POR GERSON NOGUEIRA

Os torcedores do PSC andam reclamando da ausência de Dioguinho. Ninguém sabe ao certo o que ocorreu com o atacante, que deixou de ser utilizado pelo técnico Márcio Fernandes. Não está lesionado, nem suspenso, mas não joga e nem é relacionado. De peça destacada no Campeonato Paraense, quando chegou a ser um dos artilheiros do time, foi totalmente esquecido na Série C.
Como a comparação com outros atacantes é inevitável, o torcedor cobra. Dioguinho tem o mesmo nível técnico de Robinho e Serginho. É bem superior a jogadores contratados como reforços – Marcelinho, Pipico, Alessandro Vinícius –, mas não teve mais chances.
Em entrevista recente, o técnico Márcio Fernandes comentou as escolhas que faz observando que escala jogadores pelo rendimento nos treinos e pelo nível de comprometimento. Ninguém discute que ao treinador cabe ter esse cuidado na hora de optar por este ou aquele atleta.
Salta aos olhos, porém, o desinteresse por um atacante que pode ser uma opção interessante pelos lados ou mesmo uma alternativa para mudar a cara de um jogo complicado. Dioguinho dribla, cola a bola nos pés, sabe romper linhas de marcação e é bom finalizador.
Em plena crise de ideias ofensivas no time, o PSC poderia recorrer aos préstimos de Dioguinho. Domingo, em Salvador, o técnico resolveu fazer mudanças no ataque para o segundo tempo. Lançou Pipico e Alessandro Vinícius, que mal tocaram na bola.
Diante do que se viu, a preferência pelos outros atacantes indica que Dioguinho está muito mal fisicamente ou desaprendeu de jogar bola.
No Remo, um volante entra na rota do esquecimento
Quando o assunto é esquecimento, outro jogador nativo enfrenta problema parecido no Remo. Pingo, jovem volante, formado nas divisões de base do clube, foi titular durante boa parte da Série B 2021 com bom desempenho, marcando forte e distribuindo jogo. Caiu de produção, após algumas lesões, na reta final da disputa junto com o time inteiro.
Participou bem da campanha vitoriosa na Copa Verde, mas caiu em desgraça quase ao término do Campeonato Paraense. Sob o comando de Paulo Bonamigo, perdeu a posição na semifinal contra a Tuna e nunca mais foi lembrado para nada no Remo.
É como se tivesse sofrido uma condenação. Vários volantes foram testados e escalados, com destaque para Marco Antônio e Marciel, mas Pingo saiu definitivamente dos planos. O aspecto curioso é que esses expurgos não declarados têm sempre como vítimas jogadores caseiros.
Atletas que chegam como reforços jamais passam por isso. Recebem todas as chances possíveis, têm oportunidade de fazer minutagem e acabam sempre voltando a jogar mesmo após momentos de baixa. Não se sabe o que houve, mas o fato é que Pingo parece riscado dos planos azulinos.
A pobreza de ideias do clube mais rico do país
Parece até maluquice, mas o clube mais rico e popular do Brasil vive a buscar caminhos para mostrar pequenez. Sim, o todo-poderoso Flamengo, turbinado por um orçamento anual de R$ 1 bilhão, vive se apequenando ao abraçar causas menores, reclamar de quase tudo e brigar até por sorteio de mando de campo.
Durante o auge da pandemia no país, com milhares de mortes por dia, o clube abraçou a política negacionista do presidente da República e defendeu ardorosamente o retorno das competições esportivas. O bom senso e as autoridades médicas desaconselharam, mas o Fla marchou até o fim em defesa dos campeonatos.
Quando finalmente a bola rolou, o clube também pulou na frente reivindicando jogos do Campeonato Carioca com torcida. Mesmo não tendo êxito seguiu insistindo e foi um dos primeiros a realizar jogos com público, apesar dos altos riscos de contaminação.
Agora, o Flamengo volta a surpreender com uma reclamação absolutamente esquisita. Questiona o sorteio das quartas de final da Copa do Brasil alegando que merecia fazer o segundo jogo diante do Atlético Paranaense em casa. De início, parecia apenas uma daquelas reclamações mesquinhas e midiáticas da cartolagem.
Não era. Ontem, a direção do clube confirmou que vai ao STJD reclamar oficialmente porque as bolinhas indicaram Curitiba como local da segunda partida do cruzamento. Ora ora, o clube que possui o elenco mais caro do país não pode ter medo de jogar como visitante. Afinal, o próprio Flamengo costuma se orgulhar – com razão – de ter torcida em toda parte.
Não é lógico, portanto, imaginar que o clube receie o poderio do Furacão na partida de volta. Até porque a parada pode muito bem se decidir no primeiro confronto, no Maracanã. E o Flamengo tem time e bola para isso.
Descartada a hipótese do medo, fica claro que é mais uma arenga gratuita que a diretoria do Flamengo inventou para se fazer de vítima. Não é de agora que a atual diretoria age assim. Atitudes que, ironicamente, denunciam certa influência do arquirrival Eurico Miranda, que em seu tempo de reinado no Vasco arranjava confusão quase todo santo dia.
(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 21)
NO CASO de Dioguinho e Pingo, isso se dá em função do excesso de jogadores para as respectivas posições. Com a chegada dos “medalhões”, é comum os técnicos de futebol desprezarem os valores regionais. Muitas vezes isso é prejudicial ao rendimento da equipe, como vimos recentemente no Remo. Como disse Gerson Nogueira, se fosse outro goleiro – vamos dizer que fosse um goleiro regional – há algum tempo ele teria sido barrado. Tiveram que esperar Vinícius falhar clamorosamente, não apenas uma ou duas vezes, para finalmente ele ser substituído. Na linha, ocorre o mesmo, pois é comum os valores regionais serem colocados para escanteio em favor de jogadores de fora, cuja categoria nem sempre corresponde. Vejam o caso de Paulinho Curuá, que sempre esteve aí, e cujo futebol não é inferior ao dos outros da mesma posição, foi necessário vir primeiro o desastre para que ele fosse efetivado. Mas, vejam, no primeiro jogo discreto ou ruim que ele fizer, imediatamente vão surgir “corneteiros” pedindo a saída dele; o mesmo em relação ao goleiro Zé Carlos.
Ainda quanto ao futebol azulino, continua difícil a parada. Houvesse obtido mais três pontos, estaria agora mais tranquilo. Agora, sabendo que no futebol tudo é possível, mas está pela bola sete e se for derrotado no próximo jogo, é apenas juntar os caquinhos e lutar para continuar na C em 2023. Os erros, como no ano passado, persistiram, tanto da diretoria azulina, como dos treinadores e de outros profissionais ligados ao futebol remista.
Vida que segue.
Entendo que não tem essa de jogador regional ou importado. O cara tem que mostrar serviço, qualquer que seja a origem, pois é pago pra isso. O Remo já teve grandes jogadores de outras praças em seu elenco, assim como bons jogadores regionais. É uma lista extensa pra citar aqui. É fato que os importados sempre são melhores remunerados e são beneficiados com a maior paciência de torcedores e técnicos. Estes, talvez pressionados por diretorias, sob o argumento de que custaram caro e têm de ser escalados, mesmo em má fase. A torcida, por sua vez, fica no ceticismo de sempre, achando que santo de casa não faz milagres.
Tenho minhas restrições aos dois jogadores regionais evidenciados. Um deles não possui senso de grupo, de que o futebol é jogo coletivo. Qualquer técnico sério pensaria seiscentas vezes em tê-lo em seu grupo e outras seiscentas em escalá-lo. O outro, chama a atenção pela sequência de contusões sendo um jogador muito jovem ainda. Além disso, é um jogador praticante de um jogo muito duro, aproximando-se da violência. São produtos de má formação técnica trazida das divisões inferiores, as quais são dadas pouca atenção por nossos clubes.