O que rolou de rock no primeiro dia do RiR

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Por Jamari França

Escrevi em tempo real o que teve de rock no primeiro dia do Rock in Rio no Facebook. O mico do dia, como suspeitava, foi a homenagem a Cazuza, salva apenas por Ney Matogrosso e pela formação original do Barão com Frejat, Guto, Dé e Maurício. De resto um espetáculo mal produzido com cantores que não interpretaram as músicas como deviam, desafinaram horrores, caso das desastrosas Maria Gadu e Bebel Gilberto. Paulo Miklos, uma das melhores vozes de sua geração, que solta os bichos nos Titãs, estava contido, aquém de suas possibilidades, e ainda lendo a letra, o que prejudica muito qualquer performance. É o mal desses tributos, o pessoal não se prepara de maneira adequada, falta segurança, fica-se contido com medo de que dê uma merda qualquer.

E as músicas que Miklos ficou encarregado ficariam geniais em sua voz com uma produção adequada. Vida Louca Vida, de Bernardo Vilhena e Lobão, foi a música que Cazuza escolheu para retratar o sufoco que passava, abria seu último show que gerou o CD ao vivo O Tempo Não Para> “Vida louca, vida breve, já que eu não posso te levar, quero que você me leve”. O blues Down em Mim merecia uma das interpretações viscerais que Miklos sabe fazer muito bem e não fez. E o hino Exagerado, primeiro sucesso solo de Cazuza depois de sair do Barão, era outro que ele podia ter arrasado.

A banda tinha grandes músicos como Fernando Vidal na guitarra, Cesinha na bateria, Liminha no baixo, mas os arranjos ficaram pasteurizados sem a força que as composições merecem. Isso aliados a intérpretes sofríveis como Maria Gadu (Faz Parte do Meu Show e Bete Balanço), Bebel Gilberto (Preciso Dizer Que Te Amo e Todo Amor Que Houver Nessa Vida) e Rogerio Flausino (Solidão Que Nada, Nosso Amor a Gente Inventa). A essa altura eu já estava roendo o encosto da cadeira de ódio. Aí, de repente, irrompe a figura forte e carismática de Ney Matogrosso cantando O Tempo Não Pára com toda majestade. Ufa, que alívio. Emocionou com Codinome Beija Flor e fechou com Brasil, estragado por um arranjo furreca.

E finalmente os músicos que conheci moleques em 1982 entraram com a devida eficiência para cantar Porque A Gente É Assim e Blues da Piedade. Antes teve umas falas de Cazuza do primeiro Rock in Rio. Aliás nem sei porque tou falando isso tudo se todo mundo viu pelo Multishow. Anyway, quando falam em tributo eu tremo. Amanhã tem um pro Raul Seixas no Sunset com Detonautas, Zélia Duncan e Rick Ferreira, um povo que eu gosto muito. Vou torcer pra ser diferente.

O anunciado encontro de Vintage Trouble com Jesuton no palco Sunset não se concretizou. Ela cantou só duas músicas, uma delas Mas Que Nada, a velha mania dos gringos de desconhecer nossa música e achar que ainda estamos no começo dos anos 60. A banda é de soul music com um grande vocalista e um bom guitarrista de hard rock. Não tem substância para ser chamada de uma grande banda de rock criativa com fôlego suficiente para seguir adiante. Usa uma série de cliches de hard rock e soul, teve chupadas que foram de Jimmy Page a Janis Joplin (Move Over) na guitarra e James Brown nos vocais. É boa mesmo para shows, de fazer a plateia se acabar de dançar.

E teve o poderoso Living Colour, esta sim uma grande banda de fôlego. Canções consistentes, todos excelentes em seus instrumentos, um repertório que inclui criticas sociais e políticas como Cult of Personality, Open Letter (To a Landlord), Glamour Boys e Desperate People. Longos e precisos improvisos de Vernon Reid, os falsetes de Corey Glover, o baixo seco de Doug Wimbish e a porrada segura e precisa de Will Calhoun na bateria. Quando a cantora de Benim Angelique Kidjo, uma grande dama da canção africana, entrou em cena, o show virou de funk hard metal para world music com os ritmos e o estilo de guitarra africanos trazido por um músico que veio com Kidjo. A celebração africana só voltou aos domínios do rock quando ela e a banda tocaram o clássico de Jimi Hendrix Voodoo Child, uma chance para Vernon se divertir horrores na guitarra.

E de rock foi só. Depois veio farofa com dendê de Ivete, tum tum tum de David Guetta e a pirotecnia de muita forma e pouco conteúdo de dona Beyoncé Giselle Knowles, uma grande cantora com um repertório fedorento.

Um comentário em “O que rolou de rock no primeiro dia do RiR

  1. Poderia dizer que o Rock In Rio deste ano foi o mais do mesmo até agora, mas não foi. O show do David Guetta foi o diferencial. Excelente! Agora só resta esperar o show do Metalica, minha banda preferida, que na adolescencia fez eu pintar com tinta para tecido e com fita durex o nome da banda na camisa que todos os dias eu ia para o colégio.

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