Por Gerson Nogueira
Em torno do plano corintiano de conquistar o mundo ergueram-se duas frentes antagônicas no Brasil. De um lado, a multidão estridente, empolgada, festiva, em estado de catarse. São os tais “loucos” uniformizados com a camisa do Timão, caras que invadiram o Japão e também estão a todo instante nas matérias que os programas esportivos não cansam de repetir na TV.
Do outro lado do ringue fica a maioria silenciosa, unida em torno de uma causa que sempre ronda grandes eventos de uma torcida só. São os secadores de plantão, fingindo total desinteresse pela final deste domingo, mas ávidos por vestir a camisa azul do Chelsea e sair por aí zoando corintianos.
E que ninguém venha falar em patriotismo no mundo da bola, defendendo a união dos brasileiros em torno de um clube. Torcedores de verdade jamais confundem pinimbas particulares com amor à pátria. Torcida incondicional por uma equipe nacional só é possível em Copa do Mundo – e olhe lá…
Diferenças de sentimento à parte, a final tem todos os ingredientes para ser muito interessante. Um confronto entre os continentes que dominam o futebol, mas, como já acontece há algum tempo, a Europa entra como favorita. E é justamente aí que as poucas chances corintianas podem prosperar.
Minha teoria é simples. Não há time sabidamente superior ao adversário que não se comporte com empáfia em algum momento do embate. O futebol é assim desde os primórdios, não vai mudar justo agora.
Há algumas semanas, o Chelsea era um poço de insegurança. Arrastava-se no certame inglês e havia acabado de cair fora da Champions League. De repente, surge um campeonato de mangas curtas para salvar a temporada.
E aqui cabe deixar de lado toda aquela potoca quando ao desinteresse dos britânicos pelo Mundial de Clubes. Taça é taça. Ainda mais para um time ansioso por limpar a barra com seus exigentes torcedores – e por agradar seu imprevisível e riquíssimo patrão, o russo Roman Abramovich.
Por isso mesmo, o que poderia vir a ser um passeio ao Oriente é na verdade um compromisso de honra para os blues. Sabem que o ano só terminará risonho em caso de conquista do Mundial. A responsabilidade, combinada à empáfia de time rico, pode ser uma mistura traiçoeira.
Vai daí que o Corinthians de Tite, assustado com a exibição de força do adversário na semifinal contra os mexicanos, tende a entrar em campo esperando por uma bola. Aquele contra-ataque mágico que transforma humilhação em glória.
Foi assim com o São Paulo de Mineiro, que era inferior ao Liverpool (do mesmo Rafa Benitez de agora), e com o Internacional de Adriano Gabiru, alguns degraus abaixo do Barcelona de Ronaldinho Gaúcho. A história pode se repetir hoje através de heróis igualmente humildes – Romarinho? Jorge Henrique? É pouco provável, mas não impossível.
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Chance de ir além do discurso
A FPF surpreende ao propor, para o lançamento do Campeonato Estadual de 2013, uma palestra esclarecedora sobre o futebol moderno. Será no dia 8 de janeiro e o convidado é Amir Somoggi, especialista em administração e auditoria esportiva do Brasil. Somoggi vem falar de algo que está em desuso no Pará desde os tempos pré-diluvianos: a preocupação com gestão e com os benefícios do marketing. Fala-se muito, surgem ensaios de mudanças, mas a situação segue na mesma há muitos anos.
A própria FPF é exemplo vivo desse atraso crônico. Que a retórica de Somoggi consiga tocar corações e mentes, tanto da cartolagem dos clubes quanto dos responsáveis pela entidade que manda no futebol local e se omite em relação aos seus problemas mais espinhosos.
A venda, em questão de horas, do primeiro lote de novos uniformes oficiais do Remo, na sexta-feira, dá bem a dimensão do abismo entre as modernas técnicas de marketing e a mentalidade reinante em nossos clubes. Bastou um mínimo de organização para garantir o sucesso de vendas e atestar a existência de uma demanda reprimida de produtos destinados ao torcedor.
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Análises e projeções
No Bola na Torre de hoje, um debate sobre a temporada que está terminando e perspectivas para 2013 no futebol paraense. Apresentação de Guilherme Guerreiro e participações de Giuseppe Tomaso, Cláudio Guimarães e deste escriba baionense. Programa começa às 23h50, logo depois do Pânico na Band.
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Direto do blog:
“A maioria dos adeptos do futebol paraense não sabe definir a real função de um diretor executivo. Estão acostumados com gente enxerida na área. Pode ser que o Yamato San sofra severas restrições dentro do próprio clube, por razões que todos conhecemos. Mas, se Vandick e sua diretoria se impuserem e limparem certos caminhos para o homem, o time da Curuzu irá colher bons frutos lá na frente”.
De Harold Lisboa, um cruzmaltino atento às mudanças no Papão.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 16)
Caro Gerson, uma pergunta: Qualquer interessado poderá participar da palestra de Amir Somoggi ou o acesso será restrito?
Abraço!
É aberta ao público, segundo informações da assessoria da FPF, amigo Israel.