
POR GERSON NOGUEIRA
O fato de não decidir ou definir nada e representar risco zero para os dois times não reduz a estatura do Re-Pa desta tarde. Pelo contrário, essas condições devem fazer do clássico um dos mais abertos dos últimos tempos. Como não têm rigorosamente nada a perder, os técnicos devem buscar a vitória sem exagerar nas preocupações defensivas.
É claro que se trata de uma suposição apenas. Quando a bola rola, todas as expectativas se reduzem a pós, pois o confronto entre os titãs do futebol paraense foi sempre marcado pelo equilíbrio e a imprevisibilidade.
Os técnicos vivem situações opostas. Marcelo Chamusca, muito pressionado pela torcida, tentará reproduzir no Mangueirão a atuação segura e confiante do time B em Santarém contra o São Francisco.
A tarefa será facilitada se ele prestigiar alguns dos jogadores que garantiram o bom entrosamento visto no Barbalhão. Nesse sentido, o trio Rodrigo Andrade, Will e Jonathan merece especial atenção.
Os sete jogos sem tomar gols dão ao treinador a convicção de que o time segue no rumo certo em busca da sonhada estabilidade, fechando-se bem a partir da linha de volantes e agredindo com até quatro jogadores.
Em paz com o torcedor, Josué Teixeira está tão à vontade que revelou desde a segunda-feira como seu time entrará jogando. Mantém os meias Eduardo Ramos e Flamel, resguardados pelos volantes Elizeu e Tsunami, com Jaime e Edgar no ataque. Para que o sistema funcione, os alas Léo Rosa e Jaquinha terão que atacar sempre.
Sob esse ponto de vista, o invicto Remo parece mais ofensivo. Na prática, porém, ambos se equivalem. O Papão fecha mais o meio, mas ataca com Leandro Carvalho, Alfredo e Bergson, que têm o apoio de Diogo Oliveira.
No fundo, as semelhanças são mais significativas que as diferenças.
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Bola na Torre
Guilherme Guerreiro apresenta, com participações de Valmir Rodrigues e deste escriba de Baião. O convidado da noite será o técnico vencedor do Re-Pa. Programação começa às 20h45, na RBATV.
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Uma saga de resgate e recuperação
O velho ditado segundo o qual o mundo dá muitas voltas cabe bem na situação do volante Paulinho, peça destacada no mosaico tático que Tite vem montando na Seleção Brasileira, com excepcional atuação contra o Uruguai na quinta-feira. E pensar que o retorno foi cercado de dúvidas. Dez em cada dez analistas (inclusive este escriba) criticaram a insistência de Tite com um volante que havia perdido pelo caminho.
Jogador impetuoso e de grande importância no Corinthians de 2010 a 2013, frustrou expectativas ao ser escalado no escrete canarinho. Viveu seu pior momento sob o comando de Felipão na Copa do Mundo de 2014.
É certo que todos foram mal no Mundial, mas Paulinho conseguiu passar quase despercebido, tal a sua desimportância para o time. Para piorar, o volante vivia inferno astral no Tottenham, onde ganhou o amargo troféu de “pior estrangeiro da história” do clube inglês.
De repente, Paulinho emerge para recuperar terreno na Seleção. Tem feito bons jogos nas Eliminatórias e coroou o bom momento com a exibição de gala no estádio Centenário, quinta-feira à noite, contra o Uruguai.
Não contente em fazer o papel de meio-campista múltiplo, tornou-se o goleador da noite, fazendo gols que expressam a variedade de seu repertório. O primeiro foi um chute de fora da área. O segundo foi um típico gol de centroavante, aproveitando rebatida do goleiro. No último, lembrou Renato Gaúcho, desviando de peito para o fundo das redes.
Afinal, quem estava certo? O torcedor do Tottenham, que execrou a passagem de Paulinho por lá, ou Tite, que teve a sensibilidade de resgatá-lo do ostracismo? Não se sabe ainda. O fato é que o futebol ensina mais uma vez que não há mal que dure sempre e nem bem que nunca acabe.
(Coluna publicada no Bola deste domingo, 26)