Maldição do 7 a 1 se impõe de novo: Alemanha eliminada (de novo) na 1ª fase

Na rodada das surpresas, a tetracampeã mundial Alemanha está fora da Copa do Qatar. Apesar de ter vencido Costa Rica por 4 a 2, no estádio Al Bayt, não conseguiu se classificar no Grupo E, superada por Japão e Espanha. O atacante Gnabry abriu o placar logo no início, os costarriquenhos viraram com Tejeda e Vargas, mas Havertz marcou duas vezes e Fullkrug ampliou a vantagem final para 4 a 2.

A seleção alemã terminou a fase de grupos os mesmos quatro pontos da Espanha, que foi derrotada pelo Japão por 2 a 1 no outro duelo da chave, mas levou a pior no saldo de gols, primeiro critério de desempate. Os alemães ficaram com um de saldo, enquanto os espanhóis, que golearam Costa Rica por 7 a 0 na estreia, acabaram com seis positivos.

Além do aspecto decisivo, o duelo ganhou importância extra com a escalação de três mulheres para apitar a partida, fato histórico. Foi a primeira vez que um jogo de Copa do Mundo foi comandado por um trio de arbitragem feminino. A francesa Stéphanie Frappart foi a árbitra principal, com a brasileira Neuza Inês Back e a mexicana Karen Diaz como assistentes.

O resultado repetiu a decepção alemã na Copa de 2018, quando também foi eliminada no início. Amplia o retrospecto negativo do escrete germânico depois que venceu a Copa de 2014 no Brasil, com direito à humilhante goleada de 7 a 1 sobre o Brasil. Desde então, não ganhou absolutamente nada.

Empolgante, Japão vence Espanha de virada e avança

Foi uma vitória surpreendente. Diante da favorita Espanha, o Japão se impôs e conquistou um triunfo maiúsculo, garantindo classificação à próxima fase da Copa em primeiro lugar no Grupo E. O centroavante Morata abriu o placar para os espanhóis, de cabeça, ainda no primeiro tempo, mas Ritsu Doan e Ao Tanaka viraram para os japoneses na etapa final.

Com seis pontos, o Japão lidera o Grupo E e vai enfrentar a vice-campeã mundial Croácia nas oitavas, na segunda-feira (5), às 12h (de Brasília). Os espanhóis, que com a segunda colocação saem do chaveamento do Brasil, enfrentará Marrocos na terça (6), também às 12h.

O volante Tanaka foi um dos melhores jogadores do Japão contra a Espanha. Além da difícil tarefa de marcar o meio de campo europeu, que não para de trocar passes, ele ainda teve disposição para se posicionar como elemento surpresa no ataque e fazer o gol da virada.

Bélgica é eliminada da Copa após empate sem gols com a Croácia

A vice-campeã do mundo Croácia continua viva na Copa do Qatar. A geração de ouro da Bélgica, não. Em um dos jogos mais nervosos do Mundial até aqui, especialmente na segunda etapa, o time liderado por Modric viu Lukaku perder grandes chances de gol e segurou o empate de 0 a 0 para avançar para as oitavas de final com a segunda colocação do Grupo F. O Marrocos venceu o Canadá no outro jogo e ficou com a liderança.

O time belga chegou para a partida em meio a rumores de clima ruim nos vestiários, incluindo até briga entre os jogadores De Bruyne, Hazard e Vertonghen – história negada pelo técnico Roberto Martínez, que a classificou como fake news. Em campo, não faltou vontade e até grandes chances de gol, especialmente com Lukaku, que entrou no intervalo, mas a derrota inesperada para Marrocos acabou sendo decisiva para a eliminação precoce.

A Bélgica é um fenômeno de crítica, mas um fiasco em termos de resultados. Há pelo menos oito anos, o time é elogiado como um dos melhores do mundo, mas nunca ganhou nenhum título. Na Euro, fica no bloco intermediário. Na Copa do Mundo é apenas figurante, como agora.

A seleção belga não era eliminada na fase de grupos de uma Copa do Mundo desde 1998, quando ficou atrás de Holanda e México em sua chave. Ausente das Copas de 2006 e 2010, a Bélgica viu sua geração de ouro alcançar as quartas em 2014 e as semis em 2018, após eliminar a Seleção Brasileira. A expectativa era de mais uma boa campanha no Qatar, mas a promissora geração liderada por De Bruyne, Hazard e Lukaku decepcionou.

A Croácia, mesmo não reeditando o nível de futebol da Copa de 2018, em que foi vice-campeã, segue na briga para tentar, de novo, ir longe. O time se classificou com a segunda posição da chave, com cinco pontos, ficando atrás da seleção de Marrocos, que surpreendeu no grupo ao somar sete pontos em três jogos. Já a Bélgica terminou em terceiro, com quatro, enquanto o Canadá deixa o Qatar sem pontuar.

Com o segundo lugar do grupo, a Croácia enfrentará o primeiro colocado do Grupo E, que será conhecido ainda hoje (1) com os jogos das 16h entre Japão x Espanha e Costa Rica x Alemanha. O duelo de oitavas de final está marcado para segunda-feira (5), às 12h, no estádio Al Janoub.

A derrota para Marrocos com uma atuação bem aquém do esperado fez o técnico Roberto Martínez promover seis mudanças no time titular. A principal delas foi a saída de Eden Hazard, que não ficava no banco de reservas de uma Copa desde 2014, quando o time atuou com os reservas na última rodada da fase de grupos, contra a Coreia do Sul. Hazard foi a campo só aos 42min do segundo tempo, já no finzinho do jogo.

Homenagem na hora errada

POR GERSON NOGUEIRA

Tite elevou a participação do Brasil na Copa do Qatar ao nível de quermesse. Tributos e rapapés têm lugar apropriado para acontecer; Copa do Mundo, definitivamente, não é o palco adequado. O técnico vai aproveitar o jogo contra Camarões para homenagear (não se sabe por que) a Daniel Alves, convocado justamente com este propósito. Por superstição, sempre desconfio de propostas festivas em meio a uma competição tão importante.

Além de prestar reverência ao veterano, que será também o capitão da equipe, Tite decidiu escalar o time reserva, dando folga aos titulares após apenas dois jogos – Sérvia e Suíça. A não ser que os jogadores estivessem irremediavelmente estafados, não há sentido lógico em conceder descanso à seleção principal por tão pouco esforço.

Outra: o jogo com Camarões não é um mero amistoso. Vai determinar a primeira colocação do grupo, com efeito direto sobre o cruzamento das oitavas. Caso perca a partida, o Brasil poderá ter pela frente a forte equipe de Portugal, com Bruno Fernandes e CR7 à frente.

Preocupa a forma como o jogo é encarado pela comissão técnica. É como se fosse mero cumprimento de tabela, inspirando o descompromisso de botar os reservas em ação. Tudo bem que o time suplente do Brasil é tecnicamente melhor que boa parte das seleções presentes à Copa, mas há a questão do entrosamento, que pode fazer toda a diferença.

Enquanto o Brasil fará um jogo festivo, Camarões entrará em campo para buscar a vitória, pois ainda tem chances de classificação. O próprio fato de utilizar reservas passa, de certa forma, a ideia de soberba, sempre muito perigosa quando o assunto é futebol de alto nível.

As seleções têm pouco tempo para treinos durante a Copa. Por isso, jogos como o de amanhã são perfeitos para testar um ou outro jogador e também para fazer mudanças de ordem tática. Não mais que isso. Mexer por atacado não contribui para melhorar o rendimento do time titular, que foi bem na estreia, mas caiu de rendimento diante da Suíça.

Lembrei de 2006. Na Copa da Alemanha, depois de duas vitórias insossas, Carlos Alberto Parreira lançou um mistão contra Gana, preservando apenas parte dos astros. Meteu 4 a 1 e veio a sensação de que a Seleção estava pronta para decolar. Veio a França nas oitavas e todo mundo sabe o fim da história. Decolamos, mas de volta para casa.

Argentina vence e pega carne assada nas oitavas

A Argentina voltou a sobrar em campo, depois de ter derrotado o México na semana passada. E por 2 a 0, de novo. O adversário era a Polônia, que se limitou a dar caneladas e a tentar marcar, de forma atrapalhada, o time de Lionel Messi. O placar foi construído no segundo tempo, depois que o camisa 10 desperdiçou um pênalti na primeira etapa.

Uma consistente exibição coletiva salvou Messi do pelourinho. Coadjuvantes como De Paul, Mac Allister e Álvarez se encarregaram de conduzir a albiceleste à vitória e à classificação em primeiro no Grupo C em noite de pouco brilho de Messi e Di María.

Para um time que começou tomando virada da Arábia Saudita, a passagem às oitavas com méritos é a prova de que a longa invencibilidade de 36 jogos antes da Copa não é produto do acaso. Mac Allister abriu o placar logo no início do 2º tempo, batendo de primeira no canto direito da trave.

A Polônia se defendia feito barata tonta, chutando a esmo e atraindo a Argentina o tempo todo para sua área. Os gols só não saíram em maior quantidade porque Messi não estava em noite inspirada. Ainda assim, com participação dele, a bola chegou a Álvarez, que dominou entre dois zagueiros e mandou no ângulo para fazer 2 a 0.

Acompanhei o jogo para observar o nível de regularidade do time treinado por Lionel Scaloni, depois de ver a boa vitória sobre os mexicanos. Pode-se dizer que o sistema continua forte, bem sustentado nos volantes e meias, com destaque para De Paul, que assina praticamente todas as passagens de bola.

Ficou a impressão de que, se exigido, o time pode render mais. A fraqueza polonesa fez com que alguns jogadores exagerassem nos passes e firulas. Como terá pela frente nas oitavas a seleção da Austrália (sábado, 3, às 16h), um adversário de nível inferior, a tendência é que a Argentina cresça ainda mais na competição.

O jogo foi disputado no estádio 974, o mesmo que o Brasil está denunciando pelo gramado ruim. Mais de 44 mil torcedores (90% argentinos) compareceram. Quem não deu as caras foi o astro Lewandowski, perdido entre os zagueiros e sem receber nenhuma bola de seus limitadíssimos companheiros. 

(Coluna publicada na dição do Bola desta quinta-feira, 01)