Arbitragem eletrônica?

Por Juca Kfouri, na Folha de S. Paulo

PEGUEMOS O jogo do Pacaembu entre Corinthians e Botafogo, 3 a 3.

A rigor, dos seis gols, três podem ser contestados. O segundo e o terceiro gols do Corinthians em falta e pênalti cavados por Jucilei e por Jorge Henrique.

E o segundo do Botafogo, com a mão esquerda de André Lima, que depois ergueu as duas mãos ao céu, para agradecer ao “deuslize”. Além disso, houve um provável pênalti em Victor Simões no primeiro tempo que o árbitro deixou passar em branco.

Resultado: o resultado do jogo, com arbitragem eletrônica, seria outro, bem diferente, talvez 3 a 2 para os cariocas.

Só que arbitragem eletrônica é um sonho que está longe de se realizar, razão pela qual o mais inteligente é tratar menos de arbitragens, porque apesar da fragilidade dos apitadores, temos de reconhecer que é covardia comparar o olho humano ao da TV. E mesmo assim cabem ponderações: provavelmente o apitador de ontem, dirá que o lance em Victor Simões não foi mesmo nada, pura encenação, e que tanto Jucilei como Jorge Henrique de fato receberam apenas dois leves empurrões, mas suficientes para derrubá-los em terreno tão escorregadio como estava o gramado do Pacaembu.

E ao reconhecer a mão na bola de André Lima (3 a 2 para o Corinthians…) diria que é humano, que erra, e lembraria o gol de Maradona contra a Inglaterra ou o de Túlio contra a Argentina, ou o de… Mas, se esperto, diria também que Jorge Henrique e Dentinho perderam dois gols feitos no primeiro tempo.

Que Mano Menezes demorou a tentar trancar o esfacelado Corinthians e que nada justifica o pênalti cometido pelo zagueiro botafoguense Léo Silva que atropelou Dentinho como uma jamanta desgovernada. Porque é isso mesmo. Jogadores, técnicos, analistas de arbitragem, jornalistas em geral, também erram muito e será honesto reconhecer que o empate no Pacaembu se desenhava independentemente da arbitragem.

O raro leitor e a amável leitora já se deram conta de que não há mais uma entrevista de treinador que tenha perdido um jogo que não se livre da responsabilidade atribuindo-a ao apitador. Há até aqueles que dizem não ter por hábito falar do árbitro para, em seguida, abandonar o discurso. É claro que não dá para fazer a crônica desse 3 a 3 sem referência às lambanças, mas é de se ter sérias dúvidas se foram elas as responsáveis pelo placar final.

Como é de se lamentar a necessidade de ficar de olho no apito porque, de tempos em tempos, somos assolados por casos “Cattani”, em 1996, “Ivens Mendes”, em 1997, “Loebeling/Armando Marques”, em 2001, e, mais recentemente, o caso “Edílson Pereira de Carvalho”, em 2005.

Vale lembrar, porém, que quem mais reclama da solução encontrada em 2005 – a repetição dos jogos suspeitos – é quem hoje mais suspeitas lança sobre as arbitragens, o cartola Fernando Carvalho, do Inter, que lembra o senador Aloizio Mercadante, pois promete ir às últimas consequências, mas se curva, pragmaticamente. 

4 comentários em “Arbitragem eletrônica?

  1. A REGRA é CLARA para os ÁRBITROS e o ARBÍTRIO também é LIVRE.

    … rsrsrs …

    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK !!!!!!!!!!!!

  2. Dizem os defensores ardorosos do direito ao erro dos juízes de futebol – afinal, são homes que arbitram, e portanto falham -, que o arbítrio dos jogos de futebol por meio de câmeras atenta contra os pilares que sutentam a essência do esporte: a paixão, a polêmica, a controvérsia, as discussões entre torcedores e cronistas. E assim, descaracterizaria os mesmo. Olhando por esse ângulo, até que a tese é procedente. Por outro lado, acredito que os acintes, o roubo descarado, o favorecimento a este ou aquele time (e não há dúvida de que os homens de preto apitam levando em conta a tradição das camisas) seriam freados… não seriam extintos, mas teriam limites. Lógico que a punição severa dos ábitros, além da profissionalização da categoria, seriam medidas complementares.
    Não dá mais pra aguentar favorecimentos hisóricos aos grandes clubes e, entre estes, favorecimento maior a alguns do que a outros. Não se pode negar que Corinthians e Flamengo (este principalmente nos anos 80 e 90) são times que jogam com 12… ou melhor, com 15 (o soprador, como vc diz Gérson, mais os aauxiliares – que ainda chamo de “bandeirinhas”).

      1. Não errou o cálculo, não, Daniel. Lembre-se que ainda há a figura do quarto árbitro, que tem algumas prerrogativas quanto à súmula e observação de atitudes extracampo (o Cuca, quando no Botafogo, foi acusado pelo quarto árbitro de ofender o árbitro que “operou” o Bota naquela final de 2007).

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