POR GERSON NOGUEIRA

Por um curto período, localizado entre 1966 e 1973, o futebol paraense teve provavelmente seu melhor aproveitamento na contratação de jogadores de outras praças. Só para o ataque, a dupla Re-Pa conseguiu trazer quatro jogadores acima da média: Bené, Rubilota, Amoroso e Alcino. A menção à era dourada vem em função da morte de Amoroso, na sexta-feira, aos 84 anos.
Bicampeão carioca pelo Botafogo, em 1961 e 1962, foi também vitorioso no Fluminense antes de aceitar o convite para jogar pelo Remo, onde por duas temporadas marcou muitos gols e virou ídolo da torcida.
Rápido e oportunista, como se dizia à época, Amoroso raramente desperdiçava oportunidades. Viveu momentos de glória em confrontos com o PSC. Em 1968, na Curuzu, na decisão do título estadual, ele usou da malandragem para decidir um jogo difícil.
Com o placar empatado, nos minutos finais, ele ficou atento a um tiro de meta que o goleiro bicolor Omar se preparava para cobrar. Fingiu se afastar do lance, mas percebeu que Omar ia sair jogando com o zagueiro Abel. Ágil e surpreendente, ele voltou e interceptou o passe. Driblou Abel e finalizou para as redes. Terminou campeão e artilheiro da temporada, como havia sido em 1967.
Outro episódio marcante foi o histórico gol marcado contra o timaço do Benfica, em amistoso disputado no Baenão. A partida terminou 1 a 1. O Benfica do astro Eusébio era base da seleção portuguesa que tinha obtido o terceiro lugar na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra.
Pelo início empolgante no Botafogo, no esquadrão que tinha Garrincha, Nilton Santos, Zagallo, Didi e Amarildo, e o êxito no Fluminense em 1964, Amoroso era um nome em alta quando veio defender o Remo. Era um tempo, como se vê, em que o Pará ainda era atraente para grandes nomes do futebol brasileiro.
Quando Amoroso foi embora, o Remo nem teve muito tempo para lamentar porque já tinha o meia-atacante Rubilota, que havia feito dupla infernal com Bené no PSC. Dois anos depois, o Baenão receberia o gigante Alcino, que aqui chegou sem grandes credenciais e se tornaria o maior atacante da história do clube.
Era uma época de futebol semi amador, com gestões que se destacavam muito mais pela benemerência do que por ambições pessoais. Foi através de dirigentes apaixonados e influentes que tanto Remo quanto PSC conseguiram formar times poderosos, garimpando jogadores quase a custo zero. Bons tempos.
Bola na Torre
Guilherme Guerreiro comanda o programa, a partir das 21h30, na RBATV, com a participação de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. Em pauta, a quinta rodada do quadrangular da Série C. A edição é de Lourdes Cezar.
Vinícius Jr. e o sagrado direito de bailar
Vinícius Jr. é a nova vítima dos intolerantes e racistas na Espanha. Seu jeito especial de festejar gols, dançando e gingando alegremente, incomodou a um participante do programa “El Chiringuito”, muito popular na TV espanhola. Pedro Bravo criticou as comemorações do jogador e sugeriu que deixe de “mamaquices”, que procure sambar no Brasil e não “desrespeite companheiros”. Bravo é o presidente da Associação Espanhola de Empresários de Jogadores.
A ofensa gerou um imediato movimento de torcedores, jogadores e técnicos, que se manifestaram em solidariedade ao jovem atacante do Real Madrid. Aliás, o clube emitiu nota na sexta-feira repudiando as falas racistas e prometeu adotar medidas legais contra quem utilize expressões racistas contra seus jogadores.
O crime de racismo deve ser combatido de forma implacável. A cultura do ódio se espraia como praga pelo futebol mundial, com manifestações hostis por toda a Europa e também na América do Sul. Jogos da Libertadores têm mostrado cenas horrendas.
Como de hábito, o autor do insulto apressou-se em pedir desculpas, alegando não ter tido a intenção. Virou praxe esse expediente, tão irrelevante quanto pouco sincero, de tentar limpar a imagem depois da reação que atos de xenofobia são expostos na mídia.
Vinícius fez um pronunciamento forte, respondendo ao agressor e avisando que não vai deixar de fazer as dancinhas comemorativas. Condenou a onda racista com veemência e segurança.
O apoio de técnicos renomados, diretorias dos clubes e da CBF não pode ficar apenas nas palavras. É preciso que atos desse tipo sejam criminalizados, única forma de frear sua repetição.
Vinícius tem sido alvo de hostilidades dentro de campo também. Jogadores adversários têm caçado o ponta do Real Madrid, tentando pará-lo sempre na base da pancada. Como tem um estilo desassombrado e driblador, acaba gerando incômodo e irritação.
Na semana passada, o técnico Carlo Ancelotti saiu em sua defesa, explicando que Vinícius usa o drible como arma legítima dentro de um campo de futebol, sem pretender abusar, desrespeitar ou ridicularizar oponentes.
A contundente reação ao episódio reforça a esperança de que o futebol aprender a conviver com as diferenças.
(Coluna publicada na edição do Bola deste domingo, 18)