Coluna: Conversa de boleiro

Leo, lateral do Santos, do alto de seus 35 anos, cobra mais respeito aos dinossauros do futebol brasileiro. Depois do clássico contra o São Paulo, domingo, desabafou suas mágoas. Disse que não entendia o motivo de tantas gozações e críticas aos jogadores de sua faixa etária.
Referia-se, especificamente, aos empresários do mercado boleiro, cada vez mais focados nos garotos recém-saídos das divisões de base ou até mesmo dos moleques que dão os primeiros chutes nos fraldinhas e chupetinhas da vida. O veterano advoga em causa própria, afinal já está na chamada curva descendente e vê seus horizontes diminuírem a cada temporada.
A verdade é que Leo chora de barriga cheia, afinal está entre aqueles veteranos privilegiados que conseguem ter chances num esporte cada vez mais dominado pelos jovens. Vale lembrar que o mesmo Santos já repatriou Fabão para a zaga e se deu mal, mas trouxe Zé Roberto da Alemanha e obteve pleno retorno. O nosso Geovani também foi recontratado, mas isso não conta porque sua volta à Vila Belmiro foi um meio de homenagear o velho ídolo.
Léo é ainda mais injusto ao dar a entender que há discriminação generalizada contra a turma que passou dos 30 anos. Potoca. Ronaldo Fenômeno, Petkovic, Rivaldo, Romário, Rogério Ceni, Marcos, Deco, Marcelinho Paraíba e Tinga são apenas alguns exemplos que desmentem esse tal preconceito. Em escala menos glamurosa, Viola, Túlio, Jardel, Sandro Goiano, Lúcio, Mendes e muitos outros dão um jeito de esticar a carreira – e faturar uns cobres – em centros menos badalados.  
Boleiro rodado costuma ser mestre na arte de chamar atenção e criar factóides. Leo não foge à regra. O filme é velho. Na prática, a prevenção contra semi-aposentados não surgiu agora. Vem de longa data, produto das inúmeras e até folclóricas malandragens que costumam envolver contratos com esses atletas.
Escaldado, o torcedor é o primeiro a desconfiar quando os clubes anunciam contratações de risco. Sabem que é grande a possibilidade de enganações, lesões e o quase inevitável litígio trabalhista que acompanha as rescisões. No fim das contas, qualquer fã de futebol sabe aplaudir jogadores que conseguiram manter a forma até o momento do adeus – Júnior Capacete talvez seja o maior exemplo de longevidade de alto nível. Mas, seguramente, admira mais ainda aqueles que têm a sabedoria de parar na hora certa.     
 
 
Desgraça só quer começo. O Vasco demonstra a cada dia que a bússola do almirante está mesmo desregulada. Permutar Carlos Alberto por Roger (que está no Cruzeiro) é uma tremenda ideia de jerico. Os dois são famosos expoentes da geração chinelinho, que tem origem no ambiente praieiro do Rio de Janeiro. Se o negócio for consumado, irão trocar apenas de ambiente, mas o calçado continuará rigorosamente igual. 

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 1) 

15 comentários em “Coluna: Conversa de boleiro

  1. Tiro o Chapéu para o Wasghiton que recentemente se despediu entre lágrimas do futebol e nem deixou espaço para uma homenagem justa de jogo de despedida. E olha que ainda demonstrava vigor para seguir por mais um tempo. Mas Léo está aproveitando o momento e a imprensa para fazer propaganda pessoal. Penso assim.

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  2. O jogador Léo, deixou claro que não se tratava de mágoa, o que ele estava falando, e repetiu isso por duas ou três vezes.
    O Léo, sempre foi um jogador sem medo de se expressar, diferente de muitos que só faz sacudir a cabeça para confirmar ou para negar, dependendo das conveniências de seus empresários e/ou dirigentes de clubes. Com medo de ser penalizados se transformam em uma pessoa robótica.
    O fato é, que no Brasil, se alguém se ver com autoridade para falar de algum assunto e o faz, é de imediato visto como marqueteiro de comportamento vil. O Brasil é tão cheio de pilantras que a maioria chega logo generalizando. É triste constatar esse fato.
    O cara (o Léo !), ainda joga muita bola, e num clube que sempre está na mídia ou não ? Portanto, paremos de polemizar um contexto límpido a todos, sem a necessidade do uso de lupa, para compreendê-lo.

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  3. Será que os aposentados não estão guardando dinheiro suficiente ? ou estão deixando de realizar uma previdência privada?

    O que o jogador profissional tem que entender que o Brasil, é o País do Futebol, único com 5 estrelas no peito, e que craque aqui surge todo ano.

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    1. Rodrigo,

      Então, quem foi o craque de 2010 ?

      Craque não surge todo ano no Brasil ! Fabrica-se craque anualmente no Brasil, essa é a afirmação mais adequada.

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  4. Caro Gerson
    O problema dele deve ser com a diretoria do santos,talvez ciume dos privelégios que o Neymar conquistou,talvez ele esteja exigindo um aumento no salário e ainda não tenha tido uma resposta positiva. Tenho certeza que não é uma defesa dos veteranos e sim grana no bolso. Se veterano não fosse valorizado no Brasil o são paulo não tinha contratado o Rivaldo.

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  5. Ratifico o que disse ontem sobre este mesmo assunto: Foram um tanto excessivas as palavras do Leo. De há muito que o Brasil é pródigo em exemplos de veteranos que desfrutam de prestígio junto aos seus companheiros de time, torcida, imprensa e empresários. Os exemplos elencado na coluna são até quantitativamente modestos. E tudo por um simples motivo: eles corresponderam ou correspondem plenamente dentro das quatro linhas, jogando. Aliás, há os que desfrutam do mesmo prestígio, mesmo quando já nem correspondem tanto assim, como o Rogério Ceni. Além do que existem os coroados pelos simples fato de gerarem bom retorno, ainda que seja só pela via do marketing, como o Ronaldo Fenômeno.

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  6. Renovação em qualquer fase sempre é complicado, por isso o Leo deve ter pedido um pouco de respeito com jogadores de sua faixa etaria…a mesma coisa é no quesito arbitragem, renovar com qualidade e nao renovar por renovar…..Um exemplo bem claro tambem, sao os nossos ”dinossauros” comentaristas esportivos, salvo rarissimas exceções….cade a renovação ? e mais : só molecada nova nao resolve, olha o Vascao…rsrsr…

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