Em abril de 1954, fui levado à sala do andar térreo do palácio do Catete, onde Getúlio Vargas me esperava. Lourival Fontes, que era então chefe da Casa Civil da Presidência, me conseguiu a entrevista, mas foi Lurdes Lessa, sua secretária, quem me levou ao presidente. Recordo ainda com clareza as palavras ditas por ela quando me apresentou a Getúlio:
– Aqui está o homem, presidente.
Era a primeira vez que eu via Vargas assim tão de perto. “Como ele é pequeno”, pensei, enquanto estirava a mão ao encontro da que ele me estendia – uma mão delicada, quase feminina, de unhas bem tratadas.
– Muito prazer em conhecê-lo, doutor Silveira. Não o imaginava tão moço.
E o meio sorriso abria-se na fisionomia tão minha conhecida, mostrando um pouco dos dentes muito brancos.
(Trecho de A Feijoada que Derrubou o Governo, ed. Companhia das Letras. Reunião de alguns dos mais afiados textos políticos de Joel Silveira, um dos craques da reportagem nacional em todos tempos)