Angústias de quem conheceu o velho Maraca

Por André Barcinski

camaroteVeja aqui a reportagem da TV Globo sobre o primeiro camarote montado do “novo” Maracanã. E responda: você gostaria, realmente, de ver um jogo ali? Eu não gostaria. E acho que ninguém que goste, de verdade, de futebol, gostaria de ver um jogo dentro de um lugar que parece saguão de hotel.

A cada notícia sobre o “novo” Maracanã, fico mais deprimido. Cresce o medo – agora, quase uma certeza – de que o estádio vai virar um verdadeiro shopping center de mauricinhos. Apesar de o repórter da Globo dizer, com ares ufanistas, que o “Maraca é nosso”, eu duvido.

Ou você acha que qualquer um vai chegar no dia do jogo e poder entrar nesse camarote? Só rindo. A essa hora, o local já deve estar sendo disputado por políticos, anunciantes, assessorias de imprensa, celebridades e um batalhão de ex-participantes do “BBB”. Não se trata de negar o conforto. Claro que todo mundo espera um estádio bonito e ótimo para ver futebol.  Mas isso, o Maraca já era. Não precisava de reforma.

O problema é que não parece mais existir, no Brasil, um meio-termo entre o confortável e o suntuoso.  E nossos espaços públicos – sim, o bilhão de reais usados para a obra, que se somam a quase 500 milhões gastos em outras obras no estádio desde 2000 – foram todos pagos por nós – vão se tornando gigantescas áreas VIPs.

Ir ao estádio, no Brasil, está um saco. Não bastasse jogos de uma torcida só e partidas tarde da noite ou sob sol assassino, para agradar à TV, agora chega a moda das áreas exclusivas, entradas particulares e clubes de vantagens.

Alguns chamam a isso de progresso. Eu vejo mais como uma obsessão consumista originada em nosso profundo complexo de inferioridade. Nada dá mais prazer ao brasileiro que ficar do lado “certo” de uma corda de veludo.

Desde quando ser bem tratado é sinônimo de ser VIP? Só aqui, onde não-VIPs se acostumaram a ser maltratados.

Espero queimar a língua. Torço para que o “novo” Maracanã melhore ainda mais a visibilidade e a acústica do antigo. Torço para que mantenham pelo menos uma área semelhante às cadeiras azuis, onde crianças entravam de graça e torcedores rivais se misturavam.

Mas, no fundo, duvido que isso aconteça. Estamos na torcida.

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