A responsabilidade dos reforços

POR GERSON NOGUEIRA

Um dos grandes problemas de times desarrumados e em crise é a dificuldade em aproveitar plenamente os bons reforços. O Remo vive isso hoje com pelo menos três jogadores – Leandro Carvalho, Albano e Anderson Paraíba. Todos chegaram com o campeonato em andamento, o mau rendimento na fase inicial e depois a troca de treinador, com a chegada de Gerson Gusmão.

Os mais afetados por essa situação foram naturalmente os jogadores de meio-campo, pois deles dependia um futebol afinado, capaz de compensar os desajustes do restante da equipe. Pouco entrosados, Albano e Paraíba começaram a entrar no time em doses homeopáticas, ainda com Paulo Bonamigo.

Albano parecia fadado a trilhar uma rota de sucesso após marcar logo em sua estreia contra o Confiança, fora de casa. O problema é que sofreu uma lesão grave no jogo diante do Cruzeiro, pela Copa do Brasil, e custou a retornar. Nesse ínterim, Paraíba finalmente chegou, cercado de expectativa quanto à qualidade do seu futebol.

Entrou inicialmente fora de posição, jogando pelos lados, diante do Volta Redonda. Não deu certo e a derrota acabou respingando nos jogadores que menos renderam – Paraíba entre eles.

Com Leandro Carvalho, que foi o último a ser contratado, a situação foi ainda mais desfavorável. Estreou no Re-Pa jogando os minutos finais quando o Remo já se mostrava destroçado emocionalmente pelo frango sofrido pelo goleiro Vinícius.

Diante do Atlético-CE, entrou com todo gás e parecia um jogador talhado para as características do jogo. Antes que pudesse brilhar por seu talento ofensivo, acabou castigado com a participação no lance do recuo para Vinícius no primeiro gol do adversário.

Ainda encontrou forças para empatar, finalizando com perfeição uma tabelinha com Brenner. A derrota, resultante da pífia atuação coletiva do Remo, apagou por completo a atuação de Leandro na partida. Como Albano e Paraíba, ele voltou ao nível inicial, sob desconfiança da torcida.

Para os próximos confrontos que aguardam o Remo dentro e fora de Belém, os três reforços serão fundamentais para que o time alcance um mínimo de encaixe necessário para ir em busca da classificação.

Dos três, Leandro parece mais próximo de se adaptar ao cenário de cobranças. Pela própria personalidade, é um jogador que costuma jogar no limite da ousadia, explorando a habilidade para ações velozes. Deve ser efetivado como titular, ao lado de Brenner, com boas possibilidades de dar ao ataque a capacidade de agredir que as últimas cinco rodadas minaram.

Quanto a Albano e Anderson Paraíba, dependerão muito do sistema de jogo a ser executado por Gerson Gusmão. Se continuar obediente ao modelo que Bonamigo utilizava, com quatro homens no meio, sem espaço para um meia criativo, dificilmente terão utilidade.

Por outro lado, se o Remo passar a adotar um jogo propositivo, de troca de passes e infiltração, podem fazer a diferença. Ambos, porém, precisam de um mínimo de tempo e paciência para poder jogar plenamente.

Hulk: os desafios físicos e as ilusões perdidas

Aplaudido com entusiasmo pelos bons momentos no Atlético-MG em 2021 e no começo desta temporada, o atacante Hulk frequenta todas as escolhas de melhores do futebol brasileiro desde que retornou ao país, repatriado em meio a desconfianças generalizadas ainda referentes à Copa de 2014.

Primeiro, cabe relembrar o que foi a trajetória de Hulk na Seleção Brasileira dirigida por Felipão e marcada, definitivamente, pela humilhante goleada de 7 a 1 para a Alemanha no Mineirão.

Quase todos os jogadores daquela Seleção ficaram estigmatizados pela tragédia, uma das piores da história do futebol moderno. Hulk, David Luiz, Fernandinho, Dante, Júlio Cézar, Bernard e Fred foram alguns dos mais visados pela torcida.

Hulk talvez tenha sido o remanescente de 2014 que melhor reagiu ao infortúnio nos anos subsequentes. Sem brilhar no futebol internacional, optou pelo Atlético e foi abraçado com entusiasmo pela torcida. Não decepcionou. Marcou gols abundantemente e ajudou o Galo a conquistar quase tudo no ano passado.

Até mesmo quem nunca viu talento no futebol tosco e viril de Hulk viu-se obrigado a admitir que ele fez a diferença entre os atacantes que jogam no Brasil. A partir daí, iniciou-se um coro de defesa da sua convocação para a Copa do Qatar. Muito em função da falta de um atacante de força no grupo frequentemente convocado por Tite.

Agora, mesmo os que costumam ser impiedosos com Adenor, precisam botar a mão na consciência e admitir que o técnico tem seus motivos para nem lembrar de Hulk nas chamadas recentes.

É natural que o olhar do torcedor seja generoso com quem disputa os torneios nacionais, sem dar a devida importância às exigências do futebol moderno, principalmente no aspecto físico e nas valências táticas que os torneios europeus impõem.

O jogo entre Flamengo e Atlético, anteontem, permitiu observar o quanto Hulk tem dificuldades para se impor perante defesas que marcam mais ou menos em cima, mesmo a lenta zaga rubro-negra. Falta-lhe campo para a correria e recursos para buscar um drible ou arremate mais qualificado.

Ao longo os 90 minutos, mal conseguiu tocar na bola em meio à velocidade da partida. Vale dizer que as exigências de uma Copa do Mundo são incomparavelmente mais incruentas do que a do futebol no Brasil. Sem falsas ilusões, o fato é que Hulk não teria como jogar competitivamente num torneio de alto nível.

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 15)