Times grandes precisam se comportar como tal, seja qual for o adversário. Mais ainda contra equipes emergentes de menor tradição. Não se trata de soberba. É questão de respeito. O Paissandu, ontem, diante do S. Raimundo, agiu como um dos grandes de Belém, não permitindo a menor chance ao surpreendente esquadrão de Valter Lima.
Foi a segunda vez que o Paissandu tomou essa atitude, de forma clara e insofismável, neste campeonato. No primeiro turno, despachou o Castanhal com um 6 a 4 igualmente categórico, depois de um começo arrasador. Na ocasião, o deslize ficou por conta de certa acomodação no segundo tempo. A lição parece ter sido aprendida.
O Paissandu fez 4 a 0 no primeiro tempo, jogando de forma arrasadora, com ataques em profusão, exploração do jogo pelas pontas e chutes de média e longa distância. Acima de tudo, Edson Gaúcho acertou ao posicionar seu meio-campo de maneira adiantada, marcando o S. Raimundo em seu próprio campo.
Na segunda etapa, temendo a natural queda de produção do time, deu chance aos garotos Alax e Tetê, que se encarregaram de manter a pegada ofensiva. Gaúcho foi o primeiro a experimentar essa tática ousada contra Valter Lima. Deu certo. Acuado na defesa, o time santareno vacilou justamente no que tinha de mais precioso: o acerto nos passes.
Em função da pressão bicolor, os armadores (principalmente Michel) tiveram que ficar próximos demais aos volantes e zagueiros. Tanta concentração de jogadores não ajudava. Pelo contrário: criou um tumulto à entrada da área e facilitou a chegada do Paissandu. E haja passe errado. Talvez tenha sido o jogo com pior aproveitamento de passes pelo S. Raimundo em toda a competição.
Basta observar os gols do Paissandu no primeiro tempo. Nasceram de jogadas iniciadas e perdidas pelo S. Raimundo em sua área de defesa. Curiosamente, todos os lances mostram uma grande quantidade de defensores. O problema é que estavam dispersos, sem saber a quem marcar e sempre deixando alguém livre.
Quando se ressalta o nó tático de Edson Gaúcho é importante não esquecer a bela atuação coletiva do Paissandu. Quase todos os setores estiveram impecáveis, com os jogadores rendendo acima do esperado para uma equipe que havia parado por 20 dias. Individualmente, os melhores foram Zeziel, Dadá e Aldivan, mas os demais também renderam satisfatoriamente numa exibição de gala para a pequena torcida presente.
Não por acaso, ao analisar o baile de que foi vítima, Valter Lima admitiu que o Paissandu atuou como campeão e o S. Raimundo limitou-se ao papel de figurante. Perfeita definição. O título está em boas mãos.
Desta vez, Emerson não fez gol e o Flamengo mereceu plenamente a conquista. Ao contrário de 2007 e 2008, quando a arbitragem pesou, desta vez a bola rolou sem interferências. O Botafogo teve até pênalti a favor (o que é sempre um acontecimento), mas perdeu, com Victor Simões. Depois da empolgante reação, empatou (podia ter virado) e levou a decisão para os penais. E aí deu Cuca, com justiça. Futebol é técnica, equilíbrio e sorte.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO, nesta segunda-feira, 04/05)
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