POR GERSON NOGUEIRA

As dúvidas que pairam sobre a escalação da Seleção para o confronto desta noite (19h, no Qatar; 13h no Brasil) contra a Suíça se estendem das cercanias da concentração brasileira em Doha até a massa torcedora. Líder do Grupo G, após uma estreia auspiciosa, o escrete de repente mergulhou no perigoso terreno das incertezas.
Sem Neymar e Danilo, lesionados com gravidade diante da Sérvia, Tite terá que dar tratos à bola para reorganizar o setor de meio-de-campo, com efeito direto sobre o formato ofensivo. Tudo o que foi cuidadosamente projetado para a Copa do Mundo caiu por terra quando Neymar teve que ser excluído – e ainda corre risco de corte.
Tite terá que achar solução para um problema que tangenciou na convocação. Levou um único reserva para o setor de criação. Everton Ribeiro, de excelente desempenho na temporada do Flamengo, mereceu ser chamado, mas é daqueles jogadores convocados para não jogar. Parece incoerente – e é –, mas acontece sempre em mundiais de futebol.
A condição de jogador que veio ao Qatar para enfeite fica mais ou menos óbvia quando as especulações sobre o substituto de Neymar jamais incluem o meia rubro-negro. Já se fala até em Rodrygo numa função mais centralizada, que ele não costuma executar, mas Everton não entra nas especulações. Outra hipótese é a entrada de Fred, com o adiantamento de Paquetá para o papel de meia ofensivo.
É bem provável que Tite não abrace a ousadia, mas seria interessante ver em campo um time com Casemiro, Paquetá, Rodrygo, Raphinha, Richarlison e Vinícius Jr. Os treinos não definem nada, pelo menos aos olhos dos repórteres e analistas, condicionados a ver um curto período de movimentação, não mais que 15 minutos.
As anotações sobre a Suíça irão determinar se Tite banca Daniel Alves ou se opta por Militão. Daniel foi premiado com a convocação pelo passado de vitórias, mas na letra fria do jogo não tem mais pulmão e nem pernas para suportar um ponteiro arisco e rápido.
Desconfio, não mais que isso, de uma escalação ligeiramente diferente. Rodrygo entra de cara completando o triângulo no meio, com Paquetá exercendo as mesmas tarefas de auxílio a Casemiro na marcação. Na lateral, para não dar a mão à palmatória, o técnico começa com Daniel Alves, apesar dos perigos que envolvem essa escolha.
Zebra faz estrago e Argentina volta a respirar
Lionel Messi não precisou dar show. Muito marcado, valeu-se de um pequeno espaço em frente à área para encaixar o chute perfeito, abrindo caminho para a vitória sobre o México, no sábado à noite, em Lusail. Clima de decisão, torcidas delirantes, brigas dentro e fora e um futebol de alta intensidade, impressionante.
Aliás, foram 90 minutos de velocidade, marcação e disputa por cada metro do terreno. O México começou insinuante, a Argentina sentia o peso da responsabilidade de precisar vencer a qualquer custo.
Tudo mudou depois do belo gol de Messi, que me pareceu defensável. A inferioridade técnica dos mexicanos ficou mais exposta e o segundo gol veio naturalmente, através de Enzo Fernández.
O triunfo foi um alívio, mas o perigo não cessou por inteiro para o time de Lionel Scaloni. Terá que vencer a Polônia para não depender do resultado do embate entre sauditas e mexicanos.
E a zebra voltou a passear com Garbo, ontem. Marrocos meteu 2 a 0 numa Bélgica anêmica e apática.
À noite, Espanha e Alemanha fizeram um jogo digno da grandeza de suas histórias.
Glória e respeito aos gênios imortais
Chico Buarque e Gilberto Gil, gênios inquestionáveis da música brasileira, foram covardemente insultados neste fim de semana, de modos diferentes e igualmente inaceitáveis.
Sorte que, como diz a letra imortal de Chico, vai passar. Falta pouco.
(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 28)