Agora é Taison + 22

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POR GERSON NOGUEIRA

Existe hoje um clube digno de admiração pela perturbadora frequência com que cede atletas para a seleção pentacampeã mundial. Tite definiria isso como “consistência de carreira” ou algo assim. Trata-se do surpreendente Shakhtar Donetsk, que tem conseguido marcar presença em todas as convocações da Seleção desde 2006.

É uma façanha e tanto para uma agremiação periférica sem maior destaque entre os grandes clubes da Europa. Pois dois jogadores do brioso clube ucraniano estão confirmados na lista dos 23 eleitos para a Copa da Rússia: Taison e Fred. Além deles, Douglas Costa, Fernandinho e Willian passaram por lá também.

Puxo o assunto apenas para pontuar a natureza movediça do poder que rege os negócios no mundo moderno. Como o Shakhtar não é nenhuma potência do esporte para merecer tamanha atenção dos técnicos da Seleção, é legítimo supor que há algo de mais significativo por trás de tudo isso.

Ontem, durante a entrevista de Tite, um repórter teve a picardia de indagar onde e quando havia começado o encanto dele por Taison, que surgiu no Internacional e depois tomou o rumo da Ucrânia.

Com a verborragia daquelas imersões em oficinas de coaching, o técnico embromou por uns três minutos até dizer que Taison foi chamado por ter uma carreira vitoriosa, com participações na Europe League.

Ora, adotando isso como critério, dúzias de outros brasileiros que passaram por essas competições mereciam ser lembrados também. Na real, a escolha vai muito além das estatísticas e retrospectos do jogador. E, pensando bem, Taison nem é o caso mais grave de escolhas estranhas para a Seleção em ano de Copa. Já vimos coisa pior.

É só puxar a lista histórica de estrupícios mais ou menos recentes. Mestre Telê (até ele) convocou Elzo. Zagallo se encantou com Paulo Sérgio. Felipão inventou Polga e Vampeta (2002) e Bernard (2014). Parreira chamou Viola e Josué. Mano Menezes caiu de amores por Huck. Dunga apostou em Grafitte. O próprio Tite já foi de Talisca e até Muralha…

É claro que o Shakhtar não tem culpa por ter caído na predileção dos funcionários da CBF, dos técnicos e clubes brasileiros. Parece que todos estão felizes – e, como pensava Poliana, felicidade é o que importa.

Na prática, a lista anunciada por Tite não pode ser observada pelo lado catastrófico. Fagner, Cássio, Taison e Fred estão tecnicamente abaixo de Fabinho, Grohe, Luan e Artur, mas convocação é principalmente um exercício de escolha pessoal do técnico. E é normal que seja assim.

Com o respaldo de ter evitado o desastre da eliminação do Brasil nas Eliminatórias, situação que se desenhava sob o comando de Dunga, Tite amealhou prestígio e se tornou imune a críticas. Técnico competente e aplicado, virou unanimidade nacional. Pode, portanto, fazer as coisas mais sem-noção que seguirá a receber aplausos entusiasmados.

Além disso, a cota de bizarrices na Seleção, com Taison à frente, não deve ser motivo de maiores apreensões. São jogadores chamados e raramente aproveitados. Receio mesmo deve-se ter é se, por necessidade, tiverem que entrar em campo. O carniceiro Fagner já mostrou inúmeras vezes seu despreparo, inclusive emocional, para encarar competições de alto nível.

Preocupação também deve haver com as escolhas para compor o time titular, a começar pelo goleiro. Alisson não é o melhor da posição, mas é o preferido de Taffarel, o preparador de goleiros. Seja o que Deus quiser. Do meio-campo em diante, o Brasil tem qualidade técnica suficiente para fazer uma grande Copa, apesar das esquisitices da lista do professor Tite. Se isso será suficiente para conquistar o título, aí já é outra história.

Sobre o pujante Shakhtar, persiste a dúvida sobre seu incrível sucesso na Seleção Brasileira. Talvez esteja na qualidade da água ou na velocidade do vento. Sabe Deus. Mistérios insondáveis.

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Um comovente e involuntário tributo a Lazaroni

Ao explicar taticamente porque Taison pode ter funções polivalentes na Seleção, Tite, sem querer, homenageou Sebastião Lazaroni, mencionando “valências”, “dois terços de campo”, “verticalidade profunda” e “contundência de dribles”.

À luz da hermenêutica, tudo parece se encaixar, mas desconfio que nem o próprio Taison entendeu a gororoba verbal do professor.

E, por falar em Lazaroni, execrado pelo fracasso na Copa de 1990, por culpa de Maradona e Caniggia, penso que o estilo loroteiro pode empurrar o bom Tite para o mesmo destino do popular “Galgando parâmetros” caso não traga o hexa. A conferir.

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Convocação preserva o recorde alvinegro em Copas

Clube brasileiro que mais forneceu talentos para a Seleção Brasileira em disputa de mundiais, o Botafogo continuará soberano por mais quatro luas. Como o São Paulo, o mais direto concorrente, não teve nenhum atleta convocado – Rodrigo Caio perdeu a vaga para Geromel –, a Estrela Solitária segue absoluta.

São 47 convocações para Copas contra 46 do Tricolor do Morumbi. É claro que nisso aí está inclusa a portentosa participação no Mundial de 1962, único da história vencido por um clube! Só para avivar a memória dos infiéis, o Brasil bicampeão mundial era praticamente o Botafogo em campo: Nilton Santos, Didi, Zagallo, Amarildo e Mané Garrincha.

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Leão precisa fechar mais as beiradas do campo

O Remo, revigorado pela importante vitória em João Pessoa, não pode fechar os olhos para questões pontuais que atrapalham o time. Depois de contratar um lateral direito (Nininho) para fazer sombra a Levy, precisa trazer um especialista para disputar posição com Esquerdinha, dado a apagões como no lance do gol do Botafogo.

(Coluna publicada no Bola desta terça-feira, 15)

10 comentários em “Agora é Taison + 22

  1. A lista de fiascos é imensa, caro Gerson. Mas gostaria de lembrar um, cometido pelo recordista Zagalo, que está entre as mais notáveis mancadas dessa história.
    Foi a convocação de Chiquinho Pastor, que acabara de ser campeão da Taça Guanabara pelo Flamengo, merecendo por isso a convocação por Zagalo, que ainda teve a ousadia de colocá-lo pra jogar e o próprio beque desconvocou-se ao expor para todo o Brasil sua imensa mediocridade.
    Quanto ao carniceiro Fagner, acho sua convocação até mais descabida que a do Taison e suas “valências’. E acho porque Tite nem se dá ao trabalho do recurso ao lari lari explicativo. Simplesmente convocou, mas justificou que Danilo larga na frente, embora, digo eu, tenha sido menos convocado que o furibundo lateral corintiano. Ou seja, Fagner estará lá e pronto. Parecendo bastar que seja do Corinthians para tal.
    Repito aqui o que disse no face: assim como a bola pune, a convocação por apadrinhamento é punida. Telê não só convocou o monobloco Elzo como o ungiu à condição de titular, barrando o Alemão que estava jogando uma enormidade. Resultado: Brasil eliminado nos pênaltis pela França, que teve uma das cobranças contra a trave e na volta na costa do goleiro Carlos e daí pro fundo das redes. Castigo?

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  2. Com tudo, na minha singela opinião eu ainda acho que maior ausência neste grupo da seleção que vai à Copa da Russia não é do Luan, do Arthur ou qualquer outro jogador. A maior ausência ou mais injustiçado é o treinador Campeão Olímpico Rogerio Micalle, o esquecido e injustiçado o qual conseguiu pelo futebol Brasileiro o ouro do futebol olímpico que nem Treinadores como Ze Moreira, Vicente Fiola, Zagalo, Parreira, Felipão conseguiram. Micalle conseguiu montar um grupo se atletas para arrematar o ouro que nem o grupo de atletas monstros sagrados tipo Rei Pelé, Didi, Belinni, Nilton santos Garrincha, Riva, Tostão, Gerson, Romário, Ronaldo Fenômeno, Ronaldo Gaucho conseguiram. Alguns aí não chegaram nem perto.

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  3. Micalle conseguiu e elevou a alto estima de nosso futebol arrasado na Copa 2014. Quando o Tite assumiu a seleção que estava mal nas eliminatórias com Dunga, mas nos bastidores em relação ao vexame dos 7×1, a poeira tinha baixado com o ouro olímpico ficando no Brasil em cima justamente dos algozes. Então Micalle merecia estar neste grupo nem que fosse como incentivador, ou até roupeiro, sei lá, mas deveria estar seja lá que cargo fosse. A CBF e o Tite foram ingratos com Micalle e espero que isso não nos custe caro novamente para a seleção. Outras seleções mundiais campeãs olímpicas deram muito valor aos seus treinadores e atletas nas Copas do Mundo. E formaram grandes equipes e foram bem. Ungria, Itália, Bélgica, e Propria Argentina que revelou até o Messy no futebol Olímpico e o Uruguai que até hoje chamado de Celeste Olímpica são alguns exemplos. Para o Brasil, parece que o ouro olímpico não valeu nada ou teve pouca importância. Se eu fosse dirigente da CBF Micalle estaria no Grupo da Copa, quisesse ou não o Tite. Injustiça é pecado capital.

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  4. Meu caro Nélio,Rei Pelé, Didi, Belinni, Nilton Santos Garrincha, Riva, Tostão, Gerson, não ganharam porque não disputaram. Naquela época, só jogadores amadores podiam disputar as Olimpíadas, daí a hegemonia dos times do bloco soviético onde o futebol não era profissional.
    Mas tenha a certeza que esses citados, caso tivessem disputado a competição, certamente trariam a medalha de ouro pro Brasil

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  5. Correta sua informação, amigo Amorim, e foi o que quis dizer mas não me expressei clareza, ou seja, alguns atletas monstros sagrados do nosso futebol a exemplo desses 8 não chegaram nem perto de ganhar, onde os motivos óbvios são que nem chance tiveram de disputar. Outros craques brasileiros e treinadores renomados disputaram mas não trouxeram o ouro tão sonhado durante séculos. Porém o desconhecido treinador Micalle formou seu grupo e venceu o ouro olímpico, único título que faltava ao nosso glorioso futebol. E venceu em cima do maior algoz do futebol brasileiro. Então se o Tite fala tanto em meritocracia, deixar o treinador campeão olímpico fora do grupo que vai à Russia não tem nada de mérito, principalmente quando o menos merecedor Gilmar Rinald vai à Russia como Coordenador Geral.

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