Sem espaço para o tédio

POR GERSON NOGUEIRA

Remo 0×0 Tuna (Felipe Gedoz)

As vaias do final do jogo não se referiam exclusivamente à atuação do Remo contra a Tuna, naquele que foi um dos jogos mais interessantes do campeonato. (Aliás, foi a melhor apresentação do time no campeonato, levando em conta o volume de oportunidades construídas e a velocidade das jogadas, principalmente no 2º tempo).

Na realidade, a bronca é bem mais ampla. A torcida aproveitou o empate para protestar (ainda) contra o rebaixamento à Série C. A vaia foi injusta, mas é inútil esperar justiça num ambiente de paixão e fúria. O time sofre as consequências de uma revolta represada.

A conquista da Copa Verde mitigou a frustração com o rebaixamento, mas sempre que ocorrer um resultado insatisfatório as vaias irão marcar presença. Some-se a isso a lembrança do incrível campeonato estadual perdido em 2021, também sob o comando de Paulo Bonamigo.

Apesar de todas essas mágoas, o bom público que compareceu ao Baenão viu o Remo fazer um bom clássico diante de uma Tuna fechada e armada para jogar em contra-ataques. No primeiro tempo, o bloqueio defensivo tunante conteve as investidas do trio Bruno Alves-Brenner- Flores.

Depois do intervalo, a partida cresceu em alternativas e o Remo passou a dominar, atacando pelos lados e ocupando o meio com passes curtos entre as linhas de marcação. As chances foram surgindo naturalmente. No total, oito lances agudos em favor do Leão e um para a Tuna.

Nem mesmo a dureza de alguns lances, com a complacência da arbitragem, estragaram um jogo intenso e disputado em velocidade. Aos 4 minutos, o lance mais eletrizante. A bola chega ao interior da área, a zaga rebate e sobra para Brenner, que cruza para Bruno Alves. Ele dispara, a bola bate no peito de Lucão e não entra.

Aos 8′, Bruno Alves entrou pela direita, mas o chute cruzado foi nas mãos de Vítor. Aos 16′, Bruno aplica chapéu em Lucão e cruza para Brenner, que fechava na pequena área, mas Léo Rosa chega primeiro e evita o gol.

A parte polêmica veio em lance que lembrou ação do zagueiro Tiago Silva (Chelsea) na final do Mundial de Clubes: o volante Kauê deu um tapinha na bola ao disputar pelo alto com Brenner.

Aos 11′, Pingo chegou finalizando, prensado. A bola passou raspando. Aos 22′, Gedoz bateu e Vítor se esticou para salvar. Na sequência, a bola sobrou para Pingo, que bate no ângulo, mas o goleiro salta e põe para escanteio.

Na reta final da partida, Felipe Gedoz chutou e Vítor defendeu em dois tempos. Aos 39′, o meia finalizou de fora da área e a bola bateu na trave esquerda da meta cruzmaltina. Quase ao final, em contra-ataque luso, Lucas Cunha não aproveitou cruzamento rasteiro de Luan Santos.

Um grande jogo no Baenão. Só faltou o gol.

Jader brilha e Papão sente a falta de Ricardinho

Como esperado, a ausência do volante e organizador Ricardinho afetou bastante o desempenho do PSC. Sem ele, o time teve muitas dificuldades para se organizar. Mesmo assim, botou pressão desde o início e Marcelo Toscano perdeu duas grandes chances, aos 17 e aos 32 minutos.

Aos 47’, a polêmica do jogo no Souza. O lance faltoso em Marlon aconteceu fora da área, mas Andrei da Silva e Silva marcou a penalidade contra o Tapajós. Toscano bateu e Jader defendeu parcialmente. No rebote, o camisa 9 chutou para fora.

No 2º tempo, o panorama se manteve. O Papão tinha a bola, mas insistia em cruzamentos que a zaga ou o goleiro Jader neutralizavam sempre. Faltaram boas ideias para vencer a retranca do Boto. Com Ricardinho, o time sabe cadenciar e inverter. Sem ele, vira um amontoado.

Verdão luta bravamente, mas não evita o desfecho previsível

O tamanho do abismo entre o futebol da Europa e a bola que se joga hoje no Brasil está exposto numa triste estatística: há 10 anos que um time europeu não sofria gol brasileiro na decisão do Mundial. Antes do penal convertido no sábado por Raphael Veiga o último gol havia acontecido na final de 2012, vencida pelo Corinthians sobre o mesmo Chelsea.

A final deste ano teve até um primeiro tempo equilibrado, com mais chances do Chelsea, mas com um eficiente trabalho coletivo do Palmeiras. O gol de Lukaku no começo do segundo tempo nasceu de um descuido de marcação pelo lado direito da defesa alviverde. O cruzamento saiu perfeito para o centroavante desviar de cabeça, cercado por três defensores.

As chances do Palmeiras estiveram nos pés de Dudu e Roni, mas ambos ficaram sobrecarregados pela missão de marcar, voltando o tempo todo até a intermediária. Quando o jogo poderia favorecer uma ofensiva palmeirense, seus melhores jogadores já estavam exauridos.

Mesmo apostando no defensivismo, o Palmeiras conseguiu empatar. Tiago Silva cortou um cruzamento com a mão, como sempre faz – admitiu que usa desse expediente faltoso para levar vantagem sobre os atacantes. Raphael Veiga cobrou e empatou. Por alguns minutos, jogando no limite, o Palmeiras cercou a área e deu esperanças de uma virada.

Veio a prorrogação e a propalada derrocada física dos ingleses não aconteceu, e pelo simples fato de que as cinco substituições reavivaram as forças do time, que passou a dominar amplamente a partida.

O criticado excesso de cautelas de Abel Ferreira impediu que o Palmeiras tivesse mais presença ofensiva durante o confronto, mas provavelmente impediu que a derrota fosse mais ampla. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 14)

3 comentários em “Sem espaço para o tédio

  1. Vi todos os jogos de Remo e Paysandu até agora. Vi inclusive erros capitais de arbitragem contrários nos jogos contra o Paragominas e contra o Tapajós; da mesma forma que erro favorável ao rival no jogo de ontem contra o mesmo Tapajós. Temo pela arbitragem local no próximo domingo. Qualquer tropeço, ainda que dessa forma, não será perdoado pelo torcedor.
    Mas voltando ao jogo de ontem.
    De todos, este entre Remo e Tuna foi disparadamente o melhor deles. Só faltou o gol – coisas do futebol.
    Animei-me porque, pela primeira vez, vi Felipe Gedoz jogar o tempo inteiro e o Remo ser agressivo no segundo tempo, o que não acontecia nas pelejas anteriores.

    Agora vamos ver como a equipe azulina se comporta no clássico Rei (apesar da minha cisma com a vacilante arbitragem paraense).

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  2. Apesar do ótimo jogo ofensivo, o Remo ainda precisa melhorar a pontaria. Acredito que falta a tal tranquilidade para aquele remate certeiro do ataque. Analiso como produtivo o jogo do Remo, como também foi muito produtiva a atuação do arqueiro da Tuna. Não foi bem um jogo de ataque contra defesa, mas a prometida evolução do futebol azulino está acontecendo. A Tuna, por seu lado, executou muito bem sua proposta de jogo, pelo menos pelo que se viu da atuação da defesa como um todo. Afinal, o goleiro não teria passado impune sem uma defesa bem postada.

    Se pelo lado remista há alguma dependência da inspiração de Gedoz, pelo lado bicolor percebe-se equivalentemente a dependência de Ricardinho, ponto de equilíbrio alvi-celeste. Pingo tem crescido como segundo volante e o jovem Sena tem mostrado um potencial que ainda não se desenvolveu, mas que a minutagem deve providenciar. Vontade e iniciativa, acho que tem o suficiente para realizar bons jogos daqui até o final do Parazão. Ronald e Tiago Mafra precisam igualmente dessa confiança para despontar. Talento, já mostraram que têm.

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    1. Devo elogiar a disposição de Brenner para o pivô e a iniciativa de buscar o jogo. Tem atuado com inteligência, buscando, inclusive, passes em profundidade e tabelas pelas beiradas. Acho que o trio de ataque quando entrosar de verdade, pode torna-lo artilheiro. Erick Flores e Gedoz têm acentuado o entrosamento e podem ser decisivos na reta final do Parazão e na série C. Destaque-se também o papel que Bruno Alves vem fazendo. Torço para que Ricardo Luz encontre nele, em breve, o parceiro de ataque pela direita.

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