A nova jogada de Romário

POR GERSON NOGUEIRA

Fiel ao estilo de se manifestar soltando farpas para todo lado, Romário lançou nos últimos dias nas redes sociais o balão de ensaio de uma possível candidatura à presidência da CBF. Apesar da fala agressiva, soou como peça de propaganda de final de temporada, talvez para lembrar ao distinto público que o ex-artilheiro ainda bate ponto no Senado.

Na prática, uma candidatura avulsa à presidência da CBF já nasce condenada, pois o sistema eleitoral é cuidadosamente pensado para não permitir intrusos no banquete da entidade.

Entenda-se por intruso todo aquele que não reza pela cartilha de Marco Polo Del Nero e seus incontáveis aliados, entre os quais o vice-presidente Antonio Carlos Nunes, ora ocupando o trono diante da suspensão imposta ao chefe pelo comitê de ética da Fifa.

Romário tem sido voz estridente contra os mandatários da CBF. Começou espinafrando Ricardo Teixeira, manteve o tom contra José Maria Marin e se tornou ainda mais implacável nas diatribes dirigidas a Del Nero.

Como senador, encampou uma cruzada anti-CBF e foi um dos idealizadores da CPI do Futebol, que visava desvendar a chamada caixa-preta da instituição que comanda o esporte mais popular do país. Chegou perto de intimidar a cartolagem mais graúda, porém derrapou feio ao se intimidar (e calar) diante da poderosa Globo, sócia e parceira de fé da CBF.

Após bradar contra Teixeira, Marin e Del Nero, Romário capitalizou a imagem de um justiceiro em meio às mazelas do futebol brasileiro. Acertou em tudo o que disse sobre os três dirigentes, reiteradamente acusados por ele de corrupção e bandalheiras diversas na condução do futebol no país.

Não revelou nenhuma grande novidade, mas teve o mérito de oportunizar denúncias bem documentadas durante o funcionamento da CPI. Por intermédio do Baixinho, esteve na comissão o jornalista britânico Andrew Jennings, autor de livros de reportagem sobre as propinas na Fifa e a corrupção que envolvia todo o universo do futebol, incluindo a CBF.

Como toda CPI, a que pretendia esmiuçar as mazelas do futebol não deu em nada, mas Romário seguiu disparando a metralhadora giratória contra os alvos de sempre, agora respaldado pela devassa promovida pela Justiça norte-americana no âmbito da Fifa.

Na pré-campanha lançada na internet, Romário faz a defesa de eleições diretas na CBF, consciente de que no modelo atual não teria qualquer chance de êxito. A lamentar apenas o tom extremamente conservador das propostas do veterano, coerentes com o seu ideário político-partidário.

Enquanto atleta, Romário se manteve longe de qualquer preocupação com os rumos do futebol. Sempre se comportou como um alienado, evitando bater de frente com os donos do negócio, no que não foi diferente da imensa maioria de seus parceiros de bola. Não por coincidência, sua conversão à guerrilha crítica coincide com os rumos de sua carreira política e o calendário eleitoral.

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Papão escolhe gestor de negócios para o futebol profissional

Um especialista em gestão de negócios foi escolhido para dirigir o futebol do Papão. Lucas Conde, empresário de 27 anos, com especialização na área administrativa e experiência com as divisões de base do clube, foi anunciado ontem à noite pelo presidente Tony Couceiro.

Aposta interessante do PSC para uma função que raramente é ocupada no futebol do Pará por dirigentes com formação acadêmica e antenados em relação às complexidades do futebol profissional. Quase sempre a escolha recai sobre ex-atletas e velhos cartolas. Mudança de mentalidade.

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A dança dos patrocínios entre os clubes da Série A

O Ibope Repucom divulga um mapeamento inédito sobre os patrocinadores nos uniformes dos clubes de futebol da Série A brasileira em 2017. O estudo mostra que os clubes da Série A estamparam 87 marcas diferentes em seus uniformes, média de mais de 4 patrocínios por time.

Em relação aos segmentos que apostam na vitrine do futebol, destacam-se os de construção, acabamentos e ramo imobiliário, que juntos firmaram 12 contratos com os principais clubes.

Atento aos novos tempos, o levantamento formula um guia de boas práticas sobre a divulgação das redes sociais de clubes e patrocinadores, ambiente considerado fundamental para as ativações e que contribui cada vez mais para bons resultados das iniciativas de patrocínio.

Constata-se que a atividade on-line dos clubes e patrocinadores, tanto nos sites próprios quanto nas mídias sociais, pode ser determinante para o sucesso e a vida longa de determinado patrocínio. Times e patrocinadores devem aproveitar popularidade e audiência para comunicar a parceria e ampliar o sucesso das ativações, ensina o especialista José Colagrossi, diretor executivo do Ibope Repucom.

Só por curiosidade, a ampla pesquisa mostra que a Ponte Preta foi, de longe, o clube que reuniu mais patrocínios, acumulando 17 marcas no ano. Não significa, obviamente, que tenha faturado mais que os outros.

Fiquei sabendo também, ao ler o alentado relatório, que o meião é hoje um espaço considerado desprezível pelos anunciantes, sendo praticamente ignorado na Série A, perdendo feio para a parte traseira dos calções, sabe-se lá qual o motivo – talvez porque os patrocinadores não queiram seus produtos associados às canelas dos boleiros.

(Coluna publicada no Bola desta sexta-feira, 22)

9 comentários em “A nova jogada de Romário

  1. O discurso de Romário não é diferente de um outro que agora é presidenciável.

    Enquanto estava no EB, disciplinado e fazendo continências ao regime estava ele.

    De repente, no (des)governo Sarney, uma grande sacada: fazer um mega-protesto em favor de aumentos de soldo.

    Oportunista, soube encarnar o ponto fraco e bandeira número um de quase 100% do meio militar, de capitão para baixo. Seu nome e sua foto sai na capa da revista Veja, tornando-o conhecido em todo o país, embora de início só lhe bastasse ser conhecido no RJ.

    Sabia que seria excluído, garantindo seu salário à esposa, um risco muito bem calculado.

    Uma vez transposto o portão da guarda, candidato a deputado com a proposta de lutar por aumento de salários à classe militar. Uma bandeira infalível.

    Vem vendendo essa ilusão há quase trinta anos.

    Mas agora, com vistas a engrossar o eleitorado, amplia o discurso para outras áreas, ciente de que o discurso coincide com o pensamento de muito imbecil pelo país a fora.

    Romário usa o mesmo estratagema. A diferença é que, em vez de soldo, usa o futebol. Tem ambições maiores, quem sabe governador ou mais além.

    Se desse certo a CBF ainda iria iludir o público por mais algum tempo, mas longe, muito longe de bater de frente com a poderosa Globo.

    Tem muita gente que acredita nele.

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  2. É pode haver uma certa semelhança entre o discurso do Bolsonaro e do Romário. Aliás, todo o político tem discurso semelhante. Por isso, é sempre bom estar atento. É votar, e, depois, fiscalizar o eleito.

    Com efeito, o que será do Romário no que respeita aos novos projetos e anseios políticos é uma incógnita mesmo. Mas, naquilo que já há de concreto na trajetória política do ex-jogador, é dizer que é muito melhor do que é o Bolsonaro.

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  3. Caro Oliveira, sempre haverá semelhanças nos discursos políticos à direita e à esquerda. Se tivermos em mente a ideologia liberal e a socialista, os discursos serão semelhantes sobre o futuro, porque a ideologia mira o futuro, direita e esquerda projetam o futuro. Ideologia é sobre o que temos de fazer agora para que o futuro seja melhor, por isso ambas têm promessas semelhantes porque prometem melhorar a realidade atual no futuro. Então, basicamente, se trata do futuro.

    Evidentemente, os princípios da direita e da esquerda são diferentes porque partem de pontos de vista diferentes. Mas o fundamento atual da direita é indefensável porque produz um futuro pior do que é hoje. A direita de hoje é neoliberal, é dizer, pensa em formas de corromper o Estado fazendo-o atuar pela concentração de renda, pela manutenção da hegemonia do capital. A direita promete alcançar o mesmo resultado que políticas socialistas atingiriam pelo caminho de manter a hegemonia e a concentração de renda, vendendo a ideia de que os ricos estão preocupados em gerar empregos e aumentar a renda do trabalhador. Pura lorota. A direita é a prática do discurso absurdo, que não tem a menor chance de chegar aonde promete. Um estelionato.

    Logicamente, a direita neoliberal preocupa-se em copiar o discurso da esquerda quanto ao futuro, com o argumento de que o caminho proposto pela esquerda é impossível e que o do neoliberalismo é perfeitamente viável. O neoliberalismo é viável, sim, mas para a manutenção do status quo, com aprofundamento da desigualdade. O neoliberalismo, se fosse sincero, teria um discurso muito diferente do da esquerda e estaria condenado a jamais vencer uma eleição sequer. Por isso, em muitos aspectos, o discurso político é tudo igual. E é exatamente por isso que Bolsonaro jamais admitirá ser um fascista, que Aécio jamais admitirá ser um farsante e que Lula será condenado pelo judiciário neoliberal, que jamais admitirá a corrupção ideológica.

    Quanto a Romário, ele é só mais um nesse contexto que resolveu submeter-se aos interesses hegemônicos porque o comportamento dele quanto a enfrentar os interesses do grande capital não mostra qualquer disposição, vide a atuação dele na CPI do futebol. Romário está interessado em ser ele mesmo o representante do capital na CBF, penso.

    Um abraço e feliz natal a todos.

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  4. Lopes, como seu alentado texto não infirma nada do que eu disse nas minhas três quatro linhas, poderia me abster de responder-lhe. Mas, como nāo posso deixar de retribuir-lhe os votos de feliz natal, me permito escrever também mais uma ou duas palavras.
    Independentementemente do que pretenda o Romário com este ensaio de candidatura à cbf, o fato é que ele fez um excelente papel na cpi do futebol. Aliás, o só fato de ter subscrito um relatório paralelo ao oficial já mostra que ele não seguiu a linha pizzaiola comumente seguida por integrantes de cpi.

    Feliz natal pra você!

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  5. Caro Oliveira, apenas observo a perigosa generalização:

    “(…) Aliás, todo o político tem discurso semelhante.(…)”

    Se vigiamos atentamente os políticos, como você sugere, então chegamos ao seguinte comportamento típico:

    – a favor das reformas de Temer contra o povo: a direita.
    – contrário às reformas de Temer contra o povo: a esquerda.

    Difícil não observar as características fundamentais dos partidos fazendo coerência na hora de legislar. Essas grandes diferenças entre discursos políticos e práticas políticas é notória. Uma grande diferença entre discurso e prática política parece acontecer com o PT. Para muitos, o PT era um puxadinho comunista do PCdoB. Mas Lula implementou políticas econômicas keynesianas, bem sucedidas na Europa do pós-guerra – e que não tem nada de comunista. Mas muita gente ainda acha que o Lula é o sapo barbudo comunista e por isso não vê nele coerência ideológica…

    Romário, que merece seus elogios pelo relatório paralelo ao apresentado pela CPI, votou contra os trabalhadores e tem votado sistematicamente contra o povo. Encaixa-se na direita por filiação partidária e comportamento político típico. É para isso que chamo a sua atenção.

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  6. Lopes, de minha parte, só lembro uma coisa: eu disse que os discursos são semelhantes, não disse que são idênticos. E, nada obstante o perfil do eleitorado varie nos anseios e pretensões, desconheço a existência de um candidato que discurse prometendo fazer aquilo que vai de encontro às pretensões do eleitores que integram seu respectivo reduto. Nunca! Todos discursam prometendo, se eleitos, fazer na prática, aquilo que contemple a vontade de seus eleitores.

    Mas, como a prática é muito diferente do discurso, da promessa, a vigilância há de ser constante e iniciar logo após a contagem dos votos. Afinal, o cidadão elegeu um representante e não um ser sagrado, santificado, deificado.

    Então, nesse sentido, é preciso ter presente que todo político promete fazer o que seus eleitores necessitam que seja feito. E que depois de eleito todo político precisa ser vigiado, inclusive por aqueles que o elegeram. Este é um caso, raríssimo, onde a generalização é saudável.

    Agora, quanto à fiscalização, não me parece que deva necessariamente resultar nesta dicotomia teórica referida em seu comentário. Inclusive, porque há muito político que discursa como sendo de esquerda; mas, quando tem oportunidade, pratica a política que se afiniza com as posturas atribuídas à direita.
    Aliás, no impedimento da Dilma (dita de esquerda), houve cacique político ( dito de direita) que dividiu seu clã familiar de políticos (ditos de direita) para parte votar contra o impedimento para garantir os cargos ocupados no governo. E outra parte votar a favor do impedimento para garantir o cargo no outro governo que viria.

    Ah, dito isso, é preciso lembrar que antes deste seu comentários mais recente debatiamos a partir de um cotejo entre o discurso e a trajetória política do Bolsonaro e do Romário, bem assim da participação deste último na cpi alusiva ao futebol.

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  7. A linguagem, Oliveira, a linguagem… não afirmei que você tenha dito isso ou aquilo exata e peremptoriamente, apenas apontei como o discurso pode ser desligado da prática e como a coerência ou a incoerência salta aos olhos do cidadão mais atento, assim como escapa da percepção do cidadão desatento, ou alienado. Apenas isso. Mas, enfim, estamos certos quanto à vigilância aos representantes, assim como foi importante o papel do Romário na elaboração do relatório alternativo, mas sabendo que daria em nada, este apenas acumulou força política, como seu comentário demonstra. Por isso que aponto, também, como tem votado Romário com o governo porque, para mim, por melhor figura que tenha feito com o tal relatório, não merece outra oportunidade como senador porque vejo apenas um projeto pessoal consequente da visibilidade que o caso lhe trouxe. Romário quer ser presidente da CBF. É isso que vejo agora, e era isso que via antes.

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  8. É, a linguagem… Bom, você pode não ter dito, mas, como me pareceu ter dito, eu aproveitei para esclarecer.

    Quanto ao Romário, com verdade, não o elogiei, apenas constatei um fato incontestável: a trajetória política do ex jogador é muito melhor do que a do Bolsonaro. E é mesmo!

    Aliás, constatei duas verdades.

    A segunda, é que ele, independentemente dos motivos, não se comportou como um pizzaiolo na cpi. E não se comportou mesmo!

    Quanto à força política, nada obstante ainda possa ser considerado um parlamentar sem maior expressão, é inegável que ele vem se cacifando mandato a mandato. Agora, se ele consegue isso votando matérias populares, é de dizer que tem tido uma percepção até mais ou menos das pretensões da população, eis que além de ter votado pelo indiciamento da cartolagem, também votou contra a lei de abuso de autoridade e contra a reforma trabalhista. Deveras, para quem como jogador viveu uma vida de polêmicas, algumas até nada edificantes, no geral ele está se desempenhando até razoavelmente. Vamos ver como se comportará no que ainda vem por aí.

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