Todas as homenagens a Guilherme Barra, jornalista dos bons, que morreu hoje aos 80 anos

Parentes e amigos se reuniram nesta quinta-feira, 01, para prestar as últimas homenagens ao jornalista Guilherme Barra, que morreu na madrugada de hoje, aos 80 anos. De temperamento tranquilo e discreto, fala mansa, construiu uma carreira digna, marcada pela competência e responsabilidade profissional. Progressista, sempre defendeu causas vinculadas à justiça social e à proteção aos mais pobres. No velório, foi homenageado com a bandeira do Clube do Remo, seu time de coração.

Guilherme Barra foi diretor de redação do DIÁRIO DO PARÁ de novembro de 1986 a fevereiro de 2004. Depois, seguiu colaborando com o Grupo RBA por muitos anos, como redator e editor. Trabalhei com ele em duas ocasiões, sempre no DIÁRIO. A primeira foi no final dos anos 80, quando a redação ainda era na rua Gaspar Vianna (hoje funciona no prédio da TV RBA, na avenida Almirante Barroso).

Depois, em junho de 1998, tive a honra de reencontrá-lo na redação do DIÁRIO com a missão de editar o caderno Bola, um tabloide idealizado por ele e Jader Barbalho Filho, diretor do jornal. Eu fui convidado para a missão por Jader, quando ocupava a chefia de reportagem de A Província do Pará. O trabalho com o Bola rendeu frutos, o caderno esportivo caiu no gosto popular e ajudou a alavancar o crescimento do jornal. A primeira capa, na véspera da estreia do Brasil na Copa do Mundo da França, estampava Ronaldo Fenômeno. Não ganhamos a Copa, mas o Bola mostrou-se vitorioso. Quando Barra deixou a direção de Redação, em 2004, fui convidado a assumir o cargo e dar continuidade ao trabalho iniciado por ele.

Há poucos dias, ele concedeu uma rara entrevista ao DIÁRIO em face das comemorações dos 40 anos do jornal. “Já havia trabalhado pelos três jornais mais antigos do Estado na época. Mas foi no DIÁRIO que pela primeira vez cheguei ao posto máximo em uma Redação, naquele tempo chamado Editoria Geral”, lembrou. A entrevista saiu na edição especial de aniversário do jornal. Com ele no comando, o DIÁRIO teve sua primeira grande virada antes de se consolidar, anos depois, como o jornal mais lido do Norte do país, posição que se mantém até hoje.

“O grande desafio foi comandar a transformação do jornal, tornando-o uma publicação com conteúdo mais qualificado e mais plural. Além de mudanças no layout dos cadernos do jornal, novas tecnologias gráficas, houve grandes mudanças no conteúdo editorial com a contratação de colunistas de renome nacional, a contratação de novos profissionais locais e lançamento de cadernos, alguns inovadores na imprensa regional. Claro que essas mudanças e os investimentos foram realizados com o aval dos diretores que, sem dúvida, impulsionaram o crescimento do jornal e do grupo, hoje um dos maiores do segmento da comunicação do Norte e Nordeste”, disse Barra.

LEMBRANÇAS

Regina Alves, que iniciou no jornalismo pelas mãos de Guilherme Barra, postou no Facebook o seguinte comentário, acompanhado de uma foto tirada por ocasião do lançamento do jornal Alvi Azul, em homenagem ao PSC.

“Foto para a capa da segunda edição do Alvi Azul, o jornal do Paissandu que Guilherme Barra editou – chefiando uma equipe de maioria remista – no segundo semestre de 1969, quando o Papão estava numa grande fase. Barra (primeiro à direita, camisa xadrez) hoje foi velado sob a bandeira do Remo, sua paixão. Foi ele quem me levou para o jornalismo, me guiou nos primeiros passos na redação, com a generosidade, a discrição e a competência que fizeram dele uma unanimidade entre velhos e jovens companheiros dessa estrada cheia de percalços e tentações que é a do jornalismo.
Depois, o que é a vida, fui encontrar a Karime Darwich, esposa, e o filho, Flávio, como meus alunos na UFPA. Karine foi embora muito cedo. Flávio pude abraçar hoje. Queria poder amenizar a dor dos filhos que Guilherme Barra tanto amou. Mas só sei dizer que um homem como ele fará falta imensa para os que acreditam e lutam por um mundo melhor”.

NOTA DE PESAR DO SINJOR

“É com profundo pesar que informamos o falecimento, nesta madruga do dia 1º de setembro, do nosso associado Guilherme José Maués Barra, o Guilherme Barra. Figura influente no meio jornalístico de Belém, Barra foi presidente do Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor/PA), no período de junho de 1984 a junho de 1987.

Guilherme Barra passou pelas redações dos principais jornais impressos de Belém, inclusive dirigindo redações, como no Diário do Pará, onde foi referência para dezenas colegas iniciantes na profissão.

Defensor inconteste da democracia, era um dos mais engajados militantes de sua geração em atuação nos nossos dias. Mesmo no período do pico da pandemia da Covid-19, atuou de forma incansável em defesa do Sinjor/PA e da liberdade de imprensa. Com certeza sua dedicação fará falta nos fronts de defesa da democracia brasileira, em especial, no circuito da comunicação.

Guilherme Barra, que era viúvo da também jornalista Karime Darwich, faleceu aos 80 anos, deixando oito filhos, demais familiares e uma grande legião de amigos e admiradores”.

TEMPOS DE “A PROVÍNCIA DO PARÁ

O jornalista Ronaldo Brasiliense, que trabalhou com Barra em A Província do Pará durante anos, fez uma postagem no Facebook recordando a convivência com o amigo:

“Perdi hoje em Belém do Pará um amigo de mais de 40 anos. Foi meu editor no jornal A Província do Pará e meu parceiro em muitas aventuras. Tínhamos nossas divergências no Sindicato dos Jornalistas – éramos de grupos divergentes – mas isso não impedia nossa convivência diária.
Tive o privilégio de conviver com Hilda, Hildinha e seus filhos. Estou muito triste e quero aqui testemunhar que pessoas de tendências políticas diferentes podem conviver, sem perder a ternura.
No início dos anos 80, do século XX, fui candidato a diretor de base da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), representando a Região Norte.
Meus amigos Guilherme Barra, Euclides – Chembra – Bandeira e Guilherme Augusto Pereira , entre outros, faziam campanha contra mim. Lembro que houve uma discussão e o Barra tentou me acertar um chute, mas quebrou a porta de vidro da sede do Sindicato dos Jornalistas, então no edifício Barão de Belém, na 13 de Maio, no centro comercial da capital. A porta foi trocada por outra, de madeira de lei.
Fui eleito diretor da Fenaj.
À noite do mesmo dia, Barra editou minhas matérias e, após o fechamento da edição do jornal, fomos eu, Barra e Chembra beber no Bar do Parque. Sem o ódio que a gente vê atualmente nesses tempos sombrios de pandemia e Bolsonaro, entre outras desgraças. Nunca deixamos de ser amigos nestes 40 anos que se passaram, inclusive nos tempos que Barra presidiu o Sindicato e nós, abertamente , fazíamos oposição à sua gestão.
Estou muito triste com a partida do Guilherme Barra. O Pará perde um grande jornalista; eu, um amigo de copo e de cruz. Que Deus conforte os corações de sua família e de sua legião de amigos.
Leva minhas lágrimas, Barra, para a longa viagem rumo às estrelas. Descanse em paz!”.

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