Jair Bolsonaro (PSL) foi alvo de protestos nesta terça-feira (30), apenas dois dias depois de sua eleição para o cargo. Opositores convocaram manifestações em pelo menos seis capitais – São Paulo, Rio, Brasília, Porto Alegre, Fortaleza e Recife – com o mote de “resistência” ao futuro governo, que veem como um risco à democracia e à manutenção de direitos. Em São Paulo, o protesto foi convocado pela Frente Povo Sem Medo e pela Frente Brasil Popular, organizações formadas por movimentos sociais e centrais sindicais. O ato saiu do vão do Masp (Museu de Arte de São Paulo), na avenida Paulista, e ocupou uma faixa da via, rumo à praça Roosevelt, na região da Consolação. Segundo a organização do ato, 30 mil pessoas compareceram. A Polícia Militar não divulgou números.
Ao longo do protesto, os manifestantes gritaram palavras de ordem contra Bolsonaro, como “Ele não, ele nunca, ele jamais”, retomando o lema “Ele não” dos atos organizados por mulheres contra o presidente eleito durante a campanha eleitoral, além de frases como “Não tenho medo” e “Ninguém vai se render”. Apesar do “Ele não”, Guilherme Boulos, que disputou a Presidência pelo PSOL e discursou no ato, descartou que o protesto fosse uma contestação ao resultado da eleição. “As eleições acabaram no domingo, mas as fake news continuam. Nós lançamos esse ato de resistência democrática e eles se apressaram em dizer que a gente não reconhecia o resultado das eleições, que nós éramos maus perdedores”, disse. “Nós reconhecemos, sim, o resultado das eleições. Nós não somos o Aécio Neves em 2014”.
Eleito deputado federal pelo PSDB mineiro este ano, Aécio perdeu a eleição presidencial para Dilma Rousseff (PT) em 2014, e seu partido pediu uma auditoria na votação. Um ano depois, o PSDB concluiu que não houve fraude na eleição. Boulos também afirmou que Bolsonaro “se elegeu presidente do Brasil, não imperador do Brasil, não dono do Brasil”, e que por isso tem que respeitar “as liberdades democráticas, a liberdade de manifestação, a de expressão.” O político do PSOL criticou diretamente a declaração do presidente eleito no sábado (28), de que “bandidos vermelhos” iriam “para fora ou para a cadeia”.
“Tem que respeitar as oposições, e não dizer que vão para a cadeia ou para o exílio. Nós não vamos para cadeia ou para o exílio, vamos para a rua, que é nosso lugar de lutar por direitos e pela democracia”, afirmou. Boulos também disse que a oposição não aceitaria uma reforma da Previdência “que retire aposentadoria do povo”, nem a criminalização dos movimentos sociais, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) e do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), do qual Boulos é um dos líderes. Bolsonaro já disse que todas as “ações” destes dois movimentos devem ser consideradas como “terrorismo”.