Desta vez ninguém pode falar que foi apenas sorte. Houve superação, vontade de vencer e capacidade de decisão. Um time de verdade se revela em momentos difíceis. E o time americano impôs muitas dificuldades à Seleção Brasileira. Muito bem treinado, cumprindo rigidamente o posicionamento programado, a equipe ianque foi superior no primeiro tempo, criando chances e caprichando na objetividade.
Os dois gols de vantagem por pouco não se transformaram em três ou quatro, pelas oportunidades criadas em contragolpes mortíferos. Quando veio o segundo tempo, imaginava-se que Dunga ia fazer alguma coisa. Fez. Mas sem mexer no time.
A mudança, como se veria a seguir, foi de postura e de atitude emocional. Nos vestiários, o capitão do tetra deve ter dito aos jogadores que o Brasil é muito maior (no futebol) que os EUA, que não se admite levar dois gols e aceitar o domínio psicológico de uma equipe apenas razoável. O recado parece ter sido muito bem assimilado.
Jogadores que estavam desligados repentinamente apareceram. Deslocando-se, tomando iniciativa, criando situações. Casos visíveis de Kaká, Robinho e Luís Fabiano. Outros, que até lutavam sem produzir, como Maicon, ficaram mais precisos. Tudo isso em menos de um minuto, tempo que levou até o Brasil construir o lance do primeiro gol, finalizado em arremate surpreendente de Luís Fabiano.
Para quem passou 45 minutos correndo sem chegar e chutando longe ou torto, o gol logo de cara caiu do céu e foi fundamental para a virada. Primeiro, porque restituiu a confiança aos brasileiros. Segundo, porque desnorteou os americanos, até então seguros na ocupação de espaços.
Daí ao segundo gol foi um passo e Kaká encarregou-se de achar o atalho, atuando como autêntico ponteiro e cruzando na medida para o interior da área, onde Luís Fabiano arrematou. Antes, o mesmo Kaká já havia feito um gol de cabeça que o árbitro não validou. Instantes depois, Lúcio, em jogada ensaiada, escorou escanteio e decidiu a parada.
Falando assim parece que foi fácil. Na verdade, foi um sufoco e o mérito de Dunga está na maturidade exibida pelo time diante de situação adversa. Não deu para observar alterações de ordem tática. É fato, porém, que o Brasil do segundo tempo tinha outra disposição. E um time que reúne craques e bons jogadores torna-se quase invencível quando está determinado a vencer.
Ficou no ar, a partir das dificuldades impostas pelos americanos, a dúvida quanto ao desempenho desta Seleção na Copa que realmente vale, daqui a um ano. Afinal, o temor de repetição do fiasco de 2006 ainda está vivo na memória de todos. De positivo, desta vez, há o fato de que muitos jogadores da Copa passada estão no time e sabem exatamente a diferença entre oba-oba e futebol de verdade.
Dunga, que não é um gênio da estratégia, compensa bem essa deficiência usando liderança e poder motivacional sobre seus comandados. Deu certo até agora. Tomara que continue assim pelo menos até julho de 2010.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 29)