Missão Qatar: cortes de Gabriel Jesus e Telles agravam erros da convocação de Tite

Depois da derrota para Camarões na sexta-feira, 2, a Seleção Brasileira sofreu um novo abalo neste sábado (3): os cortes de Gabriel Jesus e Alex Telles. Os dois tiveram lesões detectadas nos exames de imagem feitos hoje (3) e não vão se recuperar a tempo de voltar a jogar no Mundial, que termina em 15 dias. O regulamento não permite que substitutos sejam convocados, então a seleção brasileira segue em busca do hexacampeonato com 24 jogadores à disposição de Tite.

São mais dois problemas para Tite, agravando um quadro relacionado com a defesa do Brasil na Copa. Além de ter convocado somente quatro zagueiros de área, o técnico ainda chamou Daniel Alves, um lateral de 39 anos cujas condições físicas não passam confiança para encarar uma Copa disputada em alta inensidade.

O atacante deixou o gramado ontem (2), na derrota por 1 a 0 para Camarões, reclamando de dores no joelho direito. Ele foi substituído por Pedro e comunicou o problema ao departamento médico da Seleção, que na hora fez um exame clínico e se preocupou com a situação.

Alex Telles (foto acima), por sua vez, deixou o gramado chorando. Ele tomou uma pancada em uma bola dividida pelo alto e, apesar de não ter o pé no chão, caiu na hora com dores. Ele ainda tentou voltar a jogar, mas não aguentou e foi substituído por Marquinhos. Ele pode precisar de cirurgia no joelho.

A CBF oficializou às 9h40 (de Brasília) a “impossibilidade de recuperação a tempo de participar da Copa” da dupla. “Acompanhados pelo médico da seleção brasileira, Rodrigo Lasmar, eles realizaram uma ressonância magnética no joelho direito que confirmou as lesões”, informou a entidade.

Os dois são considerados reservas, mas a situação do lateral-esquerdo preocupa a comissão técnica. Alex Sandro, o titular da posição, está com lesão muscular no quadril e tem data de retorno ao gramado incerta, enquanto Danilo, lateral-direito, se recupera bem de uma lesão de ligamentos no tornozelo esquerdo.

Assim, Tite vai precisar improvisar pela esquerda. Ontem, a opção foi por colocar o zagueiro Marquinhos jogando por ali. Se Danilo voltar a tempo de jogar na segunda-feira, contra a Coreia do Sul, ele pode ser deslocado para a função, com Militão aberto na direita. Além deles, ainda há o retorno incerto de Neymar.

O jogador vai passar por testes para saber se vai ter condições de jogar novamente já nas oitavas de final ou se precisará continuar em recuperação. Certo é que ele está longe de ficar em 100% das condições, mas pode ir para o sacrifício. Brasil e Coreia do Sul se enfrentam nas oitavas de final nesta segunda-feira (5), às 16h (de Brasília), no estádio 974.

O coordenador da Seleção Brasileira, Juninho Paulista, conversou na tarde deste sábado (03) com os jogadores Alex Telles e Gabriel Jesus e com os diretores esportivos de Sevilla e Arsenal. Gabriel Jesus retornará a Londres nos próximos dias, enquanto Alex Telles ficará em Doha até segunda-feira (5) para assistir ao jogo das oitavas de final contra a Coreia do Sul, viajando no dia seguinte para Sevilla.

Botafogo e Vasco se recusam a assinar acordo de transmissão do Campeonato Carioca

O Botafogo decidiu não assinar o modelo comercial proposto pela Ferj para a transmissão do Campeonato Carioca. A decisão foi tomada neste sábado, em Londres, com a presença do acionista majoritário John Textor (foto acima). Em nota oficial, o clube comunicou que não vai ” aceitar participar de um acordo em que há obscuridão nas negociações, privilégios individuais e a manutenção de um modelo histórico que tanto prejudica o futebol no país”.

O Botafogo não cita nomes no comunicado, mas tomou o mesmo caminho do Vasco, que se recusou a assinar após saber que o Flamengo receberia duas vezes mais do que os outros grandes do futebol carioca. O clube também confirmou que vai realizar pré-temporada nos Estados Unidos e deu a entender que perderá jogos do Campeonato Carioca por conta da viagem.

Abaixo, a nota divulgada pela diretoria do Botafogo:

Em reunião de diretoria com a presença do acionista majoritário John Textor, neste sábado (3), em Londres, o Botafogo decidiu não assinar o modelo comercial proposto pela FERJ para a transmissão do Campeonato Carioca de 2023 e vai oficializar a decisão à entidade nas próximas horas.

1. O futebol brasileiro vive um momento de profundas discussões sobre a constituição de uma Liga sob um novo modelo e fórmula de distribuição de receitas que incentive a chegada de investidores, corrija distorções, gere o equilíbrio esportivo e aumento da competitividade – para benefício de todo o ecossitema.

2. O Botafogo não vai aceitar participar de um acordo em que há obscuridão nas negociações, privilégios individuais e a manutenção de um modelo histórico que tanto prejudica o futebol no país. É incoerente com o que pensamos para o futuro e certamente uma decisão que contraria as melhores práticas.

3. O Botafogo lamenta a condução do processo e defende que os clubes se unam em prol de interesses coletivos, e que seja sempre esse o pilar fundamental de todas as decisões.

4. Diante disso, o Botafogo planeja o início de temporada visando administrar a utilização do elenco da maneira mais benéfica com foco na preparação para a Sul-Americana, Copa do Brasil e Brasileiro. Isso significa que o Botafogo vai disputar o Carioca e também viajar aos Estados Unidos para importantes jogos preparatórios contra times da MLS e da América do Sul.

VASCO SE POSICIONA

O Vasco da Gama adotou a mesma posição e se manifestou através de nota oficial:

“Depois de confirmar a veracidade de notícias veiculadas nos últimos dias, o Vasco da Gama informa que não assinará o contrato de transmissão do Campeonato Carioca 2023 nos termos apresentados pela Ferj e sua empresa parceira. Não aceitaremos acordos em que não haja justa e correta distribuição de valores e tomaremos todas as medidas cabíveis, nos âmbitos esportivo e jurídico, para garantir nossos direitos.

O Vasco lamenta profundamente a postura da diretoria do Clube de Regatas do Flamengo, que parece ainda não ter entendido que futebol não se joga sozinho. Não é a primeira vez que o rival recebe vantagens indevidas nos bastidores. Foi assim, por exemplo, nas inusitadas, seguidas e inexplicáveis prorrogações do acordo temporário de permissão de uso do Maracanã.

Acreditamos que o futebol brasileiro só será sustentável economicamente quando houver clareza e justiça nas negociações, pilares que garantirão a igualdade de condições esportivas e que tornarão perene o interesse do público sobre o espetáculo”.

O pecado da imprudência

POR GERSON NOGUEIRA

Copa do Mundo é coisa séria. Tite desafiou regras não escritas do maior torneio de futebol do mundo. Colocar time reserva em campo é brincar com o perigo. A questão é óbvia: o que a Seleção ganharia com a escalação dos suplentes? Rigorosamente nada. O jogo era quase um amistoso para o Brasil, mas para Camarões valia a classificação. E os Leões Indomáveis entraram com vontade, embora respeitando e evitando se expor.

Com base na quantidade de gols perdidos nos dois tempos, o Brasil teve amplas chances de golear Camarões. Apesar do desentrosamento natural do time B, os ataques se sucediam em ritmo forte. Mais adiantado, Fred trabalhava bem a aproximação com Rodrygo, Antony e Gabriel Martinelli.

O problema era Gabriel Jesus, que não assume o papel de centroavante e sempre cai mais pelo lado direito. Perdeu quase todos os embates com a zaga de Camarões, ao contrário de Antony e Martinelli, principalmente este, que iniciavam ataques e arrancavam até o interior da área.

Melhor da equipe brasileira, Martinelli quase abriu o placar cabeceando junto ao travessão. Rodrygo ameaçou com um chute que tirou tinta da trave. Foram os momentos mais agudos da Seleção, que manobrava junto à área, mas travava quando precisava aprofundar jogadas com Jesus.

Outro problema sério: por excesso de firulas e troca de passes, o time foi ficando dispersivo e previsível. O jogo exigia minimalismo e os jogadores mais jovens resolveram exagerar no preciosismo. Esse erro facilitava a recomposição da defesa de Camarões, tornando mais difícil achar espaço para as finalizações.

O Brasil também finalizou pouco de fora da área, preferindo insistir nas jogadas de infiltração, sempre mais difíceis de executar. No segundo tempo, apesar de uma pressão inicial de Camarões, o time passou a jogar em velocidade, esticando bolas para Antony na direita e Martinelli na esquerda.

Três tentativas seguidas, em chutes de Rodrygo e Martinelli, quase levaram ao gol, que parecia estar amadurecendo. Aí vieram as mudanças. Everton Ribeiro, Marquinhos, Bruno Guimarães, Pedro e Raphinha entraram para dar mais força ofensiva à equipe.

De início, isso até aconteceu, mas aí surgiu um outro obstáculo: o desentrosamento de Pedro com os companheiros de ataque causou várias perdas de bola junto à área. Quando se acalmou, recebeu dois bons passes de Raphinha e Bruno Guimarães, mas mandou a bola longe.

Guimarães foi mais errático ainda, tentando resolver tudo sozinho. Martinelli, a melhor opção de ataque, ficava o tempo todo pedindo bola, mas os homens de meio insistiam em acionar Raphinha pelo lado direito.

A coisa foi para o vinagre aos 47 minutos. Com o time todo posicionado dentro do campo de defesa de Camarões, uma bola esticada para a direita do ataque pegou a zaga brasileira desarrumada. O cruzamento saiu certeiro para o cabeceio de Aboubakar no contrapé de Ederson.

Não havia muito tempo para reagir, mas o Brasil chegava com tanta facilidade ao ataque que ainda teve duas chances, mas Guimarães arrematou muito mal.

Camarões não é o problema maior. A Coreia do Sul, sim, pois vem fortalecida pela vitória sobre Portugal e empolgada com a perspectiva de aprontar para cima do Brasil. Tite, o teimoso, terá 48 horas para preparar o time principal para o jogo eliminatório de segunda-feira. Podia ter feito isso nesta sexta-feira, treinando alternativas e ajustando a equipe.

Caminho do hexa ficou menos complicado

Nem tudo é notícia ruim em relação à Seleção Brasileira. A inesperada vitória da Coreia do Sul sobre Portugal, por 2 a 1, de virada, repaginou a rota que o Brasil terá que cumprir nas próximas fases. Ao invés de enfrentar um rival histórico, Uruguai, ou a impetuosa Gana, o time de Tite terá pela frente a pouco mais que ingênua seleção sul-coreana.

Zebras passeiam à vontade pelo Qatar, misturando-se aos camelos, mas o bom senso diz que elas tendem a se recolher na fase eliminatória. Em circunstâncias normais, o Brasil não deve ter maiores dificuldades em superar a Coreia na segunda-feira, 5, às 16h.

Depois, terá um duelo com o vencedor de Croácia e Japão. Caso avance à semifinal, o provável adversário será a Argentina ou a Holanda. Na hipótese de chegar à final, o adversário pode ser França, Inglaterra, Portugal ou Espanha.

Não há facilidades em Copa do Mundo, mas é inquestionável que o caminho ficou menos difícil – desde que Tite, a partir do tropeção de ontem, leve o Mundial a sério.

(Coluna publicada na edição do Bola deste sábado, 03)