Pensata: O impopular FHC

Por Paulo Moreira Leite

Um dos mistérios da pesquisa CNT/Sensus envolve a impopularidade de Fernando Henrique Cardoso. Conforme o levantamento, FHC virou um cabo eleitoral ao contrário: 49,3% dos eleitores dizem que não votarão em candidato recomendado por ele.

É uma informação intrigante, no mínimo. FHC é, de longe, o mais culto presidente que já governou o país. Depois de deixar o Planalto, no final de oito anos de governo, recebeu um tratamento nobre de amigos e aliados. Obteve ajuda para montar o instituto que leva seu nome. Escreve artigos regulares em dois dos principais jornais brasileiros. É sempre ouvido em questões relevantes, com uma autoridade que o país reserva a pouquíssimas personalidades, de qualquer área de atuação. 

Como recorda a colunista Dora Kramer, os feitos do governo de Fernando Henrique “incluem um plano economico que acabou com a inflação, estabilizou a moeda, ajustou as contas públicas, pôs o Brasil no rol do mundo e, só para citar o efeito mais vistoso das privatizações, universalizou o acesso à telefonia e viabilizou o acesso à internet.”

Mesmo assim, FHC tornou-se um perigo aos planos tucanos de retornar ao Planalto em 2010.

Por que?

Um pesquisador ligado ao PSDB recorda que a herança de FHC nunca foi defendida pelos próprios tucanos, pelo receio óbvio de serem prejudicados por ela. O país enfrentou duas campanhas presidenciais de 2002 para cá e, nessas duas oportunidades, ouvia-se apenas o discurso dos adversários de FHC. Seus herdeiros e aliados jamais se dignaram a defendê-lo, contribuindo para sedimentar um balanço negativo de seu governo.
Faz sentido. Em 2002, José Serra fez campanha como um candidato semi-oposicionista, que já fazia críticas à política econômica do governo ainda no período em que ela parecia dar certo. Em 2006, Geraldo Alckmin ficou afastado de FHC — em busca de votos, no segundo turno fez uma defesa improvisada e pouco crível de seu amor por empresas estatais. 

Antes de lamentar a ingratidão dos concorrentes, contudo, cabe recordar que nossos políticos são motivados por espírito profissional e obedecem a técnicas clássicas de campanha.

Fernando Henrique foi um presidente popular no primeiro mandato. Teve muito mais dificuldade para aprovar o direito a um segundo mandato no Congresso do que para receber o voto da população em 1998. Mas os últimos quatro anos de governo acumularam diversos desastres. 

O cambio fixo, que garantia a comida barata explodiu — e a vida dos mais pobres piorou. Um escandalo financeiro abriu um rombo no comando do Banco Central. A falta de energia impediu a retomada do crescimento quando ela parecia possível e o Brasil foi submetido a um ritual de racionamento, típico de países subdesenvolvidos.  No último ano de governo, a inflação disparou, alimentada por um ambiente de receio e pequeno terror pela vitória de Lula — artificialmente alimentado por economistas influentes, ligados ao governo, que apostaram na insegurança como uma arma para derrotar o candidato do PT. Quando Lula tomou posse, a inflação estava em 12% ao ano — e a conta foi para o governo anterior. 

O resultado é que a vida dos mais pobres piorou durante os oito anos de governo FHC.  “Entre o começo do governo em 1995 e o fim do governo, em 2003, o salário perdeu poder de compra,” admite um assessor tucano.  A pancadaria de duas eleições presidenciais em que foi atacado sem que nenhum aliado tivesse disposição para defendê-lo ajudou a derrubar o prestígio de FHC. Mas ele não tornou-se impopular em anos recentes. Já tinha um índice de aprovação ruim no final do segundo mandato. Os índices positivos ficavam em torno de 31%, os negativos chegavam a 25%. O saldo era positivo, mas mínimo — em torno de 6%.

5 comentários em “Pensata: O impopular FHC

  1. Faltou incluir mais um feito vistoso e simultaneamente reverso do “Malandro e/ou esperto” FHC: A montanha de dinheiro doados aos governadores da época, para aprovar a sua reeleição. O Amazonino, governador dos manauaras foi comprovadamente contemplado com o agrado, mas, a sua condenação não foi a cabo por questões óbvias da politicagem.

  2. Faltou ele enumerar também a farra no sistema financeiro. Lembram do famigerado PROER, para salvar bancos quebrados e administrados irresponsavelmente? Aquilo foi um acinte!

  3. Faltou citar a privatização da Vale feito com o próprio dinheiro público!

    Assim, papai, até eu viro empresário!!

    Queria ver eram os compradores arriscarem o próprio dinheiro!!

  4. Não esqueçam do BAMERINDUS, que foi vendido?!?!?! ao atual HSBC, pelo inimaginável valor de R$ 1,00 (HUM REAL) isso mesmo!!!! HUM REALZINHO SÓ!!! na época EU tinha DEZ CONTOS disponíveis, eu pagaria DEZ VEZES MAIS, porém, eles não aceitarm, afinal, eu não sou do time sumano.
    Essa turma que ainda idolatra o FAROL DE ALEXANDRIA, ou é alienado, coisa que não acredito que ainda existam, ou, mamavam nas tetas do Estado Brasileiro, melhor dizendo, locuplatavam-se da grana que deveria amenizar a fome, cuidar da saúde e prover educação para alguns milhares de irmãos nossos.

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