Depois do vale-tudo de ontem no Senado, entre as duplas Renan-Collor e Simon-Buarque, ficou a impressão de que a grande mídia já prepara o desembarque da campanha de demonização de Sarney. Incrível como qualquer ameaça, mesmo velada, de abertura de alguns “arquivos” de Collor deixa os barões da grande mídia alvoroçados. Mais incrível ainda é que não há quem responda a uma perguntinha básica: por que senadores que estão no cargo há 18 anos nunca perceberam (e denunciaram, of course) tantas irregularidades existentes na chamada Câmara Alta? Miopia, cumplicidade ou conveniência?
Na Isto É desta semana : Leonardo Attuch, Ética não se devolve
Agora, é fácil. Roubou, devolve. Sem pressa, em suaves prestações. É esse o padrão que o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), moralista número 1 do Congresso, pretende inaugurar na Nova República. Virgílio, que pede a cassação do presidente da Casa, José Sarney, também foi pego fazendo estripulias. Recebeu um empréstimo de R$ 10 mil do diretor-geral Agaciel Maia e bancou, com nosso dinheiro, um funcionário fantasma durante 18 meses, que recebeu R$ 210 mil enquanto estudava teatro na Espanha. Flagrado, Virgílio não perdeu a pose. Fez um depósito de R$ 60,6 mil em nome da União e promete pagar o restante em parcelas de R$ 50 mil, à medida que vá vendendo imóveis.
Do alto de sua superioridade moral, Virgílio desafiou seus colegas a fazer o mesmo, como se fosse o mais casto dos senadores. Ocorre que a ética na política é muito parecida com a virgindade. Não se pode hipotecá-la. E, uma vez perdida, não há cirurgia que restitua a pureza original. Quando se escorrega, o procedimento natural de um homem público é reconhecer o erro, penitenciar- se e retirar o time de campo. O inaceitável, que soa como malandragem, é a tentativa de transformar vícios em virtudes. Aliás, se todos pudessem agir como o senador tucano, não haveria mais corruptos no Brasil nem a necessidade de polícia, Justiça ou coisa que o valha.
Bastaria devolver a prazo o dinheiro subtraído a vista, apenas quando os escândalos fossem descobertos. Imagine-se, por hipótese, que o padrão Arthur Virgílio valesse também para o juiz Nicolau dos Santos Neto. Ele venderia o apartamento em Miami e já estaria novamente construindo sedes faraônicas de tribunais. O ex-presidente Fernando Collor teria evitado o impeachment comprando uma nova Fiat Elba a prazo. E Delúbio Soares, José Dirceu, Marcos Valério e muitos outros personagens da cena política brasileira não estariam enfrentando tantos processos na Justiça.
O que a moral virgiliana escancara é muito simples. A atual crise do Senado não tem absolutamente nada a ver com ética ou interesse público. Trata-se, pura e simplesmente, de uma guerra política entre gangues distintas. A forma mais simples de compreendê-la é enxergar o Senado como uma gigantesca boca de fumo numa favela carioca, disputada por bandos rivais. Conquistar o território é essencial para uma disputa ainda mais importante: a do Palácio do Planalto. E se uns merecem ser cassados por atos secretos, outros têm que ser cassados pela cara de pau. O problema do Brasil, definitivamente, não é a ética ou a falta dela, mas sim os éticos que se apropriam da causa.
Quem mais decepciona a essa altura é Pedro Simon, que sempre adotou postura de desassombro e independência. Curiosamente, não disse até hoje uma palavrinha sobre os escândalos do governo tucano Yeda Crusius no Rio Grande.
Perfeita sua análise sobre a ética de bengalas esgrimida pelo impoluto Artur Virgílio, o boto cor-de-rosa das oposições. O sujeito faz um equilibrismo danado, mente, se locupleta e depois vem com esse ar de madalena arrependida pregar regras e bons costumes… É duro de ver…
e o Collorido em aparte ontem, disse q se abrir a boca coitado do PS….hum, tsc tsc tsc…
kkkkkkkk o Collor tava pra passar mal falando, eu ri muito….
E a cara do Simon escutando??? kkkkkkkkkkkkk
Na verdade, Gerson e Edmundo, o debate político neste país é extramamente caolho e enviesado por uma visão deturpada do próprio ethos político: o denuncismo, que invariavelmente põe à mostra a cara-de-pau de denunciantes e denunciados, a falsa ética, o falso moralismo, a hipocrisia e o jogo de cena não se apresentam apenas nos discursos inflamados dos parlamentares em nome da moral nas bancadas deste país varonil e vil consigo mesmo. Este discurso está presente nas campanhas oficiais dos TSE’s da vida, que, em períodos eleitorais, “orientam” os cidadãos a votarem em candidatos probos, com históricos inimputáveis, através de consultas à ONGs e aos próprios Tribunais Eleitorais. Logo se vê que trata-se de missão impossível, uma vez que a própria justiça (e aí inclui-se a Justiça Eleitoral) se auto-impõe limites e obstruções derivadas de um conjunto de leis arcaicas e viciadas que beneficiam espertalhões, canalhas e larápios de toda estirpe. E o que é pior, estas campanhas oficiais dos ditos Tribunais classificam o voto, ou o “voto consciente” (aquele que é precedido pela dita consulta prescrita pelos próprios Tribunais), como a instância máxima do conceito de cidadania, resumindo a mesma ao mero ato de se apertar o botãozinho verde em algum domingo do mês de outubro, inclusive ensinado como não se anular o voto ou votar em branco. Ora faça-me o favor! Como diriam os mais antigos, o buraco é mais embaixo!
Acredito que o debate político nesse país teria um grande avanço se, por exemplo, logo de início, o voto não fosse mais compulsório. Este é mais um exemplo da visão deturpada daquilo que se entende como Democracia. A ditadura do voto alimenta a lógica daquilo que é menos pior em termos políticos, e assim, temos que aturar os paladinos da moralidade, que de tão caras-de-pau nem se consideram mais como “as melhores opções” para a vida política do país (o que é corriqueiro nos slogans e discursos de campanha política), mas sim as opções menos nefastas ao próprio país.
Enquanto o debate político no Brasil for extremamente raso e a participação popular for ínfima, a mediocridade, a cafajestiçe e a dissimulção continuarão dando expediente nas assembléias e câmaras país afora.
Abraços!
É verdade, Daniel. As instâncias ditas democráticas estão todas comprometidas. Todos têm seus interesses específicos e se fecham em torno deles. Os embates deixam de ser em torno de ideias, mas de vantagens pessoais. O voto obrigatório contribui bastante para essa situação enganosa.
Como dizia a minha avó, meu caro Daniel, a democracia é a ditadura da maioria….rs..1 abraço do Edmundo Neves,
O CONGRESSO BRASILEIRO está Morto!!!
Ou Melhor, O SENADO está como Michael Jackson: Já morreu, mas nionguém quer enterrar!
Aqui pra nós, é realmente necessário termos um senado? Porque não apenas a Câmara?
Minha Opinião: Pobre Pindorama!!
Também nunca vi utilidade no Senado, principalmente quando ele tem as características do nosso. É só mordomia e conchavo.
Assistimos a uma verdadeira derrogada da democracia, os embates no senado apenas demonstram o “rabo preso” que a maioria dos representantes da sociedade brasileira possuem um com o outro.
Enquanto os senadores duelam arduamente, contra ou a favor de Sarney, nós o povo, sofremos com as mazelas da democracia. Fato é que me revoltei ao descobrir que um parlamentar brasileiro custa R$ 10,2 MILHÕES, valor este que daria pára contratar 388 professores comnivel superior.
Ora, pagamos as regalias aos parlamentares em troca disso assistimos a debates de defesa deste ou daquele senador, francamente vivemos em uma politica fracassada, e o pior de tudo é que somos os verdadeiros culpados.
Por fim gostaria de lançar a campanha troque um parlamentar por 388 professore, só assim conseguiremos viver em uma DEMOCRACIA!!!