A hora dos renegados

Por Gerson Nogueira

O jogo decisivo das semifinais do returno podia muito bem ser chamado de o Re-Pa da virose. Mais do que sobre táticas ou jogadores o noticiário da semana sobre o clássico abordou mais os sérios problemas de saúde que se alastraram dos dois lados, com baixas mais significativas do lado remista. O que virou uma dor de cabeça para os técnicos pode, porém, favorecer o regionalismo.

COLUNA GERSON_27-04Dos jogadores cotados para entrarem em campo hoje à noite, quase a metade veio das divisões de base dos dois rivais. No Paissandu, que há dois anos pratica uma política mais generosa em relação à garotada nativa, metade do time titular é formada por jogadores regionais.

Para hoje, é provável que Lecheva inicie o jogo com até oito paraenses: Paulo Rafael, Pikachu, Tiago Costa, Pablo, Billy, Vânderson, Djalma e Rafael Oliveira. Um verdadeiro recorde em escalações de times paraenses nestes tempos de importação desenfreada.

A destacar o fato de que são jogadores acostumados a jogar no time de cima, sendo que todos já maceteados quanto ao Re-Pa, o que conta muito em jogos decisivos. Caso quisesse ser um pouco mais ousado, Lecheva ainda podia lançar mão do garoto Romário, volante de recursos que só foi utilizado (e bem) uma vez no campeonato, contra o Águia em Marabá.

No Remo, o técnico Flávio Araújo lançou o olhar em direção aos jogadores da base por força de necessidade. Não há dúvida que a oportunidade que se abriu para o aproveitamento de jovens valores do clube tem a ver, exclusivamente, com a impossibilidade de escalação (por suspensão, lesão ou doença) dos titulares.

Por mais boa vontade que demonstre em relação à prata da casa, Araújo pouco fez no sentido de prestigiar jogadores saídos da base. Conforme a cartilha dos técnicos vindos de outras regiões, aposta todas as fichas nos  atletas de sua confiança – quase todos indicados por ele à diretoria.

Desse modo, apesar das carências surgidas nos últimos dias, o Remo terá em campo um número menor de paraenses que o Paissandu. A princípio, devem ser escalados Jonathan, Ian, Gabriel, Alex Ruan e Endy. Ainda assim, a ocasião deve ser ruidosamente comemorada pelos defensores das nossas categorias de base. Se precisar, pode contar também com os garotos Guilherme, Alan Peterson e Rodrigo.

Pouco prestigiadas pelos dirigentes, que normalmente citam a base apenas para enfeitar discursos, as categorias formadoras de atletas são o grande patrimônio dos clubes. Caso tivessem a atenção devida, certamente já teriam ajudado a dupla Re-Pa a deixar o abismo técnico em que se encontram há pelo menos oito anos.

Mesmo sem investimentos de grande monta, as divisões de base sempre socorrem os clubes na hora do aperreio, como agora. Faz pensar no quanto poderiam ser impulsionadoras de lucro e qualificação técnica caso fossem tratadas profissionalmente.

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Caso Branco: amadorismo e trapalhadas

Até as primeiras horas da noite de ontem, diretoria e advogados do Remo batalhavam pela liberação judicial para que o atacante Branco tenha condições de jogar hoje. Independentemente do fato de terem alcançado êxito ou não na empreitada, não se pode deixar de observar o componente absolutamente amadorista como a questão foi tratada pelos dirigentes.

Com julgamento marcado com antecedência – e noticiado amplamente pela imprensa –, Branco acabou julgado à revelia na comissão disciplinar do Tribunal de Justiça Desportiva. Pela reação da diretoria remista ficou a impressão de que acreditavam na punição do jogador por mais de quatro partidas, o que ensejaria o pedido de efeito suspensivo para que ele pudesse atuar.

Ocorre que o atleta terminou punido apenas por dois jogos, inviabilizando a manobra jurídica imaginada pelos azulinos. O pior da história foi a desculpa esfarrapada, digna de estudante gazeteiro. Alegaram que os dois advogados do clube não compareceram por motivo de viagem. Durante o julgamento, a auditora do tribunal revelou, porém, que vira um dos advogados passeando no shopping pela manhã.

É preciso competência até para inventar desculpas. O provável impedimento de Branco é a evidência pública da irresponsabilidade que norteia a ação dos clubes, geridos por diretores amadores num ambiente inteiramente profissionalizado. O descuido vai afetar o trabalho do técnico Flávio Araújo, que fica sem uma opção importante para armar o setor ofensivo do time no jogo mais importante do ano.

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Boleiros boêmios em apuros

Bernardo, o atacante vascaíno que teria sofrido tortura e escapado de ser executado por capangas de um traficante enciumado, tem motivos de sobra para erguer as mãos para o céu e agradecer pela graça alcançada. A ainda mal explicada questão está na esfera policial, mas, do ponto de vista profissional, deveria ser duramente punido pela direção do clube.

Em recuperação de lesão grave, parece mais dedicado aos folguedos dançantes dos morros cariocas do que ao tratamento. Como empregado (e patrimônio), deve satisfações sobre o grave deslize, que quase lhe custou a vida.

Curiosamente, Bernardo teria sido poupado por interferência direta de um companheiro de profissão, Wellington Silva, do Fluminense, que também se recupera de contusão.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste sábado, 27)

14 comentários em “A hora dos renegados

  1. Quanto aos casos de virose, não sou médico, mas acho que os profisionais de saúde dos dois (aliás de todos) clubre deveriam ter providenciado a priori as vacinas. Afinal a temporada das viroses já começou hà tempos. Mais uma prova do amadorismo (até na saúde) do nosso futebol

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  2. Não fosse pela necessidade (mais no caso remista), estaria eu festejando (usa-se muito indevidamente o verbo “comemorar”) os jogadores paraenses.
    Em todo caso, não há outra saída para o Remo senão ganhar.
    Empatar em último recurso.

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  3. Com a provável presença de muitos jogadores da base de ambas às equipes, prevejo um jogo de muita correria, bastante garra e truncado. Espero que o Leão saia vitorioso. Estarei aposto de olho na tv e nos comentários do blog.

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  4. É… O “grande” técnico FA renegou completamente a base, só se lembrando dela na hora do aperreio… “Grande” técnico, esse, que escolha o jogador pelo origem.

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