Em noite de muitos erros, Leão sofre pior derrota na Série C

Depois de um bom primeiro tempo, quando buscou o gol e criou algumas situações perigosas no ataque, o Remo acabou dominado amplamente na etapa final e perdeu por 3 a 0 para o Volta Redonda, nesta segunda-feira à noite, no estádio Raulino de Oliveira, pela 10ª rodada da Série C. O jogo foi equilibrado até o Remo perder o zagueiro Daniel Felipe, expulso aos 38 minutos, ao receber o segundo cartão amarelo.

Para surpresa geral, o técnico Paulo Bonamigo não quis substituir um jogador de frente e colocar um zagueiro (Igor Morais estava no banco). Ele optou por recuar Anderson Uchoa para recompor a zaga ao lado de Marlon. A ideia não funcionou, apesar dos esforços do volante. Pressionado o tempo todo pelo Voltaço, o setor defensivo começou a cometer erros seguidos devido à desarrumação da defesa.

Só depois que Pedrinho fez 1 a 0, aos 14 minutos do 2º tempo, o treinador resolveu fazer mudanças. O gol nasceu após cobrança de escanteio. A defesa rebateu para a frente e o meia acertou o pé. Aí, Bonamigo tirou Brenner, Bruno Alves e Erick Flores e botou em campo os meias Anderson Paraíba e Albano e o volante Paulinho Curuá. Manteve o time muito atrás e com Uchoa improvisado na linha de zaga. Aos 20′ e aos 28′, Wendson quase marcou, mas Vinícius fez defesas espetaculares.

Aos 36′, não teve jeito. Iran aproveitou nova falha da zaga, que deu rebote para o lado errado. Chute forte, cruzado, sem chance para Vinícius. Bonamigo ainda botou Vanilson no lugar de Fernandinho, que era um dos poucos que ainda tentava organizar o jogo em meio à balbúrdia tática. Todas as tentativas de ataque, com Albano deslocado pela direita, não deram em nada.

Com Marciel e Renan mal na marcação, o time todo recuado dentro da área, o Voltaço levava constante perigo nos avanços à área azulina, sem sofrer marcação efetiva. Aos 49′, em contra-ataque fulminante, Lelê pegou a zaga aberta, aplicou duas fintas, entrou na área e bateu rasteiro. Vinícius não conseguiu defender e a bola morreu no fundo das redes.

Com a derrota, o Leão caiu para a sétima posição, enquanto o Voltaço assumiu a sexta. Na próxima rodada, o Remo recebe o Altos-PI no Baenão.

Manifesto sobre as eleições 2022

Carta pública da Comissão Pastoral da Terra (CPT)

“Num contexto de novos e velhos autoritarismos, mercantilização da vida, crise climática, guerras e pandemias, em confronto ao bem maior de todos/as e da natureza, Casa Comum, o processo eleitoral ocupa uma dimensão de especial importância. Diante desse grave momento, sentimo-nos provocados/as a reafirmar a nossa missão profética junto aos povos da terra, das águas e das florestas, e manifestar através da Diretoria e Conselho Nacional da CPT, nossa posição acerca das eleições federais e estaduais de 2022.

Bem sabemos pelo contexto histórico que o processo de construção da democracia no Brasil conta com mais atropelos e retrocessos do que avanços consolidados e permanentes. Na verdade, o povo – razão alegada da democracia ‒ é sub e mal representado, pois sofre as consequências de medidas tomadas com o único objetivo de favorecer a acumulação de bens públicos em favor dos de sempre: as elites proprietárias que nunca abrem mão de seus privilégios.

Desde o golpe de 2016, após o impeachment de Dilma Rousseff e a prisão arbitrária do ex-presidente Lula, com base em processos ilegais, a escalada de retrocessos na democracia só se amplia, e chega ao máximo com o atual presidente. Um ex-capitão expulso do Exército, parlamentar obscuro, chefe de uma família de políticos profissionais e venais, neofascista, comprometido com o mercado financeiro em detrimento das políticas públicas no país.

O autoritarismo adotado pelo governo recente é o mesmo que caracterizou alguns governos do século XX, potencializado pelas tecnologias da informação e pelas redes virtuais de comunicação – é usado para espalhar notícias falsas, desfazer conquistas sociais, subtrair direitos, e em contrapartida, encarecer a vida, alimentar o racismo e o machismo, confrontar os outros poderes da República, armar a população, violentar ainda mais o cotidiano da sociedade, reconcentrar a terra, retroceder em políticas ambientais, favorecer de novo o agronegócio, assaltar Amazônia; tudo com o apoio de congressistas comprados, o Centrão, com um orçamento paralelo – as tais emendas parlamentares sem transparência – a favorecer deputados e senadores de seu grupo e suas bases eleitorais.

A face mais mórbida deste governo revelou-se na gestão criminosa da pandemia da Covid-19, que já vitimou até agora cerca de 6,31 milhões, com mais de 668 mil mortes ‒ o segundo pior desempenho em todo o mundo! A situação do país só não é pior devido à solidariedade de pessoas, das comunidades, das organizações e dos movimentos populares.

Os episódios sinalizam a queda da popularidade do presidente, e em recusa obstinada à sua provável derrota, ansiada pela maioria do eleitorado, ele questiona o sistema eleitoral, um dos mais modernos, ágeis e transparentes do mundo.

Apesar de tudo, temos a oportunidade de retomar os rumos da fragilizada democracia nestas eleições. Nessas eleições, assim como em outras, a CPT não assume candidaturas específicas, mas conclama seus/suas agentes à participação consciente, regida por critérios éticos, sendo respeitados os marcos do trabalho pastoral – ao apoio político a candidaturas camponesas ou comprometidas com a pauta da reforma agrária, da demarcação das terras indígenas e dos territórios dos povos e das comunidades tradicionais, da ecologia e da agroecologia, da vida digna no campo, nas águas e nas florestas.

Um especial cuidado deve-se ter com os legislativos estaduais e federal, para que a representatividade desta diversidade da população em luta seja maior que a dos parlamentares profissionais. Para os executivos, o empenho deve se dar pela superação dos autoritarismos e do projeto neofascista. Os/as candidatos/as do campo progressista, desde já, devem assumir o compromisso de retomar a enfraquecida conexão com as bases populares. Apoiar os processos coletivos, a organização de base, a formação, a efetiva participação na construção do tão sonhado projeto popular para o Brasil. Este nosso projeto congrega ideias, valores e práticas de uma democracia real, substantiva, direta o mais possível, necessariamente anticapitalista.

Somamo-nos à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) no apelo a deixarmo-nos guiar, incansáveis, pela esperança que não decepciona (cfr. Carta aos Romanos 5,5) e pelo desejo de uma sociedade justa e fraterna (Mensagem ao Povo Brasileiro, 59ª Assembleia Geral da CNBB, 29/4/22). Com fé, em luta pela retomada do nosso País: socorram-nos a luz e a força de Deus, Pai e Mãe dos pobres da terra!”

Diretoria e Conselho Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT)

“Eles sumiram com Dom”

Mas ainda não nos impediram de sonhar

Por Leandro Demori, no The Intercept_Brasil

Eles sumiram com Dom. Essa foi a primeira frase que me veio à mente quando li sobre o desaparecimento do inglês sorridente que conheci na praia de Copacabana em 2018 fazendo stand up paddle no mar. Dom Phillips, repórter experiente, estava acompanhado de Bruno Pereira, um dos maiores conhecedores da região amazônica onde ambos sumiram sem deixar rastros no domingo, 5 de junho.

Depois de um par de ligações telefônicas que praticamente descartavam a hipótese de acidente, uma amiga me disse que um grupo de locais havia feito uma varredura minuciosa na área. Nada. Então a frase martelou novamente na minha cabeça: eles sumiram com Dom.

Fazer jornalismo na Amazônia sempre foi uma tarefa difícil e perigosa, mas ela se tornou especialmente letal nos últimos anos. Em 2021, o número de assassinatos em comunidades tradicionais e de agricultura familiar cresceu 12 vezes. A Amazônia Legal concentra 80% das mortes violentas em áreas rurais do Brasil. Mesmo que ainda haja esperanças de encontrar Bruno e Dom, era questão de tempo até que algo assim acontecesse.

Três anos atrás, Dom Phillips participou de um café da manhã com o presidente Jair Bolsonaro. Perguntou a Bolsonaro sobre o crescente e alarmante desmatamento na Amazônia. Falou sobre o desmonte do aparato legal de proteção ao meio ambiente. Comentou sobre as ligações criminosas de assessores e do próprio ministro do Meio Ambiente com madeireiros. Com seu desdém habitual, Bolsonaro respondeu: “A primeira coisa que você tem que entender é que a Amazônia é do Brasil, e não de vocês.”

Não se sabe a que “vocês” Bolsonaro se referia, mas o fato é que a Amazônia não é mais, efetivamente, do Brasil. Neste exato momento em que equipes buscam por Bruno e Dom, porções continentais da floresta estão nas mãos de piratas brasileiros e estrangeiros.  

A Amazônia de hoje é uma espécie de território anarcocapitalista onde convivem e negociam garimpeiros ilegais, grileiros, indígenas e ribeirinhos abandonados pelo estado e corrompidos pelo crime. Narcotraficantes controlam rios em toda a Amazônia Oriental transportando sobretudo cocaína que será consumida no norte global. Uma distopia real. Um Mad Max fluvial incentivado pelo governo.

Bolsonaro nunca escondeu sua ojeriza pelas populações indígenas. No passado, ele lamentou que o Brasil não tenha “dizimado” seus povos originários como fizeram os Estados Unidos. E sempre que pode fala de sua admiração pelo garimpo. Não à toa que o pai de Bolsonaro, Percy Geraldo Bolsonaro, foi um dos garimpeiros de Serra Pelada, o maior garimpo a céu aberto do mundo. Sua política busca o tempo todo dar livre passagem aos depredadores da floresta. As palavras duras ele costuma reservar a jornalistas e ativistas como Dom e Bruno. 

Assim, a letargia das equipes de busca lideradas pelo Governo Federal não surpreende. É o desfecho óbvio desse enredo macabro em que o Brasil se meteu. Já na segunda-feira sabia-se que a vida de Bruno e Dom dependia do tic tac dos relógios. A resposta do Exército Brasileiro foi de causar ódio: em nota, os militares disseram que poderiam cumprir a missão, mas estavam esperando a ordem de algum burocrata.

A ordem veio tardiamente e o governo mentiu duas vezes: disse que Bruno e Dom não haviam informado sobre sua incursão na selva, e relatou o uso intensivo de helicópteros que não foram vistos por ninguém na região. Àquela altura, depois de intermináveis dias na mata, já seria praticamente impossível encontrar os dois com vida. 

Bolsonaro e seu grupo tratam a imprensa a pontapés desde antes do começo do governo. Sua candidatura em 2018 agiu ativamente para censurar a liberdade de imprensa que ele diz defender enquanto fabricava boatos e tentava chupar dados de celulares para sua máquina de propaganda. O partido de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão, financiou a maior rede de fake news do Brasil, derrubada pelo Facebook.

Dom Phillips é autor do ainda inacabado livro “Como salvar a Amazônia?”. Era para isso que ele estava mergulhado na floresta. Eu espero poder abraçar Dom na noite de autógrafos. Mesmo com todo o terror que nos cerca, ainda não nos impediram de sonhar.