Base: entre o sonho e a frustração

POR GERSON NOGUEIRA

O futebol paraense vive há anos na eterna expectativa de formar bons jogadores, capaz de não apenas reforçar os times em competições importantes como também de servir de suporte financeiro com negociações vantajosas. Cita-se com inveja o exemplo de clubes que investem muito e obtêm retorno. O Atlético-PR é um dos mais prósperos nesse sistema, que requer trabalho árduo e silencioso, nem sempre bem reconhecido pelas torcidas.

Foi-se o tempo em que Tuna, Remo e PSC atraíam naturalmente jovens promessas do futebol suburbano e do interior do Estado. Hoje, pela ação articulada dos grandes do Sudeste, Sul e Centro-Oeste, que mantêm observadores atentos às jóias que surgem, quase todos os moleques bons de bola passam ao largo dos clubes de Belém.  

E ninguém pode culpá-los. Sabem que dificilmente terão espaço para mostrar seu talento nos times da capital. Há muito apadrinhamento, pouco incentivo e quase nenhuma estrutura para as categorias de base. Só o Remo mantém instalações destinadas aos garotos, os demais priorizam o futebol profissional e deixam os meninos de lado.

Há uns oito anos, o meia-atacante Erick surgiu no Goiás com grande sucesso. Paraense do sul do Estado, ele fez o caminho mais curto para os clubes de outros Estados. Depois do sucesso no Goiás, transferiu-se para o Palmeiras e ainda passou pelo Botafogo antes de buscar o futebol asiático.

Caso tivesse optado por PSC ou Remo é quase certo que não teria se tornado sequer titular. Ronald, rápido e habilidoso, surgiu há três anos entre os titulares azulinos, quebrando um galho pelo lado esquerdo. Fez boas jogadas, encantou a torcida e sumiu tão rápido quanto apareceu.

Voltou a ser lembrado em 2021, disputando o Parazão e a Série C. Bem, disputar é força de expressão. Ele entrava quando Paulo Bonamigo não tinha outras alternativas no banco. Aparecia mais nos jogos realizados no Baenão por força da cobrança dos torcedores. Quando o Remo atuava fora, ficava esquecido no banco.

Nesta temporada, foi um dos melhores da equipe no Campeonato Estadual e parecia destinado a ocupar um lugar no time que iria disputar a Série C. Ledo engano. O Brasileiro começou e Bonamigo de novo esqueceu o jovem atacante. Na decisão da vaga na Copa do Brasil, contra o Cruzeiro, Ronald era a opção natural para explorar o contra-ataque. O técnico fez todas as trocas e nem olhou para o atacante mais veloz do time.

Quando a situação apertava nos jogos em casa, Ronald era atirado às feras, obrigado a levar pancada sob o açoite do rodízio de faltas dos adversários e a complacência criminosa dos árbitros. Sofreu uma contusão grave e desfalcou o Remo pelo resto da competição. Foi a baixa mais séria e sentida da equipe, mesmo jogando apenas por breves minutos.

Citei Ronald, um caso emblemático, mas poderia citar Roni, hoje consagrado como o melhor atacante do Palmeiras. Roni também foi deixado de mão no Baenão. Voltou a jogar por insistência do então técnico azulino Walter Lima. Uma feliz combinação de responsabilidade e talento impediram que um talento se perdesse por aí, como tantos.

Esta dramática realidade envolve dezenas de jovens promissores e suas famílias esperançosas na busca por um sonho que o futebol do Pará ainda não consegue realizar. Existem abnegados em todos os clubes, responsáveis por manter a base funcionando, mas todos sabem que falta profissionalismo.

Hoje, os garotos de Remo e Pinheirense disputam no Baenão a final do Paraense Sub-20. Em campo, estarão pelo menos oito ou dez jogadores merecedores de chances entre os profissionais. Caso um ou dois deles consiga essa façanha, é caso para erguer as mãos para o céu e agradecer.

Bola na Torre

Guilherme Guerreiro comanda o programa, a partir das 21h30, na RBATV, com a participação de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. Em pauta, o quadrangular decisivo da Série C. A edição é de Lourdes Cezar.

Aventuras brazucas no reino de Sua Majestade

Casemiro, volante titular da Seleção Brasileira, trocou o Real Madrid campeão europeu pelo Manchester United, um poço de problemas há quase uma década. Os ingênuos pensarão que o brasileiro foi em busca apenas da grana que é movimentada em transações do tipo. Na verdade, ele busca algo que jogadores realizados anseiam conquistar: reconhecimento e prestígio. Não que isso faltasse em seu antigo clube.

O Real é, por força de sua história, um clube que alça aos píncaros da glória todo jogador de trajetória vitoriosa com a camisa merengue. Casemiro ganhou tudo defendendo o time. Era admirado pela torcida, prestigiado pelos patrocinadores e respeitado pelos adversários.

Ocorre que chegou um dia em que olhou para os lados e deve ter pensado: não há mais desafios a superar, conquistas a ambicionar. Neste exato instante vem o pensamento da inquietude. É hora de arranjar novas metas, sob pena de estacionar na acomodação.

O United – e milhões de euros mensais – surgiu no horizonte, possibilitando a Casemiro um mimo extra: jogar, pelo menos uma temporada, ao lado de um mito, o português Cristiano Ronaldo. No fim das contas, o caso confirma que os boleiros já não se amarram na ideia de adotar um clube como segunda casa (ou pele). Mais importante que a calmaria da estabilidade é a motivação do desafio.  

(Coluna publicada na edição do Bola deste domingo, 04)

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