Opinião: Homenagem justa (ainda que tardia)

Por Paulo Pardauil (paulo.pardauil@caixa.gov.br)

Dos três campeões mundiais que o Brasil tem na F-1, o menos falado é exatamente o mais genial deles: Nelson Piquet. A imprensa (notadamente a Rede Globo) fala muito pouco no pioneiro Emerson Fittipaldi, enaltece seguidamente Ayrton Senna (que merece ser lembrado, apesar dos exageros e ufanismos) e nada fala sobre Piquet. Uma reportagem aqui, outra ali, que para mim parecem muito tímidas diante do significado dele para o automobilismo nacional. Certamente o quase isolamento ao qual o primeiro tricampeão brasileiro é submetido deve-se à sua postura de anti-herói e sua pouca habilidade em lidar com a mídia ou fazer marketing pessoal. O fato é que Nelson corria porque amava correr e só por isso. Nunca quis ser ídolo, divindade, herói nacional ou coisas do gênero. Não era engomadinho, não cuidava ao extremo da aparência e nem do aspecto físico. Talvez não tivesse lugar na F1 de hoje onde os pilotos se formam no videogame e nos simuladores.            

Piquet era genial. Fazendo um paralelo com o futebol e guardadas as devidas proporções ele me lembra Garrincha. Isso porque o Mané jogava por jogar, por brincar com a bola, chegando a confundir a Real Seleção Inglesa com o São Cristóvão, já que para ele “todo mundo era joão”. Garrincha jogou finais de Copa do Mundo da mesma forma como se estivesse jogando uma pelada, dando dribles irresponsáveis e zombando de seus adversários.  Por sua vez, Nelson dominou o circo da F1 correndo por vezes sem contrato assinado, pelo simples prazer de correr. Dentre todas as definições que vi dele, a que acho mais perfeita é aquela que diz que “Piquet foi o mecânico mais rápido da F1”. Isso mesmo! Piquet criou-se como mecânico, no meio das oficinas, da graxa, dos pôsteres de mulheres nuas e das chaves de fenda. E impressionantemente saiu daí para ser tricampeão do mundo e folclórico.  

Seus grandes momentos para mim foram: Hungria 86 e Canadá 91. No primeiro deles, Nelson fez a ultrapassagem mais linda da história da categoria, exatamente sobre o hoje endeusado Senna. Posicionou sua Williams de lado na curva, deixou o carro deslizar nas quatro rodas, e da mesma forma como Garrincha driblava para fora e a bola não saia, segurou o bólido e superou seu adversário ainda tendo tempo de fazer para o oponente um gesto nada amistoso. Já na corrida do Canadá – onde alcançou sua última das 23 vitórias – superou seu mais tradicional rival: Nigel Mansell. O enredo parece ter sido escrito por Nelson Rodrigues. Mansell liderava na última volta, com mais de 30 segundos de vantagem, dava “tchauzinho” para as câmeras e para a torcida. Nelson era o segundo colocado com um carro deveras inferior: a Benneton. Subitamente o carro do Leão inglês vai parando e ele desce do cockpit com uma cara de quem marcou um gol contra no Re X Pa. Uma comédia! Piquet o ultrapassa, vence a prova e depois declara na entrevista coletiva que “sentiu um orgasmo” ao ver Mansell parado! Mais Piquet impossível!            

No próximo GP do Brasil, Nelson dará uma volta simbólica com sua Brabham azul e branca. Nela, ele conquistou o seu primeiro título há 30 anos atrás. Bela homenagem ao anti-herói tricampeão do mundo. Para que fique completa, só falta ele dormir no cockpit antes da largada! Viva Nelson Piquet!

Faço minhas as suas palavras, caro Paulo. Piquet é, na minha modesta opinião, nosso mais brilhante campeão de automobilismo, principalmente porque conquistou títulos sem ajuda ou marketing, à revelia da poderosa Globo, que foi decisiva para alavancar a popularidade de Senna, por exemplo. Pelas razões expostas no artigo, a trajetória inusitada do grande campeão não foi em vão. Milhões de fãs, como você e eu, sempre iremos nos emocionar com as imagens das façanhas dele nas pistas.

20 comentários em “Opinião: Homenagem justa (ainda que tardia)

  1. Distingo Piquet sem desmerecer Emerson e Sena e discordo da insinuação que o talento dos dois ultimos tenha sido obra da Globo.
    Pista e volante nada têm a ver com promoção e marketing.

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    1. Não cometeria a injustiça de dizer que Senna tenha sido exatamente obra da Globo. Era um fora-de-série também, mas sem dúvida deve muito da idolatria a seu nome ao rasgado apoio da “vênus platinada”.

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  2. Gerson, concordo com o artigo do Paulo. O Piquet corria por paixão.Sempre fico com os anti-heróis, com os “errados”. E também é um cara que tem opinião formado, não deixa ser levado pelos outros, é abusado.Gosto de gente assim.O Senna, foi um grande piloto, sem dúvida.Mas o Piquet, de certa forma, sempre foi injustiçado pela Venus platinada.

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  3. Às vezes superestimamos a influencia da Globo conferindo-lhe poder que na verdade não possui. A diferença está no profssionalismo , quase sempre superior a concorrencia. Gostar ou não gostar, eis a questão.

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  4. Se fossem Nelson Sena ou Ayrton Piquet, seria muito justo.

    É impossível esquecer as manhâs de domingos quando esses dois corriam. Sem esquecer de Mansel e Prost.

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  5. O chefe da F-1, Bernie Ecclestone, disse ao jornal inglês The Independent, que Nelson Piquet agiu nos bastidores e vetou a ida de Ayrton Senna para a Brabham, equipe que foi comandada pelo dirigente na década de 80. O brasileiro, elogiado, fazia testes em 83 para entrar na F-1 e acabou assinando com a Toleman, sua primeira equipe na categoria, em 84.

    “Soube que o Nelson chamou o Ayrton de motorista de táxi, mas todos podíamos ver o potencial do Ayrton. Foi quando eu sabia que o Ayrton seria bom, porque o Nelson era do contra! No fim, Nelson entrou em contato com a Parmalat, nosso principal patrocinador, e os convenceu de que um brasileiro no time era o bastante e que era melhor para eles que tivéssemos um italiano na segunda vaga.”

    DEPOIMENTO DO CHEFE DA F-1 Bernie Ecclestone

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    Fora a declaração que Piquet deu no início dos anos 80, insinuando que Senna era homossexual, quem lembra disso?
    Isso pram im era pura inveja que Piquet tinha com seu compatriota.

    Pra mim a popularidade de Senna não tem nada a ver com a Globo, e sim pelo ato de Senna carregar a bandeira brasileira nas corridas e de chorar na frente da TV , a auto-estima do brasileiro andava baixíssima, o País voltava a democracia e passava por um período turbulento, até a Seleção estava mal das pernas, e com essa atitude de Senna carregar a bandeira do Brasil emocionava geral. Piquet era o contrario de tudo isso.

    O papelão de Nelsinho batendo o carro de proposito, não teria sido conselho do Pai ou resultado de sua criação ? fica a pergunta

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  6. SEMPRE cito Chaplin e Monteiro Lobato como exemplo de artistas injustiçados pelo poder (político, comunicação etc). No caso do primeiro, jamais ganhou um Oscar (só muito depois é que caiu a ficha em Hollywood e lhe deram um pelo conjunto da obra); quanto a Monteiro, a elitizada ABL nunca lhe ofereceu uma cadeira, já Roberto Marinho e Sarney… O povo conhece alguma obra de Sarney e de Marinho, já sobre Lobato nem vou falar. De certa forma, enaltecendo as qualidades de Senna quer-se na verdade ofuscar o feito de Piquet. Menos mal que Barrichelo não vingou, ainda que o poder televisivo tenha se esforçado para tal.

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  7. Quando eu falava e falo sobre Piquet exatamente o que está no artigo retrucam dizendo que não entendo de F-1. O artigo falou por mim e quem é contra Piquet apenas por ser a favor do Senna é ingenuo .Ambos eram gênios.Piquet mais do que Senna , afinal ser tri-campeão do mundo sendo preterido pela mídia e correndo em equipes pequenas não é para qualquer um.
    A propósito já em casa, graças a JESUS.Vindo por Brasilia em uma conexão horrivel onde a turbulencia foi tanta que o serviço de bordo foi suspenso.Mas afinal LAR DOCE LAR.

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  8. Infelizmente pra quem se acostumou à palhaçada do Galvão Bueno, Senna era um anjo e Piquet, o demônio.

    Piquet merece muito mais homenagens como essa.

    Sobre o problema do filho dele, insinuar que um pai iria pedir para o flho colocar a vida em risco é muita falta de bom senso. Tudo bem se quiserem idolatrar o Senna, cada qual com suas prefererências, mas a esculhambação com o Piquet é injusta.

    E ainda digo mais. Prost era mais piloto que Piquet e Senna (pra mim, nessa ordem). Sou brasileiro mas não sou cego.

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  9. PIQUET, o melhor de todos, o maior de todos, o que melhor acertava carros para as corridas, dificilmente errava nas corridas,com suas idéias desenvolveu a f1 como o aquecimento dos pneus que é usado até hoje, fez a ultrapassagem mais bonita da f1 em cima de um tal Ayrton Senna Galvão Bueno da Silva, quem barbeirava perto dele caia na porrada como Elizeu Salazar, foi campeão três vezes com motores diferentes desenvolvidos por ele, foi capeão numa equipe inglesa tendo um inglês como companheiro de equipe muito rápido, nunca precisou tirar ninguem da pista para ser campeão do mundo como fez o Ayrton. Portanto são por essas e outras que PIQUET sempre será o melhor.

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  10. Já se foram os tempos em que acordávamos todo domingo de manha pra assistir uma sempre emocionante corrida de F-1.De uns tempos pra ca perdeu toda a graça pois quem ganhava era só Schumacher agora e o Vettel.E somos muito mal representados,eu era um grande fã da f1 mas perdeu a graça.

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  11. Para os dois grana nunca foi problema. Senna tinha um pai que investia alto e colocava sempre a midia junto do cockpit do filho.

    Piquet nao tinha arrego do pai Estácio Souto Maior, ministro da saúde do governo João Goulart e foi para a Europa comer sandubas e brigar pelo sonho de ser piloto.

    A mídia nao especializada que ate os dias de hoje ignora Piquet nao sabe qundo toda essa lenga iniciou.

    Foi na F3. Piquet tinha como adversario um outro brasileiro, O Chico Serra.

    Piquet chegava em primeiro, mas a mídia paulista preferia por na manchete – Chico Serra chega em quinto-

    Senna chego na F1 em um bom momento, ela bombava no Brasil e para acabar o Brasil vivia um momento horrivel – hiperinflação e planos econômicos- Senna se agarrava ao manto brasileiro e torcer pro curintia so faziam aumentar a popularidade do showman .

    Resumindo..eu fico com o mecanico bon vivant ,com bons traço de james Hunt.

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    1. Amigo Harold, eu também me identifico mais com o grande Piquet, com o qual tive o prazer de conversar certa vez no aeroporto de Brasília e que me tratou com a maior simplicidade. Grande cara.

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  12. Eu sempre pensei exatamente como o artigo e alguns diziam que eu era “despeitado” com relação ao Senna. Senna foi um ótimo piloto e nos deu muita alegria, mas não chegava aos pés do que representou Piquet, que só não foi endeusado porque sempre falava o que pensava e isso desagradava a muitos.

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  13. Piquet, um gênio e ao lado de zico e bernardinho e Oscar é o meu grande ídolo do esporte nacional.Quando muleque, eu tinha um poster pregado no guarda roupas que dizia “Pé na tabua Piquet”

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