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Tribuna do torcedor

Por Francisco Guzzo Junior

Acredito que um time de futebol tenha uma personalidade própria, que o individualiza dos demais clubes. Isto talvez seja um absurdo do ponto de vista da lógica e da racionalidade, porém o futebol é uma das coisas que há entre o céu e a terra, que não são explicadas pela nossa vã filosofia. Dentro deste contexto, observo que a escolha do time de coração é absolutamente por afinidade com esta personalidade adquirida pela agremiação, ensejando na maioria dos integrantes de sua torcida um inconsciente coletivo próprio, o que os leva a ações características e pensamentos análogos.

Defendo esta tese como sendo a única possibilidade de explicar o fato sobrenatural ocorrido ontem na Curuzu. Inicialmente pergunto: em que time o Zé Augusto jogaria por treze anos, sendo que em 80% deste tempo ele foi reserva, exceto sob o comando do Givanildo? Neste período a história foi sempre a mesma. Quando aquecia para entrar, ouvia-se por todo o estádio: – Pô, lá vem o doido! Ele entrava em campo nos minutos finais, e à medida que corria, esforçava-se, comia grama e acreditava em todas as bolas…

Também fazia um rosário de burrices, grossuras, vexames e principalmente inúmeros gols perdidos. Na maioria absoluta dos times de futebol ele teria sido execrado, no Paissandu aconteceu o contrário, cada vez mais a torcida reconhecia o seu esforço, o seu amor pela camisa, não importava que o resultado era francamente deficitário. Freqüento campo de futebol acompanhado o Papão desde 1972, é incrível como a história se repete, jogadores de técnica muito duvidosa, porém demonstrando um amor incomum pelas cores alvicelestes: Tuíca, Nilson Diabo, Cabinho, Mendonça (Nego Bala), percorreram o mesmo filme ora vivido pelo Zé.

O que quero defender prende-se ao seguinte fato: hoje há inúmeras razões para a unanimidade do Zé Augusto, sem dúvida os gols decisivos marcados nos últimos tempos, já o transformaram no maior ícone desta galeria de heróis, porém, é bom que se ressalte, que isto só foi possível graças à tolerância extrema da torcida que o aplaudia desde a época das terríveis jornadas de canela, este é o fato espetacular, a admiração da torcida pelo jogador é anterior aos seus feitos fantásticos, esta é a característica ímpar da torcida bicolor, se não fosse assim, nada teria de extraordinário, seríamos iguais a todas as outras.

Finalizo com uma constatação sensacional: São poucas torcidas no mundo que possuem a grandeza de saber homenagear tanto os seus ídolos craques (Robgol, Vandick, Mirandinha, Cacaio, Chico Spina, Velber, Iarley, Bené, Quarentinha etc.) quanto os seus ídolos de raça.

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