de futebol total, em 1974, que foi a última revolução visível no sistema de jogo, quase todas as equipes saíram a imitar o modelo holandês.

Quase ninguém conseguiu sequer chegar perto daquele combo de altíssima disciplina na marcação com temperos de pura técnica nas soluções em busca do gol. Além da necessidade de um preparo físico excepcional – só possível num torneio de curta duração como a Copa – faltava craque para executar a ideia. Vale lembrar que Michels tinha sob seu comando Johan Cruyff e vários excepcionais jogadores, todos engajados na causa.

Nos anos 2000, a Espanha descortinou um caminho novo. O toque curto em velocidade, repetido exaustivamente com o objetivo de confundir os adversários. Exigia, como na Holanda de Michels, condicionamento acima da média e jogadores qualificados. O Barcelona impôs esse conceito a partir do comando de Pep Guardiola, que nunca negou que a inspiração veio da observação dos timaços brasileiros dos anos 50/60.

Depois disso, nova onda de imitadores assolou o planeta futebol, mas pouquíssimos times – além do Barça e da seleção espanhola – conseguiram fazer da incessante troca de passes uma forma de imposição técnica.

Nesta Copa repleta de resultados surpreendentes um detalhe chama atenção: todas as seleções jogam de maneira mais ou menos parecida. Raras se distinguem na multidão. Quem consegue tem, em geral, dois ou três jogadores de alto nível, capazes de dar ordenamento ao caos.

Brasil, Argentina, França e Portugal são exceções, apresentando iniciativas criativas na busca pelo gol. Partem de seu campo com até quatro jogadores de frente e sabem utilizar dribles e inversões de posicionamento para o último avanço sobre a área. Fazem assim porque contam com atletas excepcionais – Vinícius Jr., Rodrygo, Di María, Messi, Mbappé, Griezmann, Bruno Fernandes, Cristiano Ronaldo.

Os demais times formam um exército cinzento, previsível na mimetização de estratégias, sem contar com executores capacitados. Contra a Argentina, a Polônia agiu exatamente assim, inutilmente. Saía tocando a bola, mas raramente completava três passes, perdendo-se em erros primários até no domínio da bola, sem jamais ameaçar o gol de Martinez.

Nesse jogo e no Brasil x Suíça, observei que o esforço dos times emergentes em imitar a distribuição de jogo e o formato dos favoritos não é suficiente para reverter a diferença de nível. Têm mais chance de surpreender os que se assumem franco-atiradores, como Marrocos, Senegal, Japão, Tunísia e Camarões – o Brasil que o diga.

Quem esperava por alguma revolução tática ou métodos mais inventivos nesta Copa, deu com os camelos n’água. O torneio é um desfile de obviedades em campo, com a velha ordem hierárquica prevalecendo:  quem tem craques quase sempre leva a melhor sobre os que têm apenas obreiros.

Bola na Torre

Giuseppe Tommaso comanda o programa, a partir das 19h30, na RBATV. Participação de Valmir Rodrigues e deste escriba de Baião, em entrada ao vivo direto de Doha (Qatar). Em pauta, preparativos e contratações dos clubes para o Parazão 2023 e as últimas da Copa do Mundo. A edição é de Mariana Malato. 

(Coluna publicada na edição do Bola deste domingo, 4)

Duelo Mbappé x Lewandowski é a maior atração de França x Polônia

França e Polônia fazem o terceiro confronto das oitavas de final da Copa do Mundo e a maior atração é o duelo entre dois dos principais jogadores da atualidade, o jovem Kylian Mbappé, 23 anos, e o experiente Robert Lewandowski, 34. França e Polônia se enfrentam neste domingo (4), às 12h (de Brasília), no estádio Al Thumana, em Doha. O vencedor será um dos oito melhores do Mundial, e o perdedor se despede da competição.

Apesar do favoritismo francês, a motivação é alta nos dois lados. A França busca o segundo título seguido em Copa (o terceiro na história), e a Polônia tenta sua melhor campanha desde o Mundial de 1982, na Espanha, quando foi semifinalista. Depois, o mais longe que alcançou foram as oitavas de final, no México-1986, quando levou de 4 a 0 do Brasil.

Todos os holofotes da partida estarão direcionados a maior parte do tempo ao maior astro da França e ao único da Polônia. Campeão em 2018, na Rússia, aos 19 anos, tendo inclusive feito um gol na decisão contra a Croácia, Mbappé tornou-se desde então um dos principais jogadores do planeta. Tanto que hoje, mesmo tendo como parceiros no PSG craques como Messi e Neymar, ele é considerado a estrela do time.

No Qatar, Mbappé teve sua responsabilidade ampliada depois que, às vésperas da estreia, soube-se que Benzema, goleador do Real Madrid e atual ganhador da Bola de Ouro (prêmio concedido ao melhor jogador do mundo), estaria fora do Mundial devido a lesão no quadríceps da coxa esquerda. Nas duas partidas iniciais, destacou-se com um gol e uma assistência no 4 a 1 na Austrália, dois gols no 2 a 1 na Dinamarca.

Com a França classificada, o treinador Didier Deschamps poupou os titulares para o terceiro jogo no Grupo D, e Mbappé só entrou no segundo tempo, com a França perdendo da Tunísia. O camisa 10 não conseguiu, dessa vez, levar a equipe ao empate.

Neymar volta a treinar e pode reaparecer contra Coreia do Sul

Oito dias após sofrer uma entorse no tornozelo direito na estreia do Brasil na Copa do Mundo contra a Sérvia, Neymar voltou a treinar com bola neste sábado (3). A equipe enfrentará a Coreia do Sul, pelas oitavas de final, na segunda-feira (3). A atividade do elenco brasileiro no Grand Hamad, em Doha, foi fechada à imprensa. Até o momento, a CBF ainda não informou se o jogador participou de todo o treino, sem reclamar de dores na região lesionada.

Em vídeo divulgado pela entidade, contudo, o camisa 10 aparece fazendo exercícios de aquecimento com seus companheiros, inclusive com bola. Depois, participa de uma roda de “bobinho”. Também aparece chutando bola com o pé direito, o que está lesionado. Nas imagens, não aparenta expressões de dor.

Na sexta-feira (2), o médico da Seleção, Rodrigo Lasmar, já havia informado que ele iniciaria o processo de transição para o campo para saber se teria condições de voltar já nas oitavas de final. Dessa forma, aumenta a expectativa de que ele possa jogar diante dos sul-coreanos após desfalcar a equipe diante de Suíça e Camarões, ainda pela fase de grupos.

O lateral direito Danilo tem um quadro mais avançado. Ele também sofreu uma entorse no tornozelo, mas já treinou com o grupo normalmente e se mostra recuperado da contusão.

Sob cuidados paliativos, Pelé gera comoção e vigília na mídia global

Por Nelson de Sá, na Folha de SP

Jornais dos EUA à Rússia retratam o impacto da notícia de que o ex-jogador já não responde à quimioterapia

A revelação de que Pelé não responde mais à quimioterapia e está em cuidados paliativos levou a uma sequência de imagens em sua homenagem no Qatar e de relatos na cobertura da Copa, em tom de vigília pelo ex-jogador brasileiro. O New York Times destacou a imagem acima, de projeção no hotel The Torch Doha, com o enunciado “Do lado de fora do estádio, uma mensagem de melhoras para Pelé, de volta ao hospital”.

No texto, “ele não está mais respondendo aos tratamentos de quimioterapia e foi transferido para cuidados paliativos, sugerindo que não serão tomadas mais medidas agressivas para combater seu câncer”. Na também americana CNN, ouvindo fãs no Qatar e citando as mensagens de esportistas em mídia social, “O mundo do futebol deseja o melhor para Pelé enquanto a estrela brasileira segue no hospital”.

‘END-OF-LIFE’

Além de esportivos como o francês L’Équipe e o alemão SportBuzzer, veículos de cobertura geral como o italiano La Repubblica, o mexicano Excelsior, a russa Gazeta e o site da chinesa CCTV noticiam que Pelé já não reage ao tratamento. Os ingleses The Guardian e The Sun, entre outros, enfatizam que ele foi transferido para a ala de cuidados paliativos ou, nos títulos, “fim de vida” (end-of-life).

Outros, como o mexicano El Universal, reproduzem a projeção da camisa 10 na noite do Qatar, em cena veiculada em mídia social pela Fifa (abaixo), ou então a bandeira com Pelé no meio da torcida brasileira, do Washington Post ao argentino Olé.

A frase do dia

“Pelé faz com q o Brasil tenha um gênio no mesmo patamar que um Einstein, Chaplin, Marie Curie e Dostoiévski, para citar apenas dos maiores. A visão de Pelé em campo era igual ou superior a James Joyce na linguagem do romance. O país tem q agradecer a Pelé por ele ter nascido aqui”.

Xico Sá, escritor e jornalista