



POR GERSON NOGUEIRA
A Copa Libertadores ainda consegue o feito excepcional de proporcionar espetáculos eletrizantes, disputados em alta intensidade e capazes de prender a atenção até de quem não torce pelos clubes envolvidos. Foi assim que vi, extasiado, no meio da semana, a batalha entre Boca Juniors e Nacional de Montevidéu, travada no mítico La Bombonera.
O segundo tempo avançava e o Boca perdia por 1 a 0, fazendo com que as arquibancadas sacudissem ainda mais em frenética vibração. Torcedores argentinos têm esse talento único de transformar qualquer jogo – principalmente do Boca – em verdadeiras catarses à margem das quatro linhas.
A apoteose arrebatadora de bandeiras, papel picado e faixas em azul-amarelo faz muitas vezes com que se esqueça do futebol paupérrimo, embora sempre aguerrido dos times sul-americanos mais tradicionais.
O jogo valia vaga nas semifinais do torneio continental. Quis o destino que a disputa colocasse frente a frente duas legendas do futebol raçudo: o sempre épico Boca contra o não menos sanguíneo Nacional.
Nem em 100 mil anos será possível esquecer o que essas duas bandeiras legaram à história anímica do futebol na América do Sul. Mesmo quando os times não estão à altura da paixão de seus adeptos, como é o caso atual, a devoção supera tudo.
Toda a falta de arrojo e pegada, tão criticada em clubes brasileiros, estava ali no gramado da Bombonera à vista de todos. Os jogadores encaravam as divididas como se não houvesse manhã.
Como único astro em ação, Carlito Tévez recebia as atenções (e caneladas) devidas. Talvez por isso não conseguiu achar espaço para jogar e só chutou duas bolas em direção ao gol. Bem mais jovem, o jovem Pavón abria caminho em direção ao gol com valentia e alguma técnica.
No meio do segundo tempo, o Boca chegou ao empate. Pavón recebeu um passe longo pela direita e bateu cruzado na saída do goleiro Conde. Histeria na Bombonera. Assim como ninguém torce como os argentinos, cabe reconhecer que ninguém comemora como eles.
A festa pessoal de Pavón pelo gol salvador incluiu uma irrefletida infração disciplinar. Tirou a camisa para melhor reger a massa boquense. O brasileiro Héber Roberto Lopes, como todo chato que se preze, decidiu aplicar a lei e expulsou Pavón.
Por longos 20 minutos, o Boca se manteve vivo e resistente às investidas uruguaias. Com garra e fé. Nos penais, depois de quatro grandes defesas dos goleiros Orion e Conde, triunfo argentino.
Em retrospectiva, admito que não lembro de nenhum grande lance de natureza técnica, mas o jogo foi intenso e pungente como o futebol sempre deveria ser.
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No Papão, muitos golaços e uma ingratidão
O presidente Alberto Maia experimentou emoções muito fortes nas últimas semanas. Perseguidos com sofreguidão desde o ano passado, os títulos do Parazão e da Copa Verde foram comemorados intensamente, tanto em público quanto nos bastidores. Além das taças, a gestão comemora outros golaços no aspecto administrativo.
Três, em especial, são bastante ressaltados pelo grupo dirigente do clube.
A consolidação da marca Lobo, responsável por uma receita superior a R$ 2 milhões, com mais de 34 camisas vendidas desde o lançamento.
O hotel-concentração, cuja inauguração será no dia 25 deste mês, com instalações de primeira linha e 19 quartos duplos, para abrigar jogadores do elenco profissional e das divisões de base.
E a aquisição da área de 100 mil metros quadrados, em Águas Lindas, para a construção do tão sonhado Centro de Treinamento. A 20 minutos do centro, o terreno foi comprado por R$ 1,4 milhão e as obras começam assim que a papelada estiver toda regularizada.
Os itens citados constituem motivos mais do que suficientes para empolgar qualquer gestor. Mesmo satisfeito com as conquistas, o presidente do Papão não esconde mágoa profunda em relação a um episódio envolvendo atleta muito ajudado em sua gestão.
Em conversa na última sexta-feira, Maia revelou ter se surpreendido com a atitude intransigente e agressiva do meia Vélber, por ocasião do pagamento de sua rescisão e as premiações pelos títulos conquistados.
Como o clube foi obrigado pela Justiça a descontar valores referentes a pensões alimentícias, o veterano jogador se irritou. Diante de vários funcionários, proferiu ameaças e saiu prometendo “chumbo grosso”.
Maia entende que faltou serenidade e assessoria a Vélber, que não foi mantido para a Série B por critérios absolutamente técnicos.
Foi do presidente a ideia de recontratar um dos símbolos da grande fase do Papão no começo da década de 2000. A intenção era homenagear o jogador, ajudando-o num momento pessoal difícil e permitindo um encerramento digno de carreira.
Pelo visto, infelizmente, o próprio Vélber não entendeu assim.
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Bola na Torre
Giuseppe Tommaso apresenta o programa desta noite na RBATV, tendo Saulo Zaire e este escriba de Baião na bancada, ao lado de um convidado especial. A atração começa depois do Pânico, por volta de 00h20.
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Sobre o saudoso Paulo Emílio
Um reparo oportuno foi encaminhado à coluna pelo amigo Ronaldo Passarinho, grande benemérito azulino e profundo conhecedor da história do clube. Ele corrige um ponto do comentário que fiz sobre o técnico Paulo Emílio: “Em 1974, eu era vice- presidente de futebol do Remo. O Paulo Emílio, ontem falecido, dirigiu o time até abril. O técnico campeão invicto foi o Paulinho de Almeida. Aliás, em 1990, Paulinho voltou ao CR e foi novamente bicampeão”.
(Coluna publicada no Bola deste domingo, 22)