De virada em virada, Galo vira time do “impossível”

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Por Diego Garcia, da ESPN

Parecia que aquele time de 2013 já tinha exorcizado todos os demônios da história do Atlético-MG desde 1971. A epopéia da Libertadores lavou a alma dos 42 anos de fila do atleticano acostumado a sempre chegar, nunca levar. A surra no São Paulo, vingando 77, 91, 96 e 2000. A canelada de Victor contra o Tijuana. As viradas épicas diante de Newells e Olimpia. Parecia até coisa de cinema. Mas um ano e meio depois, o maior Galo de todos os tempos segue enterrando fantasma atrás de fantasma e se eterniza como o time do impossível. Do imponderável.

O filme que começou com a perda do Campeonato Brasileiro de 2012, depois de vencer o primeiro turno e morrer – de novo – na praia no fim, chegou ao auge nas mãos de Réver com a taça da Libertadores, ganhou ares dramáticos com o vexame no Mundial, deu uma pausa e voltou com tudo no fim de 2014. O Atlético-MG, agora de Levir Culpi, chegou à final da Copa do Brasil e está a dois jogos de quebrar um tabu de 43 anos sem títulos nacionais. Mais uma vez, de forma poética. Forte e vingadora. Despachando freguesias, medos e traumas.

Primeiro, o Corinthians. A maior pedra no sapato atleticano desde 1990, quando Neto matou os mineiros nas quartas de final do Campeonato Brasileiro. Quatro anos depois, o filme se repetiu, agora na etapa semifinal. Mais três temporadas à frente, outra vez, só que nas oitavas da Copa do Brasil. Em 1999, a dolorosa perda na decisão do Brasileiro. No ano seguinte, derrota nas quartas da Libertadores. O grand finale foi em 2002, com a humilhante derrota por 6 a 2, em pleno Mineirão, novamente pelas quartas do Nacional.

300_17486a5d-706b-3529-aa51-92c7835da0f8Que ironia: o então diretor de futebol era Alexandre Kalil, atualmente presidente do clube, que não perdoou os jogadores, quando disse que “todos se borraram nas calças” diante do rival. Um histórico de seis eliminações em 12 anos nos mata-matas contra o Corinthians. Foram mais 12 anos de espera para o troco, com juros e correção monetária. Os 3 a 0 contra no placar agregado diante do maior algoz dos últimos 25 anos era tarefa quase impossível de reverter. Não para esse Atlético, que a cada dia chuta para longe – bem longe – fragmentos das lágrimas passadas e reescreve a própria história.

O próximo foi o Flamengo. O maior rival fora de Minas Gerais, grande algoz no cenário nacional e protagonista de algumas das maiores frustrações – que não são poucas – da história atleticana. A final do Brasileiro de 1980, a eliminação Libertadores de 81 e a semi da Copa União de 87 jamais foram esquecidas, ou digeridas, pelos mineiros. Passaram-se 34 anos, e o Gol de Nunes, aos 37 minutos do segundo tempo no Maracanã, ainda atormenta a mente dos mais antigos torcedores alvinegros. Mas esse não é mais aqueeeele Atlético…

“Como contra o Corinthians, disseram que a gente era freguês, e nada melhor que provar que o Galo mudou e não veio para ser freguês de ninguém”. O desabafo de Luan veio menos de 10 minutos depois de marcar o gol da virada, aos 40 da etapa complementar, o quarto do heróico 4 a 1 contra o (ex) carrasco rubro-negro. De novo com 3 a 0 desfavorável no placar agregado diante de uma camisa que tanto fez o Galo sofrer ao longo dos anos. Outro fantasma enterrado, outro feito de filme, mais uma virada inexplicável. Mas quem explica o impossível? Ou melhor, quem explica esse Atlético?

A mais famosa frase sobre o mineiro alvinegro é de Roberto Drummond, que diz que “se houver uma camisa branca e preta pendurada em um varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento”. Pois se essa descrição é o retrato ideal do apoio e fé infinitos dos atleticanos, alheios até a tantas décadas de desenganos e mágoas, esse Galo versão 2014 é um desafiante real dos temporais para quem o triunfo realmente beira o impossível – como “vencer o vento”. Ainda restam dois jogos. E, agora, o vendaval é azul… Justo o Cruzeiro! Pois a gigantesca epopeia atleticana pode ter seu maior (ou pior) desfecho.

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